Antologia
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André
Luiz de Oliveira Pinheiro
Rio de Janeiro / RJ
Pai(drasto)
Mais um passageiro partiu, na carruagem do silêncio. Silêncio
que deixa saudade, tão eloquente num grito lacrado... E
nos que silentes ficaram, acenando um marejado adeus. Um veículo
que não chega atrasado, nem estaciona e espera desavisado.
Tem seu horário marcado. Quando chega traz a tristeza,
leva as lágrimas vazias e deixa as cheias de solidão.
Quando a morte nos visita, é sempre reflexão. Em
pessoa da família, amigo ou num próximo irmão...
Todos nós passaremos um dia por essa despedida, é
repetida lição. Estando de pé, em vertical
ilusória... Ou deitados, horizontalmente calados, tendo
então paralisados a mente e o coração...
Eu sei que se foi pessoa querida. Pois, deixou lágrimas
nos presentes olhares tão tristonhos, feitos e desfeitos
em sonhos... Em corações escondidos dentro do peito
oprimido por uma saudade. Saudade recente que será crescente
pelas muitas lembranças. Mas, que levem a esperança
de que chegará o dia do féretro da infelicidade,
num amoroso reencontro...
A infelicidade que se sente no fundo é incerteza, de como
fica a gente sem o corpo de carne indefesa. Mas, a carne é
putrescível e o que somos na verdade é invisível,
aos olhos que nada vê além de tudo que é tangível...
Não sabemos que o ar existe, pela brisa que o revela? Que
o sol a noite aquece o outro lado da terra? Não precisamos
ver e sim apenas imaginar. E a lua com sua luz fraca, que vai
pela madrugada, velando o nosso sono, que nada mais é que
um ensaio para o nosso mais longo silêncio!
Em todo sono existem sonhos. Sonhos quase irreais. Mas, para o
sono mortal não existem sonhos, ou melhor, os sonhos são
reais. É a verdadeira vida que vamos encontrar... A realidade
explícita... A luz no breu que se acende para nunca mais
apagar...
Então o nosso irmão, foi para essa realidade e nós
aqui ficamos na ilusão. Ilusão tão real.
Que nos faz quase sempre esquecer, até mesmo a saudade.
A vida levou pela porta da morte meu padrasto, um homem honrado.
Que a grafia eu posso corrigir sem medo de estar errado. Escreverei
“(pai)drasto”, por que um pai, dia a dia ele foi,
amparou a todos nós e, entregou a minha mãe seu
generoso coração, nunca deixando faltar, carinho,
afeto, respeito, amor... E nem à mesa o pão...
Vai, Valdemar, siga a sua senda nova. Acenda a lanterna da certeza,
pelos novos caminhos de beleza. Na verdadeira vida você
nos precedeu e nós aqui guardamos no peito um sentimento
profundo. E ainda que o véu invisível nos separe
os mundos, o pensamento é o veículo que nos leva
as terras da verdade, até que todos se encontrem na única
estrada: a eterna! Da eterna felicidade...
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