Helena
Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ
Se
um sapo virasse um príncipe
Cada avó tem os netos que merece. Há poucos dias Isabelle
mirava um sapo na grama do quintal e a sua avó lhe disse que
não mexesse com ele, porque se tratava de um príncipe
encantado. A menina olhou meio de rabo de olho e respondeu-lhe: “sapo
é sapo, vó, não é príncipe nada!”
E a senhora lhe disse mais uma vez que ele iria virar um príncipe
e se casaria com ela. Novamente Isabelle respondeu-lhe: “vira
príncipe nada, ele é sapo e sapo casa com a sapa.”
Quatro anos de idade e uma capacidade de argumentação
que as crianças de algumas décadas atrás não
possuíam ou não queriam simplesmente argumentar com
alguém mais velho. Era mais fácil ouvir sem entrar em
conflito ou quem sabe o romantismo fosse mais cômodo. Sonhar,
acreditar no impossível, amortece as infelicidades do dia a
dia.
As estrelas atualmente parecem brilhar menos, embora as noites continuem
estreladas; as cigarras parecem cantar menos, mas as tardes continuam
ensolaradas. Os vagalumes, ah, esses desapareceram quase por completo
com os quintais cimentados e o barulho ensurdecedor das buzinas e
das obras multiplicadas que também espantam os bandos de pássaros.
E aí sapo não vira mais príncipe; acaba mesmo
casando-se com uma sapinha, embora as festas de aniversários
com príncipes e princesas aumentem a cada dia. Assim os pequenos
aniversariantes e seus convidados se encantam e saem carregados com
baldes de docinhos, além de brinquedinhos e outras guloseimas.
Que bom que “nada se perde, tudo se transforma”.
E os avós que tratem de acompanhar a evolução
do mundo, se quiserem participar da vida de seus amados netinhos.