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ENTREVISTAS
Entrevistas exclusivas com autores renomados, publicados nas antologias da CBJE nesses 22 anos de existência. Conheça suas histórias, suas obras e veja seus depoimentos.


Ricardo Steil

Um pouco de você
Nasci no município de Itajaí, Estado de Santa Catarina em 2 de julho de 1978. Filho de Sônia Maria Steil e Valdemar Steil. Resido no bairro Dom Bosco — desde minha infância. Cursei o ensino básico e médio na Escola Básica Professora Maria Dutra Gomes – entre os anos de 85 a 92. Escola estadual, do qual, trago saudosas recordações e gratidão, principalmente para com os professores que nesta lecionaram. Mestres que instigavam a desenvolver nossos talentos — seja na literatura, música, política — e, a sermos cidadãos de boa índole. Hoje, passados tantos anos, vejo que, mais do um sistema governamental — direita, esquerda —, o que construíra uma nação sólida, menos desigual, voltada para o futuro, é a presença de bons profissionais na área educacional, que transmitam além dos seus conhecimentos nas matérias específicas, exemplos de cidadania, valores morais, que procurem fazer o aluno questionar, discutir, ver além das manchetes expostas nos noticiários. Obviamente, tivemos uma infância normal como qualquer criança, éramos traquinas, teimosos, viciados em televisão — apesar de termos apenas três canais —, música — cresci ouvindo punk rock, batendo cabeça na parede ao som do Black Álbum do Metallica e, como qualquer garoto da minha geração adoraria ter criado o riff de Sweet Child O’ Mine — mas, graças aos nossos professores, questionávamos sobre economia, ecologia, discutíamos política — houve inclusive um grande debate em nosso meio, incluindo votação, para ver qual seria o regime político que melhor serviria ao nosso país. Por incrível que pareça, tínhamos entre onze e doze anos —, aprendemos técnicas de desenho e sua utilidade nas aulas de Educação Artística — estudamos Shakespeare —, e éramos tão curiosos que, um grande amigo meu chamado Itamar da Silva e eu, dedicávamos-nos a aprender alemão nas horas vagas — vale ressaltar que nossas famílias sempre foram de classe média baixa —, além de responsáveis sermos por um jornal opositor ao jornal da escola. Foram meus professores, os primeiros a analisar meu trabalho como escritor, a discutirem comigo sobre técnicas, o que era importante conhecer. Depois, conclui o ensino fundamental no Colégio Victor Meirelles. Trabalhei muitos anos na área administrativa, sou músico/compositor — junto com meu irmão Luiz Carlos (hoje bacharelado em contabilidade) formamos a primeira banda católica da cidade que utilizava guitarras distorcidas, microfonias e experimentações em seus arranjos. Foram ótimos cinco anos. A banda se chamava Shadows. Gosto de lembrar sempre que, a religiosidade faz tanta parte de mim quanto à literatura. Trabalhei durante vários anos na área administrativa. Hoje, sou desenhista autocadista de projetos elétricos— profissão adorável, no qual, pretendo a vir me aposentar — de uma conceituada empresa do ramo a EME EFE Electric.

