Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

E agora, ilustre inativo?

 

           

Depois de anos e anos de trabalho, de esforço concentrado para que haja eficácia no desempenho, deparamo-nos com o fim de carreira.
Ousamos dizer como São Paulo: “Combati o bom combate, terminei minha carreira. Guardei a fé. Só falta receber os louros da vitória.”
E agora, devidamente lacrado o término, começam os questionamentos, as dúvidas e incertezas do amanhã.
E agora, Doutor? E agora, Professor? E agora, comerciante? E agora, profissionais da segurança, da saúde, da limpeza?
São tantos os aposentados que se deparam com um benefício mínimo, que continuam fazendo “bicos”, para completarem a renda e conseguirem uma vida melhor.
E quando o benefício atrasa ou pagam em pequenas e inúmeras parcelas?
E agora, senhor aposentado? Vai ficar em seus aposentos ou vai sair por aí, viajando “de graça” com o motorista irritado, porque você resolveu usufruir dos seus direitos da terceira idade?
Será que valeu a pena ver a passagem dos anos e a esperança de poder dormir até mais tarde, “pegar” um cineminha, “jogar conversa fora” com os amigos, cochilar no sofá ou caminhar para não perder a forma?
Que cenário tão inesperado, até mesmo inusitado, descortinou-se para o servidor aposentado?
É possível construir um cenário mais prazeroso?
Como aquele que todo trabalhador idealizou para sua existência pacata de inativo?
Que tragédia é essa, que de tão trágica virou uma comédia?
Quem está em final de carreira quer perpetuar o seu lugar de servidor ativo, pois aposentadoria virou sinônimo de castigo, de tortura física e psicológica.
E agora, ilustre cidadão, ilustre cidadã? “E agora, José?”
Dirijo-me agora a um cidadão brasileiro, questionador, inesquecível e imortal:
- Não é certo que no “meio do caminho havia uma pedra”, querido poeta; a pedra parece estar no final do caminho.

 

 
 
Poema publicado no livro "E agora, Bob?"- Edição Especial - Maio de 2017