Valter Rodrigues Cavalcante
São João do Piauí / PI

 

 

O medo vem das árvores

 

           

Todo mundo tinha medo de passar em certo trecho daquela estrada vicinal, na mata seca, esquecida, do nordeste do Brasil. Muitos não se arriscavam passar naquele trecho, principalmente na caída da noite, pois lá eram ouvidos sons assustadores e ninguém tinha a coragem de conferir a origem daqueles
amedrontadores gemidos, no lugarejo chamado Baixa das Almas. Havia um garoto - conhecido como Alan Medroso - porque ele tinha muito medo de lagarta e na época de chuvas evitava andar em lugar com muitas folhas, para não se deparar com aquelas larvas repugnantes.
Alan Medroso tinha um bicho de estimação que era um gato rajado, que ele o chamava de Chanito, e os dois não se separavam por nada. Certo dia, aconteceu algo inesperado: ele chegou a sua casa e se deparou com sua mãe Gerusa doente e prostrada na cama, e por ironia do destino naquele dia todos os outros membros da família estavam ausentes, uns viajando e outros tinham ido a uma festa de um renomado sanfoneiro da região. Alan Medroso olhou para a sua mãe e percebeu que ela estava se ardendo em febre, então, ele pegou um comprimido antitérmico e um pouco de chá feito de cascas secas de laranja, e com muita delicadeza levantou a cabeça da sua mãe querida e a fez ingerir.
Percebendo que a mãe não reagia, ele resolveu ir até o lugar chamado Torre, onde havia até posto de saúde, mas para chegar até lá teria que passar no trecho da estrada do medo, só que o garoto calculou que daria tempo dele ir e voltar antes do anoitecer, então ele pegou o gato nos braços, apanhou uma bolsa com alguns trocados de dinheiro e saíu em disparada na busca de uma solução para resolver a doença de sua querida mãe, depois de correr muito ele chegou em Torre e, ao funcionário do posto de saúde explicou a situação da sua mãe. Imediatamente o enfermeiro conhecido por Juarez, pegou uns comprimidos e pediu que o garoto votasse rápido e fizesse sua mãe
tomar aquele remédio e aguardasse ele chegar com uma injeção anti-inflamatória, poisele teria que ir buscar no estoque que ficava em outro posto no lugarejo vizinho.
Alan Medroso obedeceu a instrução e seguiu em disparada com os remédios e ao chegar bem no ponto onde todos temiam os barulhos assustadores, avistou no seu ombro uma coisa que lhe deixava desesperado e tinha caído de uma árvore; para ele era um monstro chamado lagarta, e sem pensar jogou o gato para cima e tentando se livrar da camisa, se jogou no chão, até que se despiu totalmente para garantir que a lagarta não tocasse na sua pele. Neste meio tempo o Chanito assustado se afastou do garoto devido o movimento brusco. Logo nas folhas secas dentro da mata correu um pequeno rato, e o
gato por instinto começou a seguir o camundongo tentando capturá-lo, e com isso foi adentrando na mata.
Depois de todo o susto, o garoto com um graveto revirou a sua roupa para garantir que o monstro já tinha saído dela, ao avistar a lagarta fugindo por sobre um tronco apodrecido que estava caído à beira da estrada, pegou a roupa e a vestiu, e passado o susto, percebeu que Chanito tinha desaparecido. Então ele entrou na mata à procura do gato, e depois de algum tempo se deu conta que estava perdido, e o tempo foi passando e a
cada tentativa de voltar para estrada ele percebia que estava andando em círculo, com isso decidiu subir em uma árvore para tentar descobrir o sentido certo, mas o que ele avistou foram duas grandes árvores que se destacavam no meio daquela mata, elas eram tão juntas que os seus galhos se entrelaçavam uns aos outros.
O garoto foi até lá, e assim que chegou ouviu um miado, e de cima de um dos galhos surge o Chanito com sinais de que tinha acabado de fazer uma refeição. Logo a noite chegou e uma rajada de vento balançou os galhos das árvores e um gemido assustador ecoou na mata. Alan medroso ficou ali, atento a todos os barulhos que geravam medo na população daquela região, é que eram causados pelo atrito dos galhos de uma árvore noutra. Enquanto isso o enfermeiro cheou à casa do Alan Medroso e encontrou a dona Gerusa ainda prostrada; ele a medicou e na sequência chegaram os membros da família que retornavam da festa, logo um alvoroço se instalou naquela casa... O Alan Medroso e o gato Chanito tinham sumido..
Então, apesar do medo de passar na estrada assustadora, se juntaram e
foram atrás do garoto, e em todo o percurso eles gritavam o nome do mesmo, até que ouviram o Alan Medroso responder com gritos, então, através dos gritos respondidos pelos outros o garoto se guiou e saíu
na estrada.
Lgo veio a notícia de que a dona Gerusa estava melhor, então todos quiseram saber, como Alan Medroso teve coragem de entrar na mata, bem no local que a maioria tinha pavor de passar.
Então, o Alan Medroso contou todo o acontecido, e revelou que todos os barulhos e gemidos que tanto amedrontavam e apavorava de medo àqueles que passavam naquele local, eram criadom pelo atrito dos galhos de uma árvore noutra, devido os ventos que sopravam na calada da noite, e para finalizar a conversa, ele deu um sorriso e disse – senhores, tudo começou quando uma lagarta caíu de uma árvore em meu ombro, despertando o meu medo... E depois eu descobri que de duas árvores vinha o barulho
que apavora todos vocês, então, eu posso afirmar que o medo vem das árvores, neste momento todos começaram a aplaudir o Alan Medroso e num coro só, começaram a gritar -"Alan Corajoso... Alan Corajoso... Alan Corajoso", e desde então as pessoas pararam de ter medo daquela estrada e o garoto que era conhecido como Alan Medroso se tornou Alan Corajoso.

 

 
 
Poema publicado no livro "Pé de pato, mangalô, três vezes!!!"- Edição Especial - Junho de 2017