Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

A morada das palavras indecifráveis

 

Aonde moram as palavras não ditas?
Moram lá, onde só o silêncio as pode ouvir...
Aonde moram as palavras benditas?
Lá, acolá, atrás do morro, onde várias tribos se unem numa única voz...
A da sabedoria do encontro, impossível de realizar-se por completo...
Aonde moram as palavras perdidas?
Essas, moram nos livros não lidos e nas vidas ceifadas por valas abertas…
Perto do mar da Saudade, vizinho do rio chamado Desespero
Esperando ser salva por um sobrevivente que a impeça de cair na cova escura
Que nas margens do que deve ser dito, diz-se indignamente nos limites da infinita dor...
Aonde moram as palavras movediças, frágeis, descontroladas e imobilizadas?
Essas são como as areias do tempo, rapidamente surgem e vão-se embora, Interrompidas violentamente pelo vento da maldade humana...
E aonde moram as palavras que foram, no passado, sangradas em sua essência,
Abandonadas à insônia do medo que nelas habitavam
Fazendo delas um lugar tão sombrio, devastador, indizível, inóspito, inumano?!
Esta amarga palavra mora nos lugares adormecidos pela morte
Que o homem tenta, por rastros-resíduos, defini-las, localizá-las, fixá-las...
Sem nunca encontrar o que a fez ser sangrada em seu potente “corpo iluminado”
Ela, a palavra que se perdeu sem morada, habita na encruzilhada de mil entre-lugares
Em vários trágicos lugares, espalhada em espaços fantasmagóricos
Um deles chama-se Auschwitz, que guarda incontáveis signos
Que ainda hão de ser ditos…
Inumeráveis signos perdidos, distraídos, enterrados…
Por um não-signo que jamais a humanidade
Em sua extensa história de "pensantes vozes racionais"
Conseguirá decifrar, por completo, essa ausência fatal
Que feriu para sempre a civilizada razão humana.

(Holocausto, nunca mais!)

 

 

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Grandes Nomes da Poesia Brasileira" - Junho de 2018