Fernando Aguiar

João Riel Brito

Ismar Becker

Abraão Sampaio

Iza
Engel

Matheus Zanardini

Maria Rita de Miranda

Jaídson
Gonçalves

Maria Elizabeth

Roberto Deitos

Alberto
Montes

Lúcia Barbetta

Rozelene Furtado de Lima
Teresópolis / RJ

 

 

O que é que minha filha vai falar

 

Numa tarde qualquer, umas dez mulheres da família se reuniram sem pretextos aparentes, mas na verdade o que elas queriam era chorar as pitangas, gargalhar, compartilhar experiências e dúvidas. Uma vez ou outra essas reuniões aconteciam. Todas levavam pratos prontos, especialidades deliciosas de cada uma delas, as mais ocupadas levavam bebidas e saladas. A partir das treze horas e sem hora para acabar. 

Em um dado momento do encontro a temática escambou para a tecnologia. Começou com uma delas exibindo a foto da netinha recém-nascida. Então foi um tal de passar celular de mão em mão seguido de comentários e elogios.

E aí a frase: no nosso tempo não tinha celular, nem redes sociais, e fotos saiam caríssimas e a maioria embaçada. Gargalhadas e risos. Lembra daquela festa e do baile? ... Tome de lembranças, eis namorados, candidatas a sogra, risos e mais risos.

Sentadinha numa poltrona mexendo no celular estava a filha de uma delas, Addena, que de alguma forma prestava a atenção nos “bobajóis” falados pelas tias, mas pensava: - elas estão felizes por nada, tudo sem graça, criticava em pensamento até o vocabulário das senhorinhas.. Addena tinha uma filhinha, que deixou na escola e em seguida levou a mãe para a reunião familiar. Ficaria ali até ao final da tarde aguardando o tempo passar. Resolveu interferir na conversa.

Ela levantou-se aproximando da mesa e perguntou? – O que é que minha filha vai falar para filha dela “isso não tinha no meu tempo”? Todas ficaram em silêncio e uma delas que era jornalista ousou falar: - chips inseridos no corpo. Uma outra comentou – algum tecido diferente que não se lava. E foi saindo mais “bobajóis” – comida em pílula – bebês que não nasciam no útero da mulher – tipo de carro individual dobrável como uma mala sem motorista – casas tecnológicas e super inteligentes – relacionamentos coletivos – pílulas e aparelhos para fazer bebês em casa – jatos super rápidos sem piloto – energia mental para resolver tudo – equipes de robôs em casa fazendo o trabalho humano – pessoas que não envelhecem e prolongação da vida – a vida será totalmente modificada – maquinas de 3D podendo produzir quase tudo em casa. E elas iam deixando a imaginação fluir.

Addena pensou: será que viverei tudo isso? Elas têm razão nas previsões futuristas delas? Ou isso não é nada do que vem por aí.

 Um velho escritor, que não lembro o nome dele agora, disse: - “É preciso que o velho morra para que as novidades cheguem”. Hoje nada precisa morrer nem ninguém porque as novidades chegam atropelando o conhecimento. Da minha avó para minha mãe, algumas mudanças, da minha mãe para mim boas mudanças, da mim para minha filha grandes mudanças, da minha filha para minha neta estúpidas mudanças. Vida que segue sem medo de viver.

Bora curtir a vida, até porque não somos cientistas da tecnologia e cada instante é um instante passado acontecendo com tanta rapidez que é perda de tempo querer acompanhar. E tudo é muito além do que a imaginação humana atual pode alcançar ou contribuir no ritmo do avanço da tecnologia. Temos que aceitar, compreender um pouco, atualizar um pouquinho sendo sempre um aprendiz com síndrome do esquecimento. 






Conto publicado no livro "Contos de Outono"
Edição Especial - Junho de 2023

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