Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

 

O toque da sineta

 

 

Parecia que estava acordada. Uma turma de meninas e meninos, na faixa de dez, onze anos. Crianças risonhas e bonitas. Estávamos em um colégio enorme; havia uma escadaria e eles deveriam ficar naquele dia, ali, nos seus degraus.

Eu não me sentia jovem, talvez minha aparência fosse como sou agora, mas ministrava a minha aula com alegria. Várias pilhas de livros estavam no patamar da escada. Pedi a uma das alunas que pegasse um livro e começasse uma leitura. Ela recebeu o exemplar das mãos de uma jovem que parecia a guardiã dos livros, uma bibliotecária talvez, e desceu os degraus. Disse-lhe então que subisse novamente e fizesse a leitura na parte superior da escada. Só que as crianças ficariam de costas para ela e eu via claramente que não poderia ser assim. Ela desceu, mas não iniciava a leitura.

Comecei a falar sobre a importância de um palco, as várias de suas utilidades, como: ficar mais visível para o público, ser um lugar de destaque, a voz ser mais audível e assim por diante. Sugeri que todos fizessem um texto sobre o palco, como tarefa de casa. De repente, percebi que estava na hora de encerrar a aula e aconselhei-os a não voltar para suas casas sozinhos, que fossem embora em grupos, para evitar algo desagradável pelo caminho.  Um lindo menino respondeu-me: “Como, professora? Não podemos!”

Não soube o que lhe dizer e lhes pedi que descessem, formassem, porque o sinal já iria tocar. Desceram em silêncio e perfilaram-se. Estranho! Crianças tão comportadas... Outras turmas já esperavam; também silenciosas. Ali permanecemos; paralisados, como se encobertos por uma extensa nuvem acinzentada. Não se ouvia algazarra e nem o sinal. O que acontecera? Não entendia; ninguém parecia preocupado. Então o discernimento esclareceu-me a mente e o coração: não existíamos temporalmente. A escola estava vazia. Éramos espectros de um passado feliz e prazeroso. As crianças que ali estavam, viveram um tempo impossível de ser vivido no momento presente. Acordei com uma sensação de que tudo era real. Permaneci silenciosa, meditativa. Um sonho enigmático, meio nostálgico.

Eu sou testemunha! Eu vivi a sala de aula como aluna e depois como Mestra. Muita gratidão a Deus por isso! Um sentimento de saudade tomou conta de mim.

Que tudo possa acontecer novamente, que nossas crianças e jovens com seus professores possam voltar a ser felizes, estudiosos e saudáveis. Que o futuro revele uma lição de amor, de esperança e de paz. Que haja um processo de evolução no plano educativo e em todo o planeta já tão castigado e sofrido.


 


 




Conto publicado no "Livro de Ouro Contos "- Edição 2021 - Outubro de 2021

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