Teresa
Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI
Não deixe a mulher em casa
A irmã trouxe um chá. Camomila. Um
sentimento íntimo de invalidez o assaltou e razões
diversas teve para se julgar. Pulsava-lhe aquela existência
verdadeira que, fê-lo pegar a xícara sem mirar a
irmã. Olhava o vazio. E num recanto pôs a se lembrar
de tudo.
Amava a rua. Cheia de luzes, pessoas, carros, era o movimento
que o excitava. O ouro vivo da rua, com toda aquela gente conversando
nos bares e as horas sem conta em sorrisos com os amigos. Nunca
teve um ato de arrependimento por voltar para casa apenas nas
madrugadas. Era homem e, assim se explicava aos filhos e à
esposa. Os homens querem sair e andar; querem, sobretudo, ser
capazes de encobrir seus atos com a simples justificativa de que
é sinal de masculinidade; para eles, permitiam-se o prazer
de viver segundo determinações próprias.
É esse mesmo o sentimento que preenche a lei dos homens.
Não precisa dizer nada em casa. Não se explica.
Não se dá atenção. Resume-se em sentar
à mesa, pedir o café da manhã e começar
mais um dia de trabalho. As palavras se tornam poucas, falta um
olhar que seja bem formulado, dessa longa vida a dois. Quinze
anos.
Tivesse, porém, como voltar atrás, faria diferente.
Tudo se transforma – a mulher um dia cansa. O coração,
que de olhos feridos, vai-se para outros lugares. São pensamentos
e gestos que se mostram de beleza e vida e saem para outros rumos
[...] e partem da antiga companhia.
Um homem sabe quando fica sozinho. Tanto não quis a esposa
e os filhos, nem pôde dizer nada e querer que ficassem com
ele; todos sempre calados, talvez tivessem aprendido a ser indiferentes,
deixaram-no numa simples manhã de domingo e foram para
outra cidade continuar a vida...
Ô solidão na casa!
Os olhos na varanda... a irmã arrumando a bolsa para ir
cuidar da própria casa...
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