Joanes da Silva Lessa
São Paulo / SP

Céu de mariposas

Em sua boca, os vocábulos imprecisos,
a distância em fuga, o horizonte vasto;
o sol a se pôr em ácido sorriso:
labirinto estranho de alabastro.

Surpreende-me o descaso e o desencanto
do seu gesto inconcluso e o mudo senso.
Não me atrevo a prosseguir e, no entanto,
não dou conta desse amor, em mim intenso.

Já não vivo as certezas do horizonte.
Trago apenas o olhar turvo de desejos,
atravesso, incontinênti a mesma ponte,
para entregar-me à barbárie de seus beijos.

Calem-se as vozes que conclamam: “É em vão!”
Saberiam em qual medida o peito inflama?
Também fogem as mariposas, à escuridão,
e se jogam cegamente sobre as chamas.