Conto publicado no livro "Contos da Madrugada" - Edição Especial - Agosto de 2013

Adriano de Jesus Santos
Guarapari / ES

 

Lições de uma vida



Mais um dia entra na rotina no espetáculo jogo de sobrevivência, envolvedor de muitas pessoas que, mesmo fadigadas, nutrem sonhos, traçam caminhos. Não importa a idade e nem o lugar e sim a luta, a perspicácia e a certeza de que nada será em vão. A fé tem mais eficácia se for acompanhada da ação.
E o que pensar de certa jovem inserida nesse contexto? Nada, além de se reconhecer o seu determinismo e o prazer que demonstra sentir enquanto realiza suas tarefas. E às vezes, alguns criticavam as atitudes dela simplesmente por ser um diferencial em meio à multidão que insistia em dificultar a percepção de alguma dinamicidade. Certamente é por ela não depender de ninguém; por ter dentro de si uma força inigualável não baseada nos outros, mas no melhor que pode ser.
Ela é assim. Possui uma beleza sintetizada por um jeito pueril e delicado de ser. E, quem não a conhece, não imagina ter, por detrás daquela dócil criatura, uma grande história. Uma história digna de ser narrada pelo maior de todos os narradores. Um narrador onisciente que além de narrar também se contempla por cada decisão desta que se agiganta diante de distintas situações.
Uma infância em um mundo de adultos, onde era privada de todos os prazeres vindas das bonecas barbies e das brincadeiras das amigas da mesma faixa etária. Uma época em que costumava preparar refeições brigando com a altura do fogão a lenha, correndo o risco de queimar sua pele.
Mas ela fazia a tudo sem reclamar. Apenas depositava um futuro melhor no poder dos estudos e não hesitava um só instante em andar longas distâncias em meio a zona rural, em busca de um conhecimento fundamental para a alimentação de seus sonhos. Sonhos infantis? Claro que não. Não havia criança naquele corpo minúsculo; havia sim, uma mente brilhante que teve de sair cedo de casa a fim de ajudar a avó que viu sua única filha se casar e dar adeus àquele lar.
Dizem que crianças criadas pelos avós são dotadas de algumas regalias. Abro para esse exemplo uma exceção. Afinal de contas, que regalia poderia ter uma trabalhadora sem salário? Talvez aceitasse como pagamento a permanência no Rio de Janeiro, pra onde foi uma vez visitar um parente. Mas, seu pai, sempre autoritário, mesmo não a tendo debaixo do mesmo teto, não permitiu.
E ela teve de voltar.
¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬- Não sei o que mulher quer estudando! Ela tem é de ficar em casa enquanto o marido trabalha. Ideia de um pai antiquado que ama tanto os filhos a ponto de não querer vê-los longe.
A garota voltou sim, mas para uma independência conquistada graças a uma determinação e a enorme facilidade de conseguir os objetivos, dos quais o principal, na época, era concluir o ensino médio.
Foi de encontro às ideias dos pais e procurou moradia em uma república com amigas e em um mundo desconhecido.
Trabalhava, pagava as contas e se via em situações, até então inimagináveis. Não estava em casa, na harmonia do lar. Encontrava-se em um ambiente onde convivia com pessoas de inúmeros pensares que ainda ruins não foram capazes de instaurar o medo na face daquela que tinha rompido a barreira e as tradições da família. Não teve medo, nem mesmo quando ficou desempregada e teve de aceitar um convite de residir na casa de uma amiga, em troca de cuidados a um recém-nascido.
A final de contas, não seria emocionante se não fosse um pouco dificultoso. De repente se viu morando na periferia, onde a segurança sempre é mais precária. De repente se viu na obrigação de tomar uma decisão, talvez a mais importante de sua vida.
Quem foi o felizardo dignificado com um lugar naquele coração tão desejado? Chamá-lo-emos de um boêmio sortudo que propôs um casamento com a finalidade de facilitar uma viagem ao Oriente Próximo. Evidente que ela aceitou. Queria bater asas até onde o destino permitisse. Não apenas por isso, acabando o ensino médio teria de voltar para a roça, onde o diploma para nada serviria.
- Já se casar minha filha! Tão jovem! Olhe, pense bem nisso! Casamento não é brincadeira. Namorar é uma coisa, e passar a conviver debaixo do mesmo teto é outra coisa completamente diferente. Afirmava sua mãe.
- Ah, mãe se não der certo se separa.
- Então você já nem se casou e já esta pensando em se separar, casamento tem de ser eterno.
Ela se casou, antes de constatar que aquela viagem não daria certo. Um casamento que muitos apostavam se tratar de uma atitude impensada, mas que se estendeu até uma cidade litorânea de beleza comparável àquela mais nova moradora.
E foi vivendo na monotonia de um trabalho e de um matrimônio que durante algum tempo tinha dado certo.
Ah, se sua mãe presenciasse o romper das alianças. Talvez não entendesse muito, mas, certamente, entenderia a força de sua filha ao conseguir resgatar os sonhos e reavaliar as possibilidades de realizá-los. Sonhos que haviam se perdidos na reviravolta da vida.
E alimenta objetivos que, certamente, serão conquistados graças à sua perspicácia e competência. Aqui fica o desejo de boa sorte desse pobre entusiasmador, que também lembra que ela não estar sozinha. Continua despertando admiração e sentimentos que tendem ao anseio de transpassar as barreiras da amizade. E, quem acredita, sempre alcança, ou ficará a ver navios em um porto inexistente, caso não acredite o suficiente.

 

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