O interesse pela poesia/literatura?
Lá pelos seis, sete anos realmente, quando comecei a aprender a ler com o auxílio da professora Márcia Regina de Andrade. Deus, recordo bem como foi incrível aprender as primeiras palavras — queria ler tudo o que estivesse ao alcance dos meus olhos, numa ânsia desesperada. Infelizmente, não dispúnhamos de revistas e quadrinhos em casa — estes estavam longe do nosso alcance financeiro —, mas, como toda boa família católica, tínhamos uma Bíblia — e futuramente um Dicionário Edelbra, eterno companheiro meu. Com toda a certeza, o mais completo da era pré-Houaiss. De modo que, lia e relia grandes trechos do livro sagrado, além de inserir novas palavras ao meu vocábulo. Ainda hoje, considero o Evangelho de São Lucas o livro sacro mais bem escrito de todos os tempos. É impressionante a técnica de justaposição do autor. Percebam, para cada capítulo há uma história envolvendo um homem, logo depois, uma mulher, ou vice-versa. Ele vai intercalando. Por exemplo: Maria visita Isabel, logo a seguir temos o nascimento de João Batista. A cura da sogra de São Pedro antecede a do leproso. Destaco também a inclusão do prefácio feito pelo autor, algo que viemos a ter com freqüência na literatura do século XIV início do XX. Voltando, de tanto ler a Bíblia — ao qual, me explicaram tratar-se de dezenas de livros reunidos, senti vontade de criar um livro também. Sendo que, aos oito anos de idade, parti para a criação de uma tetralogia sobre escravatura — inspirado no seriado Raízes que passava no SBT. Livro? Sejamos francos, eram micro redações. Por isso, considero mesmo meu primeiro trabalho como autor o romance infanto-juvenil que escrevi já com onze anos de idade chamado Sapo, o Detetive Particular. Relendo hoje, vejo ali o gérmen do escritor que agora sou. Um pouco ingênuo, é claro. Meus amigos ficaram entusiasmados com as primeiras quarenta folhas, escritas em dois dias. É interessante porque é um relato da época de escola. Estão lá, meus amigos com seus legítimos nomes, a descrição do bairro Dom Bosco, suas ruas, a nossa escola que ali dentro, daquele mundo de fantasia era uma universidade. E claro, muita, mas muita ação, obviamente, em vista do tema ser a Guerra Fria e a disputa das duas grandes potências — Estados Unidos e a extinta URSS —, por uma máquina do tempo que um cientista itajaiense desenvolvera (risos). Parte do sucesso do livro em si deve-se ao fato dele ter sido datilografado — tenho uma caligrafia horrível. Tem uma história engraçada sobre a confecção de Sapo, o Detetive Particular. Semanas antes de dar início ao livro, meu pai — que tinha recebido uma grana boa quando saiu da empresa que há muito trabalhava — perguntou-me: Escuta, queres uma bicicleta? E eu: Não, não, quero uma máquina de escrever. Fitou-me, sério: Pra que uma máquina de escrever? E eu pensando: Para que uma bicicleta, se nem sei pedalar? Respondi: Ora, vai me servir na escola. Mentiroso, a primeira coisa que passou pela minha cabeça era: Putz, com uma máquina de escrever — que na época chamávamos de máquina de datilografia —, vou poder redigir um livro inteiro e ele vai ficar que nem impresso (risos). Enfim, o velho me deu a máquina, e só obtive minha primeira bicicleta quando passava dos dezoito anos de idade. Mas, valeu a pena. O sucesso de Sapo fez com que eu criasse uma tetralogia sobre o mesmo personagem, que coincidiu com o surgimento da primeira biblioteca na minha querida escola. Então lia que nem um louco e, escrevia que nem um fanático. Depois, obviamente parti para outros temas — comédia, terror. Voltando, tão logo Sapo, o Detetive Particular estava concluído, corrigido e datilografado novamente, enviei para uma conceituada editora. Estava entrando na casa dos doze anos. Tinha plena certeza de que conseguiria a publicação — meus amigos então, muito mais. Não preciso dizer quão decepcionante foi abrir o envelope contendo como resposta a célebre sentença: infelizmente, seu trabalho foge aos padrões da nossa editora. Contudo, não desisti. Dezessete anos depois, eis que as portas se abrem. Uma renomada editora de São Paulo convidou-me a integrar uma antologia especial — antologia esta, lançada em comemoração aos seus vinte e cinco anos de existência — no qual participei com o fragmento do romance que venho escrevendo nos últimos seis anos intitulado Pequeno Mosaico das Neuroses do Homem Contemporâneo — fragmento este que, pode ser lido como conto autônomo. Graças a Deus, foi bem recebido por crítica e público. Em resumo: se o seu sonho vem do fundo do coração, não importa o que aconteça, vá em frente, uma hora este irá se realizar. Bem, dali em diante, não deixei mais de publicar, seja pela CBJE — do qual, tenho orgulho de ter realizado um grande sonho dos tempos de menino, que foi ver a publicação do meu primeiro conto voltado para a área infanto-juvenil —, seja publicando algum trabalho por outras editoras, participando de revistas literárias – no último mês tive a honra de sair na Revista Sopa de Siri, do qual o escritor/poeta Álvaro Castro, autor do conhecidíssimo: O Jogo da Verdade/Blefo e Bamburro é editor, que tem aberto espaço para muita gente talentosa da região —, escrevendo artigos mensais sobre cinema clássico em sites especializados ou como convidado a mostrar meu trabalho em sarais ou encontros literários realizados no Vale do Itajaí.

