Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA

 

 

Verso que não retorna à caverna

 

Distraído, um verso sai da caverna…
Um grito silencioso usa um único signo
Que sai lá de dentro da prisão que o silenciava na escuridão
Onde habitam gemidos, sons, ecos e verborragias alucinantes
E que se Freud estivesse vivo não conseguiria explicar
Nem Saussure nem Bakhtin, nem Pessoa nem Guimarães Rosa…
Nenhum filósofo desconstrucionista também conseguiria explicar
A movência distraída desses signos que residem no abismo do não-ser…
Distraído, um verso sai da caverna…
E disparadamente se atira no mar, num suicídio de quem algo queria dizer
E não foi capaz de fazê-lo porque o verso que sai da caverna
Habituou-se à prisão de um mundo dominado por discursos fixos
Que desfaz o ser de seu caminho errante, desértico…
Levando-o ao caminho deserrante, em forma de falso oásis…
Tirando-lhe da verdadeira estrada que seu eu desejava seguir…
Distraído, um verso não quer retornar à caverna
O verso que sai da caverna precisa a ela retornar
Para fechar o pensamento uterino da eterna repetição
Que sempre detém o dom de narrar, descrever e ameaçar…
A ininterrupta prosa humana desejosa por evolução
Está a repetir o eterno desejo de quem quer avançar
Atravessar, vomitar o vômito da insana banalidade do mal
E em conexão com a contradição deseja por fim à razão
Explodindo com a caverna que escraviza o verso
Em sua reflexão, libertação e consciente escavação…
E o verso que sai da caverna para lá não quer mais voltar
Porque ele ouviu a voz de sua consciência, vinda lá de seu interior
E, como distraído verso, definitivamente libertou-se de seu terror…

(À minha amiga luso-brasileira Silvana e seu esposo Tiago)

 

 

 

 

 
 
Poema publicado no Livro "100 Grandes poetas modernos" - Edição 2018 - Setembro de 2018