Romilton Batista de Oliveira
Itabuna / BA
Faísca eterna
Quero neste momento de cheia noturna
Escrever uma palavra que não se vista de nenhum traço
ocidental
Escrever um signo desvestido de pureza e de hibridismo
Ou qualquer fonte de formação ou deformação
Quero escrever uma palavra que rompa com qualquer sentido criado
Qualquer disfarçada roupa emprestada
Ou ruído de algum vagabundo som perdido
Quero escrever sem a presença da escrita ou da escritura
Ditada por cruzamento de signos fechados e dependentes
Quero escrever como quem se perde e se acha de repente
Entre seus perdidos lugares, sem identidade nem sol nascente
Ou qualquer representação que lhe anuncie
Quero escrever uma palavra sem raiz ou qualquer relação
semântica
Que ela tenha um tecido diferente, conduzida por letras deslizantes
Que ela cresça sem a eterna vontade de potência de
dupla face
Que ela irradie a si mesma sem nenhuma alteridade distraída
Que ela se doe em sua própria estrada sem formas, sons
e formalizações
Sem nenhum amparo da Ciência da Investigação
Sem tecidos culturais e ideológicas formações,
ranços tecnicistas e abraços futuristas
Sem cor, sentido e rancor. Uma palavra que se valha ser o que
deve ser
Rodeada por mistérios, dessentidos, silêncios e anti-dualismos
Carregada de um lugar embriagado de rupturas e tempestades
Desamparada de singularidade ou totalidade, estruturalismos ou
forças opostas
Uma palavra em forma de sonho a se realizar
Na faísca acesa por uma eterna brecha que nos conduza ao
amor
Amparada por um raio de eterno espaço deslizante,
Cortada pelo tempo que marca a poesia deste eterno momento.
(Homenagem à professora Ana Maria, do Colégio
Inácio Tosta Filho, Itabuna, Bahia)
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