Você tem contos e poemas publicados, também compõe. Mas no fundo, você é escritor, poeta...
Com toda a certeza, escritor. Sempre me considerei escritor. Está em mim isso, sabe — graças à benevolência divina, porque tudo vem de Deus, todo dom procede do Pai Criador, o homem não tem talento sozinho, nada pode sozinho, sequer abrir os olhos ou respirar —, é engraçado, o dia que não escrevo nada, é um dia chato. Fico de mau-humor, mesmo. Sou escritor porque adoro criar longas estórias, desenvolver personagens, narrar acontecimentos, construir diálogos, frases de efeito, estender parágrafos, utilizar todos os sinônimos possíveis. Tenho paixão pelo idioma pátrio — o português é a língua mais rica e bela do universo, seja na parte erudita ou cotidiana. Todavia, alguns bons amigos meus — grande parte ligados à área literária —, insistem em afirmarem de pés juntos que os rabiscos ao qual faço — é assim que os defino — são poesia. Então dizem: assuma de uma vez, você é poeta! Mas, isso é a opinião deles, então no máximo, sou um rabisqueiro (risos).

Bem, sabemos que o seu primeiro contato literário veio a ser através da Bíblia...
Bíblia que ainda temos lá em casa. Uma tradução maravilhosa feita pelo Pe. Antônio Pereira de Figueiredo.

Mas, como ocorreu o contato com o mundo da poesia?
Foi no verão de 89. Na época, lia somente romances, ora o que mais um escritor poderia ler? Um amigo mostrou-me então um livro intitulado: Celacanto de Antônio Carlos Floriano e Bento Nascimento — obra raríssima nos dias de hoje e divisor de águas da literatura itajaiense.

Divisor de águas, por quê?
Porque ninguém acreditava que Itajaí pudesse dar bons frutos literários. Infelizmente, para o mundo lá fora, Itajaí era apenas a cidade que possuía um “portinho” e sofrera com as enchentes de 83 e 84, ponto final. Sequer falava-se das suas praias, do Bico do Papagaio, da hospitalidade dos cidadãos itajaienses e da bela visão que se tem do mirante do Morro da Cruz. Agora imagine, muito menos de literatura. Havia escritores e poetas por todos os lados — varais literários. Mas, era como vou dizer... tudo muito marginal, disperso. Então Floriano e Bento resolvem lançar um livro independente, saem vendendo rifas, camisetas, adesivos para conseguir grana. Lançam Celacanto e... pimba! Sucesso absoluto! Duas mil cópias vendidas, pelo que sei. Mas, deve ter sido bem mais. E dali para frente, começou a jorrar poesia e literatura impressa por todos os lados. Infelizmente, Bento foi embora alguns anos depois em um triste acidente. Resta-nos sua poesia.

Foi então que você começou a fazer seus primeiros poemas?
Não, não. Fiquei chapado ao ler Celacanto. Tem tantas coisas lindas ali. Spray, Nôemia, Flor do Sono: Não te conheço/Mais que o brilho do olhar/Quase perdido em meu sonho intimista... todos de Floriano. E os versos de Bento: Felicidade é uma coisa estranha — temos um guarda-roupa cheio, mas preferimos sair com roupas de outra estação. Mas, só de uns dois anos pra cá é que comecei a escrever alguma coisa que fugisse do padrão “linha reta”, sem pretensão de publicar nada...

