Caroline Kalil Nogueira
Franca / SP
Pedir demais
Se puder o cansaço curar as feridas
Do tempo, do espaço, do escárnio da vida
Se puder a lua ser o farol que me ilumina
No trepidar das horas, nos ponteiros perdulários,
Cem mil vezes comprometida,
Talvez com o destino, talvez com minhas mentiras
Se puder a fadiga ser a fada madrinha
Dos momentos de descanso, dos minutos de silêncio
Se puder a sombra ser minha amiga tão querida
A fome um grito que me faz ver qu’inda estou viva.
Se puder teu abraço ser o último
alento
Uma última comida,
Se puder o amanhã ser flor, jardim, fartura e esperança
Sem contar a solidão que terá de ir-se embora.
Se puder sua mão com a faca o gume cortar-me o pulso
E permitir que a alma se desprenda e vagueie imune
Às dores remotas que aqui ficaram no coração.
Se puder, e só se puder
Serei sereia, mito, liberdade
Terei amado e muito e com vontade
Num sentido de nada pelos caminhos descuidados
Na direção contrária da manada
Que corre louca desenfreada pelas calçadas.
Serei adeus. Se puder, e só se puder...
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