Nilton del Nero Jr
Angra dos Reis / RJ

 

 

Dois queimados numa aventura suja

 

          A chance de Waldir Gambá “pegar” Cidinha era nenhuma. Ela era bonitinha, dengosa, gostosinha, já ele, diga-se de passagem, além de feio nunca foi chegado a um banho, um desodorante. Assim, pra conquistar a garota ele teria que usar uma tática que considerava infalível: as cartas de amor.
          Waldir só estudou até o primeiro ginasial; não era bom de português, mas descobriu quem era: Professor Salomão Praxedes, autor do livro “101 Apaixonantes Cartas de Amor”. Comprou o livro e à custa daquelas cartas que ele resolveu copiar a mão como se fossem de sua autoria, pegou muita “muié” na colônia onde morava. Era um “poeta”, e as mulheres de um modo geral costumam ter uma quedinha especial pelos bardos apaixonados.
          A técnica era simples: ele copiava uma carta que falasse de um amor imenso e verdadeiro e depois botaria na caixa do correio, endereçada a “Princesa Cidinha”. E a coisa funcionou mesmo; depois da quarta ou quinta carta a garota já estava tão apaixonada que nem ligaria mais se ele não fosse o "príncipe" que ela sonhava. Daí ele aparecia, fedorento e altaneiro e consumaria o desatino. Para isso, combinou com Cidinha que o “serviço” seria no próximo sábado, atrás da igreja.
          Só que um grande problema surgiu, quando Custódio, amigão de fé, também se interessou em dar uns guentas na beldade e teve ideia de usar o mesmo recurso de Waldir. Daí comprou também um livro de cartas amorosas. Só que sem muito cuidado... acabou comprando um livro igual ao do Waldir.
          Aí você já pode imaginar o merdelejo que deu: Custódio escolheu a carta da página 35, cujo teor - letra por letra - era o mesmo que encantou a Cidinha a ponto de ela aceitar o convite para o “serviço”. Assim, logo que recebeu recebeu a carta, abriu, leu, achou parecida com a de Waldir, comparou e viu que não era parecida: era uma cópia! A carta do Custódio era uma xerox da página 35.
         Daí, sacanagem por sacanagem, Cidinha não deu pra nenhum dos dois.

 

 


 




Conto publicado no livro "Contos de Grandes Autores"
Edição Especial - Maio de 2021

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