José Luiz da Luz
Ponta Grossa / PR

 

 

O ancião e o ouriço

 

           

      
          Alguns viajantes seguiam a cavalo por uma estrada do antigo sertão do Avencal, ao passar por um riacho ouviram uns uivos e gritos. Desceram e se depararam com um ancião tentando retirar com as próprias mãos um ouriço da boca do seu cão. Quanto mais puxava o animalzinho, mais suas mãos se feriam embora não expressasse nenhuma dor, até que o cão com o focinho cheio de espinhos soltou.  Os viajantes que presenciaram o fato ficaram indignados com a atitude do ancião pensando: “só pode estar louco pegando num bicho desses com as mãos, uma boa paulada na cabeça seria a melhor solução”.
          - Senhor - chamou um dos viajantes, - suas mãos devem estar doendo demais! Por que se sacrificar tanto para salvar esse bicho desprezível? Se fosse comigo lhe cobriria de pauladas. Esse bicho é ingrato, o senhor está ajudando e ele age como os romanos enfiando a coroa de espinhos em Jesus. E seu cão, será que merece tanta dor assim?
          O ancião primeiro ouviu tudo, depois expressando uma misteriosa paz falou:
          - Se eu pegasse um pedaço de pau enfureceria ainda mais o meu cão, o sofrimento seria muito maior para todos nós, além disso, os dois animais poderiam até morrer, e meu coração sofreria de tristeza.
          - Mas o ouriço foi ingrato, o senhor estava tentando salvá-lo e mesmo assim fincou seus espinhos na sua carne. Ele merecia morrer.
          O ancião respondeu:
          - Ele agiu de acordo com a sua evolução, e eu de acordo com a minha. 
          Depois o ancião lavou as mãos e o cão no riacho, esfregou algumas ervas misteriosas e os espinhos caíram todos como por encanto. Os viajantes ficaram estupefatos espalhando a notícia que encontraram um santo.

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017