Aliomar Costa
São Paulo / SP

 

 

A pá e o coveiro

 


Tenho pena da pá e do coveiro:
Parceiros cruéis  inseparáveis da morte,
A caveira bordada em seu peito,
A cova aberta esperando o próximo caixote

Quem se foi não reclama:
Da corda alçada no seu caixão,
Irá repousar na sua nova cama,
Acompanhada apenas da terra fria da compaixão

Viver este inútil critério sem fim,
Mas o fim encara esse novo mistério,
Aqui jaz o fim no fim,
Seu novo condomínio: a cruz no cemitério

O coveiro não é  o culpado:
Por esse trampo sempre desqualificado,
Seu serviço é só ter sempre enterrado,
Quem partiu e não deixou nenhum recado

Um dia o coveiro irá também partir,
Não  vai mais chorar ou sorrir,
Apenas vai poder repartir,
Sua pá no que fez, e agora deixou de existir!

 

 

 

 

 




Poema publicado no livro "Novamente o amor"- Edição 2020 - Agosto de 2020

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