Sandra Berg
Belém / PA

Retratos

À luz da cultura um pintor de rua faz retratos
Com a destreza de quem semeia
Na intimidade de alguém.
Passantes lhe pedem que ponha em contorno
O que lhes parece fugir de si mesmos
Uma beleza esvanecida no semblante que se apagou
Nas pinceladas do tempo
Que vai blefando em cima de tudo...
Usando a ponta tosca dum grafite
O pintor manda o seu recado
Efeito do lápis mina e a luz que emana
Do fundo branco do papel.
Entre as linhas quebradas da figura
Ele esboça em esfuminhos gentis
Uma feição de particularidades sutis
Coisas que vêm lá do fundo.
No rosto gasto em seus restos de doçura
Cuja luz foi usurpada pelas sentenças sociais estabelecidas
Onde a ordem é desordem, só ordenada
Pelas mãos do verdadeiro artista,
A tortuosa dor humana adquire uma cosmologia infinita.
Ressaltos da clarividência se encaixam aos fatos,
Casualidade?
Olho para o desenho
Vejo alma em dégradée,
Entre luzes, sombreados, correm panos em você...
Fecundo instante da verdade ele põe em realce
Um sentimento esquecido
Que jaz em nós a morrer.