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ENTREVISTAS
Entrevistas exclusivas com autores renomados, publicados nas antologias da CBJE nesses 21 anos de existência. Conheça suas histórias, suas obras e veja seus depoimentos.


Tasso Rossi

Eu, por mim mesmo
Nasci em Anápolis, Goiás, em 1958, e moro em Porto Velho, Rondônia, desde 1983.
Quem sou?... Apenas um dos tantos passageiros da classe econômica desta nave mãe Terra, que gosta de viajar junto às janelas do dia e da noite para contemplar a paisagem. Quando menino eu sonhava em abarcar o mundo com as mãos, para fazer com que ele pudesse vir a caber por inteiro nos meus sonhos possíveis de criança. O tempo passou com a velocidade da vontade de crescer e de fazer acontecer, e o adulto, ao tomar o lugar do menino, percebeu que não seria assim tão simples realizar tal tarefa...
Sou engenheiro civil, graduado pela Universidade de Brasília em 1980, trabalho há quase trinta anos no setor de energia elétrica, na área de construção de usinas e sistemas de transmissão associados.
Digamos, então, que ganho a vida com os números e me divirto com as letras...

Meu interesse pela literatura
Meu pai, juiz de direito, tinha o hábito da leitura, de publicações relacionadas à sua profissão a jornais, revistas e livros de ficção e não-ficção. Infelizmente, ele morreu muito cedo, quando eu acabara de completar dezesseis anos de vida, mas deixou comigo a semente do interesse pelas letras, ainda que de início eu tenha optado pelos números. Um dos primeiros livros que li, presente marcante de meu pai sempre presente, foi O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway. De sua velha estante - que não existe mais -, alguns títulos seguem vivos na memória: O Arquipélago, de Érico Veríssimo; Chapadão do Bugre, de Mário Palmério; Cascalho, de Herberto Sales; Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márques; Entre os Monges do Tibete, de Lobsang Rampa, e, do mesmo autor, A Terceira Visão; dentre tantos outros. Já o interesse pela poesia é bem recente, coisa de três anos atrás. Começou como uma forma de exercício para a memória, que não andava lá muito boa. Foi nessa época que travei conhecimento com a poesia minimalista - do tipo poetrix e haicai - com a qual logo me identifiquei, motivado principalmente pelo desafio de tentar dizer o máximo com o mínimo. Gosto também dos sonetos, da prosa poética e dos contos.

A tradução do sentir
Acredito que escrever não seja propriamente um dom. A meu ver, estaria mais relacionado a uma necessidade maior de traduzir, em palavras, nossos sentimentos e percepções. Entendo que a receita da boa escrita deve conter fartas doses de inspiração, como também generosas porções de transpiração. No entanto, alguns parecem ter mais facilidade que outros na arte da escrita, e se isso for entendido como sendo um dom, neste caso escrever é um dom.
Nessa via, defino arte como sendo a tradução do sentir e do perceber, por meio das palavras escritas ou faladas, da música, da pintura, da arquitetura, ou da expressão corporal em suas mais variadas formas.

Relação vida/obra
Parte do que escrevo é parte de mim, da minha história de vida, das minhas aspirações; parte, não. Gosto de falar dos sentimentos, por vezes tão difíceis de traduzir. Como gosto também de observar à minha volta, atento a este mundo que nos acolhe e transforma, e de falar do que é bom e também do que não é. Para temperar esse caldo, metáforas a gosto, sempre que possível.
Gosto de falar da realidade, como também dos sonhos - dos possíveis e dos inatingíveis. Suponho que o mundo real seria intragável não fosse o tempero da ficção, da fantasia, da imaginação. Penso que há autores que se apegam mais à realidade; outros, à ficção. E tanto uns como outros são igualmente importantes nesse vasto universo das letras, como fossem os pratos de uma balança em (des)equilíbrio.
Para mim, o termo "compromisso" é alienígena quando se trata de escrever. Aliás, eu diria que compromisso e arte não combinam. A arte deve simplesmente fluir, naturalmente, ao sabor dos sentimentos, sem data para começar e sem prazo para terminar. Quando vira compromisso, deixa de ser arte. Aconteceu comigo, na pintura artística: eu tinha apenas treze anos quando comecei a fazer aulas de desenho e pintura (antes disso eu já desenhava e pintava, só não bordava...). Em pouco tempo, me dei conta de que não dá pra pintar religiosamente às segundas, quartas e sextas, das 16 às 18 horas, por exemplo. Inspiração não tem hora marcada para dar as caras, para se manifestar. Deu no que deu: lá pelos quinze anos de idade abandonei as aulas de pintura, e acabei me entendendo com os números...

Escritores preferidos
Que meu pai, de onde estiver agora, não me ouça, mas devo confessar que não fiz direito a lição de casa passada por ele: li muito menos do que devia, principalmente em sendo ele a referência. Eu diria que iniciei a leitura de muitos livros e cheguei ao final de uns poucos apenas. Dentre os autores conhecidos do grande público, destaco Cecília Meireles, Carlos Drummond de Andrade, Cora Coralina, Jorge Amado, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Pablo Neruda. Não tão conhecidas, mas de muito talento, menciono as escritoras cariocas Lílian Maial e Helena Sut, e a artista mineira-capixaba Andra Valladares, esta com várias publicações na CBJE.
Para deixar registrado, cito apenas um livro, aquele com o qual fui presenteado por meu pai há quase quarenta anos, e que considero ter sido o que me despertou para a leitura: O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway.
Mas de tudo o que li até hoje, a maior e melhor impressão que ficou registrada para sempre em mim foi quando minha filha escreveu pela primeira vez: "Papai, eu te amo!". Foi demais!...

A CBJE
Fui apresentado à CBJE por Andra Valladares, e considero seu papel muito importante na descoberta e na motivação para o crescimento de novos talentos na arte de escrever. No meu caso, em particular, essa interação com a CBJE tem sido muito positiva. Tanto, que já estou trabalhando no projeto do meu primeiro livro, que pretendo publicar em breve, pela CBJE.

Um conselho para os jovens escritores...
Ler, escrever, ler, escrever, ler, escrever... Inspiração, transpiração, inspiração, transpiração, inspiração, transpiração... E muita atenção e carinho para com a nossa querida, porém maltratada, língua pátria.

Finalizando, quero compartilhar com vocês meu poetrix "vi(s)agem", pensando, aqui, na escrita, na poesia, no que esse universo mágico pode significar na vida de cada um de nós: uma visagem, uma viagem, ou ambos...
meu olhar, estiagem,
viu em você, miragem,
mar no deserto, oásis!

Contato:t.s.rossi@uol.com.br
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/tsrossi