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ENTREVISTAS
Entrevistas exclusivas com autores renomados, publicados nas antologias da CBJE nesses 21 anos de existência. Conheça suas histórias, suas obras e veja seus depoimentos.


Washington Santos Alves (Tom Alves)

Quem sou eu
Eu sou Washington ou Tom ou Was ou Vaxinton ou W ou muitos outros nomes, até mesmo Ricardo! Acho que meus amigos gostam de dar o seu toque pessoal ao meu nome complicado. Sou nascido e criado e resido em Salvador, desde sempre, mas sempre desejando correr o mundo. Porém, antes que o tempo acabe eu ainda farei isso. Por dificuldade e indecisão de escolher a profissão que eu queria seguir (Dentista? Engenheiro? Físico?...) terminei caindo na informática. Formei-me em Processamento de Dados, pela UFBA, e até hoje sou Analista de Sistemas.
Apesar de viver “no mundo das máquinas”, e a despeito da minha excessiva timidez, sempre fui muito interessado em gente. Sempre interessaram-me as necessidades das pessoas, os problemas que queriam resolver, os desafios que buscavam transpor, e no que eu poderia ajuda-las com o meu trabalho.

Como tudo começou
A poesia surgiu para mim muito antes disso, na adolescência, por conta daquela timidez. Escrever foi o refúgio que encontrei para ter com quem “falar”, e, assim, lápis e papel tornaram-se amigos quase inseparáveis. Não acho que eu tenha o dom. Como disse, os poemas entraram em minha vida como uma necessidade, como algo que eu devesse tomar, sorver, alimentar-me, respirar, como se eu precisasse para viver. Com eles criei o meu mundo, e nele vivi e vivo, misturando-o com o “próprio mundo”, numa simbiose de realidades e fantasias. É arte? Acho que sim, pois para mim toda forma de expressão é uma arte. Até, simplesmente, falar é uma forma de arte. Se eu faço gerar no outro algum sentimento, alguma emoção com o que eu expresso, para mim isto é arte. E estes sentimentos e emoções não precisam ser os meus, o que eu senti quando escrevi, quando pintei, quando esculpi etc. Basta que tenham tocado o outro em algum lugar e o faça pensar e pensar-se.
Eu não era muito interessado em poesias antes de começar a rabiscar as minhas, por isso não tenho tendência a seguir nenhuma escola e nenhum formato rígido de composição poética (sonetos, haikai, trovas, etc). Procuro escrever da forma mais livre possível, de acordo com o que estou sentindo. É o momento em que experimento a maior liberdade. Escrevo, de modo geral, sem muita rima, pois acho que fica meio cansativo. Uma ou outra aplicada em alguns pontos podem dar uma “pitada” interessante ao texto. Sem palavras rebuscadas, difícieis, encontradas só em dicionário. Eu quero entender o que eu escrevo. Escrevo, antes de mais nada, para mim. Sou prático e simples.

Uma grande viagem
Busco registrar quase tudo o que vivo: sentimentos, emoções, sensações, fatos... É quase como um diário, sem o compromisso de sê-lo mas com o prazer de assim o ser. Continua sendo a forma de me pôr para fora e de guardar o que de mais importante me acontece, além disso inclui sonhos, muitos sonhos e fantasias, que, afinal, fazem parte do que vivo. Sempre que os releio, relembro, revivo e repenso uma parte vital da minha trajetória. É uma grande viagem... E acho que seja assim para todos que escrevem. Escrever é uma viagem que cada um empreende, solitário ou não, com compromisso com a realidade ou não, preso ou não a formalismos da arte de escrever, com objetivos traçados ou não. Assim deve ser e assim deve ser respeitado por cada um que tem acesso a essas obras, pois cada uma delas nos faz empreender as nossas próprias viagens.

Meus preferidos
E é muito gratificante fazer viagens com as asas da imaginação de diversos poetas e escritores. Aprecio as viagens na companhia de Cora Coralina, ela é simplesmente genial. É maravilhosa a companhia de Vinicius. Quem melhor nos faz viajar no amor? E o que dizer de Drummond? Doce e irônico numa suave mistura agridoce. Gosto muito de um poeta baiano, Damário da Cruz. Procurem conhecê-lo. Sensacional. Poderia citar alguns outros, mas, dentre todos eles, o que mais me impressiona, com quem faço as mais fascinantes viagens, é Fernando Pessoa. Ler Alberto Caeiro e Bernardo Soares, por exemplo, é uma experiência inesquecível. É ser cutucado de cima a baixo, em todos os sentidos e direções. Ninguém sai incólume depois disso. Mas, no fundo, importante é termos disposição, abertura, nos permitir ler tudo o que puder cair em nossas mãos. Daí para os nossos olhos, a cabeça, o coração, de volta às nossas mãos, daí para outras mãos, outros olhos, cabeça, coração...num ciclo interminável. Palavra gerando palavra...

A CBJE
Além das viagens, a leitura de outras obras enriquece a obra de quem escreve. Tomar conhecimento de outras escritas, de outros pensares, outros mundos, nos mostra que não estamos sós nessa estrada, existe companhia no caminho, alguns à frente, outros dando os seus primeiros passos. Neste particular, saber da existência da CBJE, entrar em contato com os poetas dessa bela comunidade, enriqueceu a minha escrita, pois tornei-me mais exigente para comigo mesmo, vi que tem muita gente escrevendo bonito, forte, com toque especial, com muita qualidade. E também ter sido muito bem recebido pelas pessoas que lá trabalham e dão a sua bela contribuição à arte e à cultura brasileiras. Além disso, foi através das primeiras antologias das quais participei que comecei a quebrar a resistência em mostrar os meus textos. Ainda tenho um longo caminho pela frente, ainda tem muita timidez existindo, insistindo, resistindo...

Algumas palavras para quem está começando
Apesar desse longo caminho, não tenho nenhuma preocupação em alcançar sucesso, fama, reconhecimento, dinheiro. Essa ainda não é a minha estrada, e talvez nunca venha a ser. Só quero continuar a escrever, fazer registros. E para não deixar de fazer os mais importantes, importante é não perder nehum pensamento, nenhuma idéia, nenhuma frase, nenhum desejo, nenhuma emoção... Ter sempre por perto papel e lápis, ou fazer uso do que estiver ao alcance, até mesmo ficar repetindo e repetindo para decorar, esperando o momento para escrever escrever...
Eu gosto de escrever palavras
pois
com elas eu conto mentiras
invento verdades
conto verdades
e invento mentiras
Na verdade
eu não escrevo palavras
eu escrevo o silêncio...


Contato:wsalves_tom@yahoo.com.br



Tom Alves lançou pela CBJE, em agosto de 2008, o seu primeiro livro: "Breve Pulsar"