Que acabou saindo publicado...
Sim, pela CBJE na antologia Os Mais Belos Poemas de Amor 2009. E devo isso ao poeta/contista José Wilmar Pereira.

Que por sinal participou de muitas antologias pela Câmara, incluindo Os Mais Belos Textos de Natal, Sensualidade em Prosa e Verso...
Exatamente. Foi assim, já havia publicado alguns contos pela CBJE, mas, jamais pensei em entrar em um concurso voltado para poesia — que como disse anteriormente, não me considero poeta. E há muito, o poeta José — que por sinal, é meu tio — vivia insistindo: manda uma poesia tua. Boa parte do tempo estou na casa dele — vamos juntos a encontros literários, saraus — e, auxilio-o na parte de correção ortográfica e digitação dos seus trabalhos — o intuito é que até o final do ano, ele tenha reunido cento e cinqüenta poemas, faça uma triagem, reduzindo a uns cem e, lance aqui pela Câmara seu primeiro livro —, mas prosseguindo. Então, quando se deu início as inscrições da antologia dos Mais Belos Poemas, ele disse: Olha sem desculpas, hoje vás mandar uma poesia tua. Resolvei atender seu pedido — realmente sem expectativas, primeiro por não me considerar poeta, segundo porque conheço o quão exigentes são os juízes aqui da CBJE. É fácil ver isso, ao analisar as antologias mensais, só entra realmente quem tem talento. Enfim, optei por enviar o poema Sei do Teu Novo Amor, que havia apresentado dois meses antes no sarau La Revolution no Píer Café. E, por incrível que pareça, recebi a notícia de que havia entrado na antologia.

E você definiria como a relação da sua vida com a sua obra?
É à parte minha que mais gosto. Quando escrevo, sou eu na essência mais pura. No âmago mesmo, sabe. É o melhor momento do meu dia: escrever. Certa vez, logo após a publicação de Daquele Amor: Capítulo Final na Antologia Contos Fantásticos Volume 18 (novembro de 2008) pela CBJE, uma leitora ao me encontrar na Biblioteca Municipal, após comentar sobre o conto, perguntou-me se acaso escrevia diários. Respondi: não se faz necessário, para conhecer a minha vida, basta ler nas entrelinhas dos meus contos, rabiscos, artigos.

Falando sobre artigos, você escreve sobre cinema clássico? E como ocorreu esse encontro do autor com o cinema?
Sempre adorei a sétima arte — desde o tempo de menino. Como a literatura, o fascínio pelo cinema cresceu comigo. Então, fui descobrindo as grandes películas de outrora — hoje com o auxílio da internet, youtube, sites especializados em vendas de DVDs, ficou muito mais fácil obter raridades....

O conhecimento a um clique de distância...
Exatamente. Então, minha paixão pelo cinema e pela tecnologia, levaram-me certo dia a conhecer o site Purviance — um belíssimo trabalho idealizado e dirigido pela poetisa/escritora/colunista/roterista Carla Marinho (que por sinal, é a ponta do que há de mais moderno no Recife em se tratando de poesia). Trocamos e-mails, conversamos por telefone. É fantástico como você cresce, aprende quando encontra pessoas como a Carla que tem amor pelo que faz. Ela passa essa paixão para você, seja falando ou escrevendo. De modo que, resolvi escrever um artigo sobre um filme maravilhoso ao qual Ava Gardner participou chamado The Killers e, enviei para a Carlinha assim, como quem não quer nada. Jamais imaginei vê-lo exposto no Purviance, então, qual foi minha surpresa quando ela me enviou um e-mail dizendo: dá uma olhadinha no site. O artigo foi bem recebido. Outros vieram, depois. Então, desde dois mil e sete temos mantido essa parceria maravilhosa que vai além do cinema e da literatura. É amizade mesmo, daquela de querer ver outro se dando bem em tudo que faz. De ficar triste quando o outro assim está, também.

