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Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

Um morto não tão morto


Era de madrugada quando Dona Braga acordou com o barulho provocado pela agitação das galinhas que ela criava. Acordou Biel, seu esposo, para juntos irem ver o que estava acontecendo lá nos fundos da casa.
Ainda sonolentos, caminhando a passos curtos, com muita dificuldade, devido à idade avançada os dois foram em direção à porta da cozinha, que dava acesso ao quintal onde estava localizado o pequeno galinheiro que abrigava cerca de quinze galináceos. As luzes foram acesas. Ambos perpassaram o olhar por todo o ambiente, assegurando-se de que tudo estava em ordem e seguro antes de se dirigirem até o poleiro.
Seu Biel tinha a mania de “conversar” com as galinhas, então foi logo entabulando um colóquio com elas:
- Tchiii Tchiii Tchiii, vem pra cá Flôzinha... O que tá acontecendo? O que vocês estão vendo?
Dona Braga já estava acostumada com esta mania de seu companheiro conjugal e não se importava com este pormenor, até achava engraçado o jeito de ele chamar as galinhas.
Como Flôzinha e nenhuma das galinhas respondiam aos suas perguntas, resolveram inspecionar o local minuciosamente.
Foram tangendo as aves para o canto do poleiro para poderem ver melhor o que estava assustando elas. Quando o recipiente onde colocavam comida para elas foi afastado ficaram espantados com o que viram: Em um canto, acuado, avistaram um enorme roedor.
- Biel, olha o tamanho deste rato. É um guabiru!  Ele tá querendo comer os ovos e nossas galinhas. Eu sabia que tinha algo de errado, elas não são de ficarem agitadas.
- Espere só um minutinho que eu vou pegar um pau para nós matarmos esse safado. – Falou Biel, indo procurar um pedaço de madeira.
Enquanto isso Dona Braga não arredava os olhos do bicho, que imóvel e de boca arreganhada, mostrando grandes dentes afiados dava sinais de que não ia ser fácil retirá-lo daquele local.
Quando Biel chegou, foi logo tentando acertar uma paulada na cabeça do bicho que, esquivando-se, deu um pulo e correu para o outro lado.  Biel correu junto e mandou uma pancada, não se sabe se certeira, no animal que ficou estatelado no chão.
- Viu Dona Braga, é assim que se mata essa peste! O bicho de tão ruim não sai nem sangue, só tem tamanho. Agora é só pegar ele colocar dentro de um saco e mais tarde quando o sol raiar eu vou dar um fim neste desgraçado – Disse alegre com o sucesso da empreitada.
Quando, então, de posse de uma sacola foi pegar bicho este deu um salto enorme em cima dele que, de susto, foi ao chão, enquanto o pobre animal foi se esconder no canto da parede. Dona Braga deu um grito de medo e com isso acordou o vizinho do lado que logo veio ver o que estava acontecendo. Chegando ao local ficou sabendo do que se tratava e ofereceu-se para ajudá-los a pegar o bicho. Logo notou que não se tratava de um guabiru, mas de um cassaco bem grande e gordo.
 Biel, apontando para ele disse:
- Olha, ele já tá morto. Tá de pernas para o ar.
O vizinho exclamou:
- Não Biel, ele não tá morto, está se fazendo de morto. O gambá ou cassaco finge-se de morto para escapar de seus caçadores. Fica nessa situação até eles irem embora e só depois sai desse estado de imobilidade que nós estamos presenciando.
- Bicho sabido esse, não? Mas agora ele não escapa, vou dar-lhe uma paulada bem na moleira e quero ver se ele não morre. - Proferiu Biel estas palavras, enquanto seu vizinho se adiantava para lhe falar algo.
- Biel, Deixa que eu cuide disso. Você não sabe, mas carne de cassaco é muito boa. Eu vou pegá-lo e fazer um bom ensopado dele pra servir de tira-gosto afinal, amanhã é sábado e é dia de tomar umas pingas. – Falou o homem, animadamente.
Então de posse de uma toalha, jogou-a em cima do bicho que não deu trabalho para ser capturado e o levou para sua casa.

Coitado do animal... Escapou de um tipo de morte para morrer de outro: Dentro uma panela!

 

 
 
Conto publicado no livro Quem vai pegar o morto?" - Fevereiro de 2016