Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

 

Achado não é roubado

 

           

        O caminho da fazenda até à cidade era íngreme. Estradas esburacadas onde o meio de transporte era o cavalo, tanto para os donos da terra como para as pessoas de poucas posses. Gastava-se muitas horas até chegar ao destino e algumas paradas eram obrigatórias.
          Numa manhã de calor intenso, o fazendeiro Josias recheou sua carteira de bolso com muitas cédulas de alto valor. O dinheiro vivo da colheita de grãos precisava de um destino. Uma pequena parte seria para roupas novas, agrado para a família, e o restante iria para a segurança de um Banco.
          Depois de cavalgar algumas horas, Josias parou para matar a sede sua e do animal. Da pequena bica de água cristalina, de difícil acesso, saía um pequeno filete de água. O homem tirou o chapéu, o lenço que lhe ia ao pescoço e a carteira de bolso, para evitar que caíssem na água. Colocou os pertences sobre o barranco, tomou da água pura e apressadamente se preparou para seguir o caminho. Num descuido imperdoável não percebeu que a carteira caiu ao ser recolocada no bolso, deixando assim, para trás, sua pequena fortuna.
         Poucos minutos depois de Josias vinha Antenor, pobre sujeito que morava nos arredores com a esposa. Parou também para se refrescar na bica. Antes mesmo que tomasse a água pura, avistou a carteira caída a seus pés. Pegou-a sentindo-se perturbado ao segurar as notas, pois jamais vira e muito menos segurara tanto dinheiro.
          Olhou para aos lados. Não avistando ninguém, colocou a carteira no saco que carregava às costas. Pensou matreiro: achado não é roubado. Montou no cavalo e galopando voltou para casa.
          -Ana, arrume tudo. Roupas e alimentos. Vamos embora já!
          -Como? Retrucou a mulher.
          -Estamos ricos! Veja o que encontrei. Falou eufórico, mostrando a carteira.
          A mulher quis questionar, mas Jonas a instigava a ser ligeira. Fecharam a porta da casa para nunca mais voltar. Seguiram de Minas Gerais para Goiás. O estado prometia terra barata para ser desbravada.
          Antenor soube conduzir a pequena fortuna. Comprou terras, ganhou ainda mais dinheiro e, em pouco tempo, se viu rico.
         O tempo passou... Certo dia, estando a negociar no centro da cidade, foi abordado por um desconhecido que lhe disse:
          -Ouvi você falando que veio de Minas Gerais. Eu também sou mineiro. Cheguei de lá há poucos meses. Vim tentar a vida aqui em Goiás.
          Conversa vai e vem, o desconhecido conta sua história a Antenor:
          -Eu já fui rico. A vida me pregou uma peça. Certa feita, parando num riacho, lá em Minas, para me refrescar, perdi uma pequena fortuna, deixando, sem perceber minha carteira cair. Não consegui recuperá-la. Alguém a encontrou.
          E agora Antenor?
          Atônito pensou: isso não pode ser coincidência. Sensato exclamou:
          -Então você é o dono da carteira! Fui eu que a encontrei. Com seu dinheiro, fiz minha fortuna.
          Mas tanto tempo se passara... O senhor Jonas ficou sem saber como agir e mudo seguiu o seu caminho.
          Antenor tratou de não perder de vista o senhor Jonas.
          Depois de alguns dias foi visitá-lo tendo nas mãos a escritura de uma de suas fazendas. Foi logo dizendo:
          -Tome, estas terras são suas por direito. Estou a devolver o que há muitos anos, sem saber, você me emprestou para que nossas vidas se cruzassem.
          Caso de mineiro honesto, uai!

 

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017