A poetisa Carla Marinho hoje está à frente do Cinefilia cuidando da parte voltada para o cinema clássico...
Há alguns meses, ela tem se dedicado ao Cinefilia. Ficou ao seu encargo toda a parte voltada ao cinema clássico. Então, Carlinha como toda grande mulher, arregaçou as mangas e desenvolveu todo o site (parte gráfica, escolha de textos, temas, etc). E como trabalhamos juntos há muito, convidou-me a colaborar no Cinefilia.

Sobre seus artigos, há grande diferença comparado ao seu trabalho como romancista/contista?
Os artigos que desenvolvo tanto para o Purviance, quanto para o Cinefilia são uma extensão do romancista. Os que tiveram oportunidade de contato ter com este meu lado, sabem do que estou dizendo. Meus textos são romanceados. Sempre há uma conversa do narrador com o leitor, uma estória que conduz ao texto principal. É uma técnica que desenvolvi desde a época do jornal do colégio. Muitas vezes as pessoas precisam de um tempo para assimilar o que estão lendo. De modo que, esta conversa dá o tempo necessário para ela se entrosar com o texto.

E quais são os autores preferidos do autor?
Meu preferido, que amo de paixão mesmo e, para mim é o maior escritor de todos os tempos — apesar da grande parte da crítica não concordar — é Lima Barreto. Seja no conto, no romance. Culpam-no muito de repetição. Não vejo isso como defeito, mas sim, como qualidade. Lima conseguiu pegar um tema e reescrevê-lo inúmeras vezes de forma diferente. Isto já, o elevaria ao nível de grande escritor. É a mesma coisa que Agnes Martin fez na pintura! Só que Lima foi muito, muito além. Mostrou os fios que agem por trás de editoras e jornais — e nós que convivemos com ramo literário e jornalístico sabemos que isso ainda ocorre —, escancarou a cortina e apresentou um país desigual mesmo. Na sua obra o pobre passa um trabalho danado, vive um inferno dantesco em vida sem perspectivas de melhora, o negro é discriminado, o músico é visto como um vagabundo, a mulher não tem lugar na sociedade — atacam sempre a galeria feminina que Barreto criou, dizendo-a ser fraca, desigual. Pelo contrário, considero-a a mais bem construída e humana que já existiu na nossa literatura. Essas mulheres não vivem um conto faz de conta ou são personagens que sirvam como meio de disputa para os protagonistas. São criaturas sofríveis, marginais da sociedade, sequer são belas ou tem “olhos de ressaca”, causam crises de ciúme. Que nada, elas são parias da sociedade. Sendo assim, ao desenvolvê-las pensou: se essas mulheres são mero nada para o mundo, como vou transportar a verdade delas para o romance? Foi o que fez, minimizou-as: não tem expressão física, nada que as destaque a não ser a desgraça de nascer do sexo oposto em meio a um mundo machista. No mais, Lima nunca teve papas na língua. Foi atuante junto à impressa. Teve uma vida trágica — lutou contra todas as pedras que lhe foram colocadas no caminho e, como todo herói de verdade, veio a ser perseguido, desvalorizado — e ainda é nos dias de hoje, pois não veio a ser reconhecido como merece realmente ser. Além de ter-nos presenteado pouco antes de partir com um romance incompleto que deixaria Dostoievski — seu grande ídolo — orgulhoso, chamado: Cemitério dos Vivos. Alvarez de Azevedo é outro grande escritor que leio e releio. Gosto do Bosco Brasil, Lopes dos Santos — autor de Na Mira do Vampiro — Marcos Rey, Pedro Bandeira (todos infanto-juvenis). Dos internacionais: Émile Zola — que escreveu Germinal, obrigatório para todo aquele que quer aprender a criar diálogos, personagens e uma estória consistente. Leio James Joyce volte meia, Hemingway, Henry James, Thomas Mann — o cara do qual meu estilo mais se aproxima, sem dúvidas — Fitzgerald — outro cara que me espelho muito, muito mesmo —, Tóltoi, Balzac, Eça de Queirós, Flaubert...