Manoel Neto de Sousa
Salitre / CE
A Rua da Amargura
Meu Deus, que rua é essa?
É a rua onde eu brinquei menino?
Não, é outra a São José onde eu
precariamente rodei pião, joguei
peteca e bola de gude, cortei
bandeirola para São João. Não é
mais a São Pedro da fogueira acesa,
da batata-doce assada, da maloca
de moleques no meio da rua, da
máquina preto-e-branca que, aos
domingos, assediava os nossos olhos.
Não é mais a rua do primeiro amor,
nem a do melhor amigo, das cartinhas
enviadas de soslaio... Não é mais a do
tempo em que, crianças, simulávamos
a vida, em que viajávamos juntos com
os carros de flandres... Não é mais a
Rua São José, que, mesmo precária,
fazia-se inteiramente grande para nós.
Puseram-na toda calçada, com ornamentos,
mas, à noitinha, portas batidas, crianças
não fazem mais a alegria. Cadê a minha
rua, minha bola, meu pião? Cadê a calçada
decenária onde meu pai punha a cadeira
para fumar e dar goles em café com os
vizinhos, em longa conversação? Essa
não é a São José esbelta, alegre,
hoje
convertida em Rua da Amargura.
|
|
|
|
|