Romilton
Batista de Oliveira
Itabuna / BA
Negra mulher
Nasci na margem da história contada pelo
branco dominador
E logo percebi minha tríade companheira:
Mulher, pobre e negra
Mulher de resistência que cava a sua história
Com os seus grossos lábios e suas pernas formosas
É guerreira e vê no seu corpo sua defesa, sua liberdade
Pobre de valor que desce às calçadas na labuta de
seu dia
No sol escaldante, é baiana do acarajé, do movimento
que lhe embala
Do canto que lhe escapa da lembrança de seus antepassados
Da dança que embeleza sua caminhada
Do sonho de ver a liberdade voar por todo o seu corpo de mulher
Marcada pela guerra de todo dia
Marcada por sua plural religiosidade
Dividida por suas múltiplas culturalidades
É negra na cor que lhe invade a alma de extrema beldade
É negra no sorriso que desmancha as ondas do mar infinito
É negra que na cor presenciou tantas atrocidades praticadas
Por visíveis homens que detinham o poder de na senzala
nos colocar
Sem saber que também viviam enclausurados em sua senzala
capitalista
Porque lá, bem dentro de suas máquinas pensantes
Reinava um vazio sem cor, um vazio de rancor
Do tamanho do horror que eles praticavam
E que ainda continua praticando
Através de novas senzalas que os aprisionam
Sou negra que sonha por novos campos sem “concentração”
Dominados pela poesia que coloca num só lugar todas as
cores deste mundo colorido.
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