Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

 

Família

      

A rua está escura, mas Iran caminha assim mesmo. Segue para a casa de seus pais. Então, de repente venta. Um vento frio, espalhando gostas de chuva nos cabelos e na mochila às costas do homem.
Como fica bonita a noite durante a chuva! Parece que as estrelas estão dormindo... Pensa-se com a alma em sonhos de uma rede sossegada e os sons da água no telhado. De longe, mais para o nascente, ouvem-se trovões e veem-se os clarões... E Iran dispara a correr para chegar logo a seu destino. A cerca de madeira... a calçada...
Todos estão na varanda – e um cafezinho é servido com cuscuz. Que agradável! Parece que o esperavam! Hum, bom é passar uns dias em família, após uma viagem longa de trabalho! Ah, que a mãe está mais bonita!
Benção, pai! A gente conversa mais de manhã. E outro cheiro na mãe antes de ir dormir... Já na cama, em minutos, quase não escuta mais as vozes dos irmãos – discutem da safra das castanhas de caju. Talvez a chuva tenha queimado as flores do cajueiro: crença antiga... O cansaço é forte, entorpecendo a mente, com aquela sensação de que se está em casa...
A chuva foi-se embora durante a noite... Um sol brilhante enrola-se pelo quintal, na laranjeira, na latada de maracujá. O riacho – para Iran que gosta de nadar, dar ares de um bom começo para a manhã. A canoa... a vara de pescar...
— Quem vai comigo pegar um peixe para o almoço?
Os irmãos sorriem e o pai se oferece, então aquelas velhas conversas de pássaros, aquelas lembranças de gaiolas, de pipas – Iran gosta de lembrar, mas nota uma melancolia no pai, talvez um desejo de ter netos... Não iria José, seu irmão mais velho casar em dezembro? Arrisca a perguntar, e acaba-se de rir quando ouve: “Quem disse que um de vocês pensa em casar? São todos três uns frouxos!”. 
E, justamente na hora do almoço, se fala de saudade... Que pontinha de desejo de ficar mais tempo em casa!... Mas logo teria de partir novamente. Ainda bem que o pai adora café depois das refeições...

Já é meio-dia!
Gostosamente a família
Vai para a varanda

Conversas sobre a infância
Terminam sempre em risadas.

 

 

 

 
 
Poema publicado no livro "Livro de Ouro do Conto Brasileiro Contemporâneo" - Agosto de 2017