Adriano
de Jesus Santos
Guarapari
/ ES
Lições de uma vida
Mais
um dia entra na rotina no espetáculo jogo de sobrevivência,
envolvedor de muitas pessoas que, mesmo fadigadas, nutrem sonhos,
traçam caminhos. Não importa a idade e nem o lugar e
sim a luta, a perspicácia e a certeza de que nada será
em vão. A fé tem mais eficácia se for acompanhada
da ação.
E o que pensar de certa jovem inserida nesse contexto? Nada, além
de se reconhecer o seu determinismo e o prazer que demonstra sentir
enquanto realiza suas tarefas. E às vezes, alguns criticavam
as atitudes dela simplesmente por ser um diferencial em meio à
multidão que insistia em dificultar a percepção
de alguma dinamicidade. Certamente é por ela não depender
de ninguém; por ter dentro de si uma força inigualável
não baseada nos outros, mas no melhor que pode ser.
Ela é assim. Possui uma beleza sintetizada por um jeito pueril
e delicado de ser. E, quem não a conhece, não imagina
ter, por detrás daquela dócil criatura, uma grande história.
Uma história digna de ser narrada pelo maior de todos os narradores.
Um narrador onisciente que além de narrar também se
contempla por cada decisão desta que se agiganta diante de
distintas situações.
Uma infância em um mundo de adultos, onde era privada de todos
os prazeres vindas das bonecas barbies e das brincadeiras das amigas
da mesma faixa etária. Uma época em que costumava preparar
refeições brigando com a altura do fogão a lenha,
correndo o risco de queimar sua pele.
Mas ela fazia a tudo sem reclamar. Apenas depositava um futuro melhor
no poder dos estudos e não hesitava um só instante em
andar longas distâncias em meio a zona rural, em busca de um
conhecimento fundamental para a alimentação de seus
sonhos. Sonhos infantis? Claro que não. Não havia criança
naquele corpo minúsculo; havia sim, uma mente brilhante que
teve de sair cedo de casa a fim de ajudar a avó que viu sua
única filha se casar e dar adeus àquele lar.
Dizem que crianças criadas pelos avós são dotadas
de algumas regalias. Abro para esse exemplo uma exceção.
Afinal de contas, que regalia poderia ter uma trabalhadora sem salário?
Talvez aceitasse como pagamento a permanência no Rio de Janeiro,
pra onde foi uma vez visitar um parente. Mas, seu pai, sempre autoritário,
mesmo não a tendo debaixo do mesmo teto, não permitiu.
E ela teve de voltar.
¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬¬- Não
sei o que mulher quer estudando! Ela tem é de ficar em casa
enquanto o marido trabalha. Ideia de um pai antiquado que ama tanto
os filhos a ponto de não querer vê-los longe.
A garota voltou sim, mas para uma independência conquistada
graças a uma determinação e a enorme facilidade
de conseguir os objetivos, dos quais o principal, na época,
era concluir o ensino médio.
Foi de encontro às ideias dos pais e procurou moradia em uma
república com amigas e em um mundo desconhecido.
Trabalhava, pagava as contas e se via em situações,
até então inimagináveis. Não estava em
casa, na harmonia do lar. Encontrava-se em um ambiente onde convivia
com pessoas de inúmeros pensares que ainda ruins não
foram capazes de instaurar o medo na face daquela que tinha rompido
a barreira e as tradições da família. Não
teve medo, nem mesmo quando ficou desempregada e teve de aceitar um
convite de residir na casa de uma amiga, em troca de cuidados a um
recém-nascido.
A final de contas, não seria emocionante se não fosse
um pouco dificultoso. De repente se viu morando na periferia, onde
a segurança sempre é mais precária. De repente
se viu na obrigação de tomar uma decisão, talvez
a mais importante de sua vida.
Quem foi o felizardo dignificado com um lugar naquele coração
tão desejado? Chamá-lo-emos de um boêmio sortudo
que propôs um casamento com a finalidade de facilitar uma viagem
ao Oriente Próximo. Evidente que ela aceitou. Queria bater
asas até onde o destino permitisse. Não apenas por isso,
acabando o ensino médio teria de voltar para a roça,
onde o diploma para nada serviria.
- Já se casar minha filha! Tão jovem! Olhe, pense bem
nisso! Casamento não é brincadeira. Namorar é
uma coisa, e passar a conviver debaixo do mesmo teto é outra
coisa completamente diferente. Afirmava sua mãe.
- Ah, mãe se não der certo se separa.
- Então você já nem se casou e já esta
pensando em se separar, casamento tem de ser eterno.
Ela se casou, antes de constatar que aquela viagem não daria
certo. Um casamento que muitos apostavam se tratar de uma atitude
impensada, mas que se estendeu até uma cidade litorânea
de beleza comparável àquela mais nova moradora.
E foi vivendo na monotonia de um trabalho e de um matrimônio
que durante algum tempo tinha dado certo.
Ah, se sua mãe presenciasse o romper das alianças. Talvez
não entendesse muito, mas, certamente, entenderia a força
de sua filha ao conseguir resgatar os sonhos e reavaliar as possibilidades
de realizá-los. Sonhos que haviam se perdidos na reviravolta
da vida.
E alimenta objetivos que, certamente, serão conquistados graças
à sua perspicácia e competência. Aqui fica o desejo
de boa sorte desse pobre entusiasmador, que também lembra que
ela não estar sozinha. Continua despertando admiração
e sentimentos que tendem ao anseio de transpassar as barreiras da
amizade. E, quem acredita, sempre alcança, ou ficará
a ver navios em um porto inexistente, caso não acredite o suficiente.