Poesia publicada no Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo - Edição 2013 - Setembro de 2013

Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

A volta do rabo


A arte de criar está presente em cada ser, mas criar é colocar à prova uma inovação, nem sempre o criador é compreendido e muitas vezes é considerado “louco”. A literatura está repleta de nomes famosos que passaram por situações embaraçosas por causa das suas criações. Até que um dia... fica provado a serventia do seu invento e toda a humanidade tira proveito da ideia maravilhosa do inventor. Foi baseada nessa afirmação que a mãe de Robson não repreendia o menino nas peripécias que aprontava. Os brinquedos eram todos desmontados. As bonecas da irmãzinha apareciam com rodinhas na testa, na barriga e nos joelhos. Ventilador com livros colados para virar as páginas, motorzinho de liquidificador conectado embaixo do sofá para assustar visitas e, muitas outras “artes” incríveis que causavam pausa na respiração dos pais.
Robson cresceu no seu mundo particular, ele não conseguia ver um objeto só por um ângulo. O sapato não era só um sapato. As coisas passavam por uma filtragem na mente dele de tal forma que dava a impressão que de ele era dotado de uma ferramenta a mais.
Do estudo dos objetos passou para as plantas. Começou a observá-las e percebeu que nada no universo está aqui só para enfeitar, embelezar, atrapalhar ou ocupar espaço. Tudo se relaciona com tudo. Tudo complementa tudo. O universo é um todo completo. Nada funciona sozinho e inverter qualquer ordem é muito perigoso.
Ele alimentava uma vontade, um desejo secreto. Resolveu estudar química. Tornou-se um grande pesquisador. Criou receitas culinárias, medicações, tecidos para dias frios, para dias quentes e uma infinidade de utilidades. Foi um grande demolidor de paradigmas.
A sua mãe a cada dia perdia um pouquinho da sua beleza, do seu equilíbrio, da sua juventude. Por mais vitaminas que tomasse, exercícios que fizesse ela ia ressecando, como todas as outras pessoas. A medicina estava avançando e conseguia retardar a velhice aparente com a diferença de no máximo três ou quatro anos. Sem falar nas cirurgias invasivas para tirar dali e daqui gorduras e peles. Ele não aceitava a tão avassaladora velhice com todo o peso da palavra e da imagem.
Passou a estudar as plantas, as resistentes, as que permaneciam viçosas por muito mais tempo. Ele já concluíra que velhice era uma doença nas células. E ele sabia que um dia no futuro viria a vacina antienvelhecimento. Dedicou o seu tempo só para pesquisar a doença que ele tinha certeza da cura. Ele conseguiu fazer a tão sonhada vacina! Começaram as experiências, primeiro com as plantas, depois com insetos, mais tarde com animais maiores. Foi muito difícil provar e ter o reconhecimento do valor da sua pesquisa. Até que depois de muito expor, explicar, escrever, publicar e apresentar ele conseguiu a permissão para aplicar a vacina em seres humanos voluntários. Sucesso total! Veja bem, não era deixar de morrer e sim deixar de ressecar, manter as células sadias. Não era o término das doenças, mas o fim da decrepitude senil. As pessoas atingiam o ápice do desenvolvimento físico aos trinta anos e a aparência física não mudava. Quem já tinha mais idade, tomava a vacina e curava as células e o envelhecendo parava onde estava para sempre. Sucesso total!!! Muitos anos da vida de Robson foram gastos na esperança de ver realizado seu sonho. Ele foi o primeiro a usar a vacina e foi o ponto máximo para convencer da cura da doença senil. Era visível e notório. Como já relatei, não evitava a morte só deixavam de existir as doenças que eram peculiares ao envelhecimento.
Porém, tinha um porém... A vacina era aplicada junto com as vacinas infantis. Os bebês que tomaram a vacina não envelheceram, não ressecaram, não enrugaram, não tremeram, não claudicaram, não sentiram as dores nem as doenças da velhice, mas depois dos sessenta anos (pasmem!), começaram alterações: - pelos grossos pelo corpo, as orelhas começaram a crescer e até um rabinho apareceu. Com o passar do tempo tudo crescia. E aos setenta anos todos já estavam andando de quatro, a coluna não sustentava mais o corpo. Impossível andar sobre os dois pés ou dobrar a coluna para sentar.
Robson morreu velhinho na idade, mas com o frescor da juventude. Cadê você Robson para inventar rodinhas para mãos e joelhos?

 
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