é grande a lista. Leio muito Freud. Os trabalhos de Freud são adoráveis. Quanto aos poetas: Augusto dos Anjos — o mestre dos mestres, o nosso Ian Curtis —, Cassimiro de Abreu. Além claro dos meus conterrâneos, dos quais posso citar: Nillson Weber — o mais intelectual de todos os poetas que conheci. Uma hora conversando com ele, vale por um milhão de livros lidos. Um cara fora do normal, um poeta fantástico e, uma pessoa humilde, simples mesmo. Dedica-se com afinco a promover a cultura em Itajaí — seja reunindo autores iniciantes com outros consagrados ou abrindo a porta do seu estabelecimento o Sebo Lar do Poeta para todos os que ali procuram conhecer o mundo literário. Ele tem no currículo o cultuado Anavilhanas. Além, de ter-se dedicado durante dezesseis anos a escrever seu Pindorama, um belíssimo livro de poesias no qual narra a história da nossa nação desde seus primórdios. Obviamente, todos os que tiveram contado com o mesmo, sabem que este tem os ingredientes para se tornar item obrigatório nas escolas e universidades. Sou apaixonado pelos poemas de Antônio Carlos Floriano — ao qual tive a honra de conhecer pessoalmente outro dia no Lar do Poeta, no relançamento dos seus livros —, Magru Floriano — creio que foi pensando nele que Thomas Mann escreveu a célebre frase encontrada em A Montanha Mágica: “o homem não vive somente a sua vida individual; consciente ou inconscientemente participa também da vida de sua época e dos seus contemporâneos”, porque o Magru é assim, seja atuando na política, escrevendo artigos ou na sua poesia social. Gosto também de Geremias Moretto — nosso maior contista, sem sombra de dúvidas —, Bento Nascimento — o maior poeta que já nasceu na terra de Itajaí. Até os dias de hoje, a sua poesia tornou-se um patamar ao qual todos nós nos espelhamos para atingir. É um monstro sagrado. Também curto Cristiano Moreira — que lembra muito Enzra Pound—, Adilson Amaral, Álvaro Castro, Fernanda Mazzeto Moroso e claro, José Wilmar Pereira, do qual, sou felizardo de ver surgir muitas poesias, de ser o primeiro ouvinte de cada uma delas. Da nova geração de escritores e poetas itajaienses, destacaria o jovem Alex Nascimento e a escritora/poetisa Deborah O' Lins de Barros — que tem um “que” nos seus textos de new jornalism e Edmar Souza — que escreve sobre ficção científica. Fugindo do próprio umbigo, poderia destacar uma geração de autores que tem surgido graças ao mundo da internet. No Recife, por exemplo, temos as três pontas da poesia revolucionária na capital Pernambuco: os versos suaves de Carla Marinho — autora do conhecidíssimo 13, do qual falei há pouco —, a introspectiva Diana — um monstro do nível de Bento Nascimento, Augusto dos Anjos e Fernando Pessoa — conhecida também como a “guardadora de rebanhos”, e um menino de apenas dezenove anos — Deus, dezenove anos com uma maturidade fora do normal — que vai dar muito, mas muito mesmo o que se falar, o SAM. No Rio Grande do Sul, temos a talentosíssima contista/poetisa Sabrina Jung. Já na capital carioca temos dois talentos que fazem sucesso pra caramba nos encontros literários e tem seus versos conhecidos na boca da garotada em geral, as jovens, Carol Brunelli e, para mim a maior promessa literária que já surgiu nestas terras sofridas: Carol Luísa — Deus do céu, desde Cazuza ninguém me surpreende tanto, vindo do Rio de Janeiro. Carolzinha é blues na veia, tem aquela beleza mesmo do blues, aquela coisa que é um misto de dor/beleza/raridade/riso/lágrima. E tá lá, lutando contra todas as dificuldades do mundo, contra todos os “nãos”, mostrando sua arte, mesmo que muitos ainda não tenham visto o seu valor, do mesmo modo que não viram o de Lima Barreto enquanto por aqui ele ainda estava. Não vejo a hora de vê-la imprimindo o seu primeiro livro, mas, ela ainda diz não estar pronta, diz não ser assim “tão boa poeta”, com aquela humildade que só os gênios tem. Graças à Câmara tive contato também com os ótimos contistas: Márcio Bezerra da Costa, Marco Antonio Hruschka Teles e Edmilson Rodrigues da Silva, isto para não nos estendermos muito.

