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ENTREVISTAS
Entrevistas exclusivas com autores renomados, publicados nas antologias da CBJE nesses 23 anos de existência. Conheça suas histórias, suas obras e veja seus depoimentos.


Juarez Francisco da Costa

Quem é você?
Formado em Direito pela Universidade Católica de Petrópolis, sou servidor público federal desde 2003 junto ao INSS e moro em São José do Vale do Rio Preto, interior fluminense. Antes houvera trabalhado no extinto BANERJ, de 1980 a 1998. Burocrata, e por sê-lo, um pouco deixei de lado meu veio poético. Primeiro, foram os números gerando cansaço e alguma aridez no pensamento (Na época a contabilidade era manual). Depois, a atribuição de resolver problemas e problemas, ajustar... Embora dignifique no que representa sentimento de utilidade, poderia, pelo desgastante que é, mas não conseguiu, apagar a ideia adquirida na adolescência de um dia dar continuidade à escrita e publicar letras minhas. Gosto da tranquilidade do lar.

Como e quando você começou a se interessar por Literatura?
A literatura me “ganhou” faz muito tempo. Do regresso das férias escolares, lembro que gostava do contato com as folhas em branco de meus novos cadernos, nos quais lançava sinais. No começo eram algarismos, caracteres, desenhos... Depois, o aprendizado de juntar letras e fazer sentido com elas. Ler um livro representava uma viagem, na qual saía do meu meio nem sempre prazeroso, com certeza nunca bastante. Em algumas estórias ou histórias com “h” me identificava. Comecei a ver como era belo o conhecimento científico expresso, a se transmitir. Também achava belo o poder de inventar realidades, alegrias e dores, pintar paisagens ou o simples conto da vida real, com tintas que caracterizam a experiência humana de ser, estar, caminhar, crescer, multiplicar e dividir.

Como é a relação que você identifica entre a sua vida e a sua obra?
O que escrevo é o reflexo do meio em que vivo e de mim, com alguma coisa do outro. De forma clara e até direta, retrato minhas inquietações, que bem podem ser gerais, e os estágios de mim, pois escrevia e guardava desde mais ou menos 15 anos de idade. Escrevi doído na adolescência e em alguma fase da maturidade coisas que brotavam de simples anseio, mas também de questionamentos existenciais. A vida da gente normalmente tem relação com o que se escreve, pois se está inserido num contexto social, cultural, político, religioso... E o sentimento e o pensamento nos alinham a tudo, nos põem em expectativa e então, ora nos submetemos, ora no rebelamos. E isso flui para nossas manifestações faladas, com mais força ainda para as escritas. No último caso, algo pode ficar um tanto velado, pelas metáforas e outras figuras de linguagem, mas no fundo sempre somos nós e o nosso meio, ainda que com algum possibilismo.

Quais são seus autores preferidos?
Não tenho lido muito, mas gostei de ler muita coisa. Gosto de ler indistinta e inespecificamente. Às vezes penso enquanto leio: Gostaria de ter escrito isso. Em outras penso: Acho que poderia escrever melhor. Não digo isso por falta de humildade- Quem sou eu?- mas por ímpeto e critério de quem pretende escrever algo para outrem ler. Quando o assunto é técnico, se não puder criticar por total desconhecimento de causa, vejo a forma, a concisão, o português... Enfim, gosto de analisar. Aprendo o novo com os livros técnicos ou de não-ficção e isso é muito bom. Há obras que se lê e viram referência, e então mesmo sem ler outras do autor, se começa a mencioná-lo como preferido. Por esse critério posso mencionar Miguel de Cervantes, Hermann Hesse, Machado de Assis, José de Alencar, Fernando Pessoa, Carlos Drummond, Vinícius de Moraes, etc. Acho melhor dizer que terei muitos preferidos se tiver mais tempo para ler e que os nomes acima são apenas citações de autores que já li.

