Maria Ioneida Lima Braga
Capanema / PA

 

 

Conto de irmão mais novo







Os dois irmãos no quarto. A casa um silêncio, só. Um deles depois de muitas tentativas para remontar um brinquedo desistiu e jogou para longe os pedaços e tratou de pegar a massinha de modelar. O outro desenhava.
- Catei um carrapato no meu gato hoje – Disse Tavinho o irmão mais velho, sem desviar os olhos do desenho - Ele ficou brincando com o bicho. Urgh..., horrível, cheio de pernas e saiu empurrando com a pata.
- Com a pata do pato? - Fala Lucas - Logo interessado.
- Não, burro. Com a pata dele - Retruca azedo - Já arrependido de ter puxado aquela conversa.
- E o cara pato fez o quê?
- Que cara pato, idiota. É carrapato - Esbraveja - Tavinho.
- Hum, tipo corra pato, olha o gato?
Lucas só transtornava ainda mais Tavinho, que já começava a ficar desesperado.
- Aff!!! Não entendeu patavina esse imbecil - Resmungou.
- E essa pata vinda de onde, mesmo? - Disse Lucas displicente ante o resmungo do irmão - Na maior inocência.
- Nâããoooo, buuurrrroooo!!! - Berrou Tavinho – Chega, desisto, não dar para conversar com você.
E saiu derrubando tudo e entrou a sala ainda destrambelhado e esbarrou no pai, que ia chegando, o refreou.
- Que é isso Tavinho? O que aconteceu ? Que raiva é essa filho?...Senta aqui vamos conversar.
- Não pai, não quero conversar. É o burro do Lucas que me tira do sério!
- Entendo. Sei muito bem o que é isso...Já estive no lugar do Lucas.
- Como assim? - Burro?
- Não. Irmão mais novo. O teu tio Silas vivia para me azucrinar. Tinha um dom de inventar coisas complicadas e pegava sempre no meu pé. Um dia estavam umas pessoas lá em casa. Eu ainda nem cursava o ensino médio. Ele puxou-me para a roda e prendendo a atenção de todos, desafiou-me a decifrar essa charada, "O que é o que é? Quando parte uma, partem as duas. Quando chega uma, chegam as duas?" ali bem no meio de gente, eu encurralado com cara de bobo, olhava de um lado para o outro sem saber onde enfiar a cara, queria mesmo era me enterrar. Fui socorrido pela prima nerds, que me livrou na hora daquela situação. Eu estava para morrer de vergonha por parecer tão bocó, e ele, não. Se comportava como se fosse a coisa mais natural do mundo aqueles vexames que me fazia passar. Foram muitos os perrengues, por conta da imaginação e criatividade surpreendentes dele. Parecia, até, que tinha prazer em me deixar sem graça. As danadas daquelas pegadinhas com cálculo matemático, então, "Divida 40 por meio e some 20. Qual é o resultado?". Essa e muitas. Eram um horror. Matemática não era meu forte.
- Mas, o titio é gente boa?
- Claro que é. Aqui acolá ainda manda uma das suas pegadinhas ou charadas ridículas, mas, crescemos, né? Sou hoje astrofísico. Matemática não me assusta mais.
- E ele,  pai, é o quê?
- Ele, ele...? - Viajando. Ganhou o mundo. Ainda continua sendo um bom exemplo, meu mestre, meu orgulho. Aquele cara bom de improvisação, mente perceptiva. Empatia. Inteligência emocional. Se eu for listar aqui as qualidades dele não acabo hoje...
- Sim, pai não enrola. Mas, é o quê, mesmo?
- Ah, filho... Ele é escritor.

 


 




Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro"
Edição Especial - Outubro de 2020

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