Otaviano Maciel de Alencar Filho
Fortaleza / CE

 

 

Conversa franca entre amigas

 

  

Defronte a escola de educação infanto-juvenil de tempo integral, as mães e os pais que iam buscar seus filhos, aguardavam ansiosamente o tocar da campainha que indicava o término das atividades do dia.
Enquanto aguardavam, uns ficavam encostados na parede do edifício, outros sentavam nas escadas de acesso ao local, enquanto outros grupos se formavam junto a um jardim e se entretinham conversando sobre as mais variadas situações da vida.
Laura aguardava a saída de Clarissa, sua filha, uma menininha de sete anos de idade quando sua amiga Mara chegou, pois também havia ido esperar a saída de sua filha Glória, uma adolescente de treze anos de idade. Logo as duas começaram um bate papo animado.
- Oi Laura, tudo bem? Como vai a família? - Perguntou Mara.
- Estaria tudo bem, não fosse o cansaço físico devido ao trabalho, Mara. Mas como diz o ditado popular, não adianta se lamentar o jeito é levantar a cabeça e conduzir a vida adiante! No mais tudo tranquilo! – Respondeu Laura.
- É isso mesmo amiga, devemos agradecer a Deus todos os dias por termos saúde e paz em nossas famílias. Falando nisso, a Clarissa está indo bem nos estudos? Pergunto por que, no meu caso, preciso estar “em cima” da Glória diariamente para que ela possa fazer os deveres de casa! - Disse Mara.
- A Clarissa até que não dá trabalho! Quando ela termina os deveres o propósito dela é assistir desenhos animados na internet. - Falou Laura
- Ah, Laura, nem me fale em internet! Tenho que retirar o Telefone celular de Glória senão ela passa horas e horas nas redes sociais conversando com as amigas aqui do colégio. - Disse Mara, passando as mãos na fronte, demostrando preocupação!
- Os adolescentes de hoje em dia não são mais os mesmos, nessa era de tecnologia estão cada vez mais reféns das mídias digitais, passando horas e horas em frente de uma tela de computador ou celular. Não brincam mais umas com as outras, como antigamente. - Falou Laura, mostrando um semblante abatido, fazendo perceber certo desapontamento com as situações da vida presente!
- E verdade, Laura, nós os pais, temos que estar atentos, pois as ciladas que eles estão submetidos nestes ambientes são cada vez mais constantes. Embora as informações constantes na internet sejam importantes para o aprendizado, existem muitas informações que são verdadeiro lixo e ao invés de ajudar acabam prejudicando a condução dos mesmos na vida.   Ademais o importante não é somente informar, mas saber como informar, você não concorda comigo?  - Perguntou Mara!
- Claro que sim, Mara, inclusive a Clarissa, na semana passada, me fez uma pergunta que fiquei sem saber o que responder. Ela me perguntou o que era sexo. Na hora fiquei perplexa e sem atitude diante tal questionamento e quis saber o porquê dela estar me perguntando sobre isso. - Esclareceu Laura.
A conversa continuou ativamente entre as duas amigas.
- E ela, o que disse? - Perguntou Mara.
- Falou que ouvi das meninas das outras salas de aula, no intervalo para o almoço, que sexo era beijar e abraçar os meninos. Disse também que as meninas ficavam sabendo sobre tudo isso na internet. Naquele momento fiquei em estado de choque sem saber o que fazer, então falei que ela havia entendido errado e que aquele não era a hora certa para falarmos desse assunto. Diante de sua insistência, disse que era a separação entre meninos e meninas, entre homens e mulheres. Foi a única explicação que me veio à mente naquele momento. Você acha que fiz a coisa certa? - Quis saber Laura a opinião da amiga.
- Sim, Laura. Na verdade acho que ainda não estamos preparadas para discutirmos estes assuntos abertamente com nossos filhos e acabamos protelando a solução do problema. Dizemos: Tudo tem seu tempo! Mas com todas essas informações na internet temo que as gerações futuras, se não tiverem algum tipo de amparo, no que diz respeito a tratarem de assuntos como este com seriedade e ética e sem falsos moralismos, possam ter sérios problemas nas áreas afetivas e emocionais, afinal o negócio hoje em dia é “ficar”. De qualquer forma esse assunto ainda é tabu e mesmo entre profissionais da área ainda encontramos muitos com dificuldades em abordá-lo. Particularmente, ainda procedo como os meus pais: deixo as coisas irem se amoldando naturalmente, mas, claro, observando com atenção as informações que Glóri a passa a ter contato na internet. Penso que o correto é conversar bastante com nossos filhos e aos poucos irmos esclarecendo as dúvidas que eles têm. Dúvidas, aliás, nossas quando ainda éramos crianças, não? - Perguntou Mara, aguardando a resposta positiva da amiga.
- É verdade Mara, hoje passamos pelas mesmas situações conflituosas que nossos pais passaram. Mas agora cabe a nós resolvê-las! – Afirmou Laura.
A sirene tocou e a meninada começou a ir de encontro a seus pais.
Mara e Laura se despediram, marcando novo encontro para o dia seguinte, para poderem continuar com a discussão sobre tema muito antigo, mas ainda de difícil tratamento.

  

 

 
 
Publicado no Livro de Ouro do Conto Brasileiro - Edição 2018 - Agosto de 2018