Como você conheceu a CBJE e como você vê nossa atuação em relação aos jovens autores brasileiros?
Conheci a CBJE pesquisando na internet como eu mesmo poderia publicar meus livros. Ela representa tudo de bom que nós, pretensos ou futuros escritores/poetas, podemos almejar no sentido de nos fazermos conhecidos, já que publicar pelo meio convencional é muito difícil e se aplica a consagrados. É por ela que um talento pode vir à luz. Publicar, por exemplo, de forma homeopática nas coletâneas é garantia de ser lido por boa quantidade de pessoas e até por críticos, em contraposição a prováveis respostas evasivas do tipo “Continue escrevendo, não desanime, mas seu livro, no momento, não poderá ser publicado” Acho que a CBJE e sua atuação ficam bem exprimidas no artigo que se segue:

A CBJE e a simbiose de nossos dias
Outro dia encontrei o sítio da Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Quase disse “site” (saite), mas cabe o aportuguesamento do termo inglês para uma iniciativa bem brasileira de valorização de aspectos nossos e de nossa gente.
De verdadeiros e pretensos poetas e escritores e de homens comuns e incansáveis, estes constituindo o gênero daqueles, se faz um retrato de época ou de todo um movimento de vida latente, descrita, pulsada, eloqüente ou tímida.
O homem segue sina, educa-se, torna-se o que pode, ou o que quer ser no que se rebela. Antes, tendo descoberto a palavra, se põe a falar ou a escrever. Hoje, escrever, num tempo em que o computador tornou-se um fenomenal meio de comunicação, tornou-se algo muito atuante. Há aqueles que escrevem breves manifestos, objetivamente, e os que enveredam por literatura, a cujos escritos se pode atribuir esse status ou se pode catalogar como mera pretensão de fazer arte.
Quando se disponibiliza um livro na internet, escolhemos um de dois modos ou os dois: Como livro grátis (e-book) ou livro à venda. É necessário, porém, se ter em mente algumas possibilidades e perseguir resultados prováveis/improváveis.
Pode-se, por exemplo, em doses homeopáticas ir adicionando textos componentes do livro ou mostrar um livro todo num blog e não se vender ao eventual leitor. Pode-se, dessa forma, fazer a tentativa de divulgar o lançamento, dar ideia de valor dos escritos e não se vender nada do que foi impresso, em virtude de ser o download gratuito ou ser a página dada a ler, ou por outras razões.
Hoje, valoriza-se o que é brejeiro, o superficial contato/conhecimento. Falta às vezes tempo, o senso crítico ou o interesse ou pretensão de análise da qualidade do que se lê. Isso se forma a partir de um hábito/cultura que se vai criando, principalmente pela natureza ou grau de comprometimento ou interesse do público leitor.
Precisa-se, para um começo de propaganda e propaganda positiva, do elogio da crítica especializada, para que os olhares se voltem sobre o que se escreve e que o senso perscrutador se desperte. Um tanto ou muito desanimador é conscientizar, pela visão do grande painel comercial, que a banalização não tem o sinônimo, no caso, de conhecimento comum, mas de coisa ordinária alçada ao valor de coisa incomum, pela oferta massificada ou pelo aval comprado ou pouco abalizado. E o pretenso escritor começa e prossegue pretenso, sem que conheça ele mesmo, pelo aval ou não do público, o valor ou desvalor do que escreve. E assim, o que jaz sem ajuizamento fidedigno não é necessariamente ruim.
Hoje, se escreve muito, pretendendo-se que o meramente denotativo tenha valor de conotação. Escreve-se muito bem sobre o banal e isso já tem valor, quando se dá conotação de literatura, quando compromissado o locutor com técnica e valores gramaticais. Escrevem-se longas cartas quotidianas, que se pretendem artigos ou contos e são meros testemunhos. Ou longos ou curtos versos, que não o são, apenas constituem aglomerado de palavras, sem mensagem intrínseca ou fotografia anímica. Mas também se faz retrato em preto e branco do que é colorido ou colore-se o desbotado. Mas faz-se literatura, de qualquer modo. O elemento propulsor não é a pena apenas. A qualidade da prosa ou do verso surge não só da sensibilidade, mas também da cultura e da instrução e da palavra virando ferramenta.