Como ocorreu o encontro seu com a CBJE?
Pelos meus cálculos, isto ocorreu entre o final de 2007 e janeiro de 2008. Estava à procura de novos autores, principalmente escritores, e, um dos links do Google acabou me levando ao site da Câmara Brasileira. Confesso ter ficado de queixo caído ao ler os textos encontrados nas antologias on-line — Deus do céu, havia muita, mas muita coisa boa ali. Enviei um conto infanto-juvenil para concorrer na antologia Contos Fantásticos Volume 11, e graças a Deus, esta se classificou. Dali pra frente, volta e meia, entro em uma e outra antologia.

E qual tem sido a importância dela na sua vida como poeta/escritor?
Imensa. Primeiro, porque sei que por trás de cada publicação que ocorre e, que um texto meu é incluso, há um júri competente, que analisa técnica/valor literário do trabalho. Sei disso, porque, nem tudo o que envio acaba fazendo parte desta/daquela antologia. Sim, alguns contos meus não obtiveram aprovação. Ou seja, não é porque sai em uma antologia que terei mais chances noutra. Na CBJE o que vale mesmo é a qualidade. O que muito me deixa feliz. Não existem cartas marcadas. Outro ponto importante, graças a Câmara, tenho tido contato com um leque maior de escritores/poetas da nova geração, gente de todo o Brasil, o que só acresce no meu conhecimento literário e como pessoa.