Tornar público o que se escreve é o ideal. Decidir se se quer simplesmente divulgar e/ou vender é uma etapa importante. Quando se é famoso, fica fácil (o que se lança fica conhecido, provavelmente é vendido), mas não o sendo, um árduo trabalho se terá que fazer para tornar-se conhecido, e às vezes nem se chega a sê-lo. Tendo um livro à venda dar uma ideia do que este contém é essencial, sem mostrar tudo, ou provavelmente não se venderá ou despertará o interesse. Então se deve, na internet, entre outras coisas, criar tags do tipo "miolo do livro", "ler página do livro", quando se lança o título numa livraria virtual. De qualquer forma não há garantia de se dar a achar o rastro e o pé que o faz. Mostrando um pouco, se poderá talvez dar à luz o valor ou desvalor do que se escreve. Fazer poema, poesia, soneto, escrever conto, artigo, como autor iniciante, e perseguir a divulgação e algum sucesso de venda são tarefa que pode resultar logo em desistência ou engendrar uma longa maturação. Especialmente quando não se dá a sorte de receber a crítica dos iniciados ou há silêncio de crítica de qualquer natureza, de qualquer público. O sucesso de público, o sucesso de crítica é, enfim, o que qualquer autor persegue.
Isto que agora estou escrevendo, é bem verdade, pode configurar frustração de um grupo que já não se submete às editoras tradicionais para análise/aprovação/reprovação do escrito e publica por autocusteio, mas também é uma constatação que muitos já fizeram. Mas escrever, para alguns, é um vício e uma necessidade, até mesmo para mascarar ou pintar a rotina do dia a dia duro. Enquanto o homem está poetando ou dissertando, fica mais leve e se encontra consigo mesmo. Salve a poesia ou a prosa, que pintando ilusão ou partindo de um valor ilusório intrínseco, pode um dia fazer um grande retrato em preto e branco ou colorido, mas revelador de sangue! (Então será história, ainda que fugaz ou efêmera). O poeta e o prosador não desistem, porque o homem está vivo e enquanto se vive se pragueja, se exalta e se finge que é nascido o que apenas quer brotar. O que se quer sempre, ao escrever, é matar a sede de tradução do homem que é, vê, sente e quer externar, com pretensão ou despretensão, o que é sempre latente e/ou sugestivo e quase nunca se traduz com fidelidade no que significa espelhar.
Poesia e prosa já existem no acordar e dormir todo dia. Escrevendo ou vivendo a rotina e todas as possibilidades de ajuizamento, convívio e dicção, o poeta e o prosador vão vivendo a própria vida, querendo que esta seja um pouco a do outro e que o outro tome um pouco da sua.
Não se quer um padrão ou uma excelência, mas o gosto de ser e partilhar com pertinência. Surpreende-se um poeta a poetar, às vezes a silenciar, e um não-poeta a poetizar no silêncio do que pode e não pode, a fazer da verve a própria vida e da vida a própria verve. Assim, também o prosador, que busca fotografar o concreto e sugerir o abstrato. E a CBJE destina uma página a isso.
Juarez Francisco da Costa


Possui algum livro publicado?
Sim. Barco à Deriva e Das Entranhas para a Luz. O primeiro composto só de poemas e o segundo com poemas e alguma prosa.

Que conselho você daria aos que estão começando na carreira?
Escrever é um exercício de tradução do homem em suas particularidades e também exercício de tradução da vida circundante no espaço e no tempo. Escreve-se sobre o concreto e sobre o abstrato e de particularidade em particularidade, de pedaço em pedaço se pinta um todo por amostragem, uma época, enfim, se reflete o universal. Deve-se estar sempre atento a uma inspiração. Deve-se escrever, ler e retocar, reler e retocar, escrever de novo. Quando se tiver que rasgar algo, não se deve ter pena de fazê-lo ou desanimar. Quando a pedra é demais bruta não tem jeito, mas é o polimento que faz o diamante brilhar. É possível, em alguns casos, que se deva escolher outra linha, outro gênero. Escreve-se melhor exercitando o domínio da língua e ocupando o máximo que se pode da memória com conhecimentos úteis e vocábulos.. Candidatar a ter teus trabalhos publicados pela CBJE é um bom começo, pois pessoas te lerão e poderão te noticiar e transmitir.


Contato: jufrance.costa@terra.com.br