Que conselho você daria a quem está começando?
Quando comecei a escrever, diziam que para ser um grande escritor, eu teria que ler muito. Então, devorava livros e mais livros. Só depois fui descobrir que o segredo não é este, mas sim: leia, leia muito, mas, analise o romance que você está lendo. Procure ver, como é a “dicção” do autor. Tipo: Hemingway utiliza frases curtas, enquanto Kafka estendem as mesmas a um limite inimaginável. Compreenda que cada personagem tem uma voz própria no romance, uma característica que indica a sua personalidade: uns são eruditos, outros falam muito pouco. Note a construção dos capítulos, como funcionam os parágrafos do autor, o narrador tem importância realmente ou ali está simplesmente para apresentar o que Hugh Kenner definiu ser a “mobília literária” do texto. Outra coisa, se você quer criar um romance, desenvolva primeiro a sinopse deste — capítulo por capítulo — no capítulo tal isso irá ocorrer, vou usar essa técnica, terá esses personagens. Tente ter uma idéia de quantas páginas terá o seu livro, seja metódico. Se você não tem noção exata do que digo, procure encontrar o livro O Último Magnata de Francis Scott Fitzgerald, este vem com a sinopse e idéia de como o romancista estava desenvolvendo seu trabalho. Outro ponto importante, se você pensa em escrever um livro (romance), mas acha interessante primeiramente fazer um exercício ou ainda não tenha uma confiança plena, siga o método de trabalho de Hemingway: construa um conto, depois outro e outro, e vá estendendo-o cada um deles, exercitando, vendo o que é fácil ser limado ou não do mesmo. Pense para quem este livro estará sendo encaminhado: público adulto, infantil, infanto-juvenil. Cada qual tem um nível de leitura e temas específicos. Então, se pretendes, por exemplo, dedicar-se à área infanto-juvenil, leia autores voltados para este ramo, veja como funciona a estrutura do trabalho em si. E por favor, leia os seguintes livros: Suave É a Noite de Scott Fitzgerald, Adeus às Armas de Hemingway, Ulisses de James Joyce, Germinal de Émile Zola, Ilusões Perdidas de Balzac e A Montanha Mágica de Thomas Mann se você quer ser um escritor voltado para a literatura adulta. Por que ler cada um deles: Suave é Noite nos apresenta a construção e destruição de um personagem diante a passagem do tempo. Adeus às Armas é uma aula de diálogos. Ulisses mostra que o narrador pode ser o que há de menos importante na estória, ensina a usar o monólogo e fluxo de consciência, e mostra inúmeras técnicas literárias. Ilusões Perdidas, mostra como um autor é capaz de criar um universo rico e fascinante ao mesmo tempo, é o trabalho que mais se aproxima do que denominamos por ser vida em sociedade. Em A Montanha Mágica, você verá a importância de um narrador na estória. E Germinal de Émile Zola porque é o meu livro de cabeceira e adoro fazer propaganda dele (risos). Falando sério, dei todos os motivos anteriormente. Também indico, entre em contato com outros escritores/poetas, converse, troque idéias, conheça o que rola na sua cidade voltado para o meio literário: vá em saraus, tente sentar com outros escritores e discutir literatura. Visite blogs, troque e-mail. E principalmente, se arrisque em publicar seus escritos. Não só em blogs. Faça o seguinte, envio-os aqui para Câmara, deixei-os passar pela análise do júri. E não desista dos seus sonhos, mesmo que ventos contrários surjam todos os dias. Quanto à poesia, procure conhecer o trabalho de Bento Nascimento e Fernanda Mazzeto Moroso — há muito deles na internet —, leia Nillson Weber, Magru Floriano e pelo amor de Deus, não deixe de ter na sua biblioteca Cadernos do Japão de Antônio Carlos Floriano: Tudo se acaba com o tempo/Pedra, cimento e sentimento.

Projetos futuros?
Estou em fase de revisão do livro Sobre o Amor e Outras Histórias — que deve estar saindo pela CBJE, entre os meses de junho e julho do ano em decurso. Continuo trabalhando com afinco no Pequeno Mosaico das Neuroses do Homem Contemporâneo —sem prévia de publicação, visto estar construindo um trabalho revolucionário estilisticamente, onde apresentarei inclusive uma nova técnica em um dos capítulos, além deste decretar realmente a fundação de uma nova escola literária. Quero fazer pelo romance itajaiense o que Bento Nascimento fez pela poesia do nosso município. Devo nas próximas semanas começar a escrever um novo artigo que saíra em maio no Purviance. Além de estar dando início ao desenvolvimento de uma peça teatral chamada a princípio: Quarta-feira. É a primeira vez que me atrevo a desenvolver algo voltado para o teatro, então é algo que ainda terei de estudar um pouco, tenho a idéia e alguns diálogos, mas sei que ainda terei que estudar muito sobre a peça. Estou voltando-me um pouco para o teatro, visto nossa cidade estar dando bons frutos às artes dramáticas nos últimos anos.

Último recado
Gostaria de aproveitar o momento e agradecer a CBJE por ter aberto espaço para o meu trabalho, assim como para outros autores e poetas, principalmente uma galera de Itajaí, dos quais gostaria de destacar: Geremias Moretto, Fernando Luiz Wloch, José Wilmar Pereira e Jorge da Costa Neves. Espero que a Câmara cresça cada dia mais, que continue assim, mostrando novos talentos. Que nossa parceria prossiga por muito e muito tempo. E claro, um agradecimento especial a Luiz Carlos Martins, pelo carinho e atenção sempre dispensados, seja via telefone ou e-mail. Um abraço a todos os leitores, até a próxima.

Contato: ricardosteil@gmail.com
Blog: http://ricardosteil.blogspot.com