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José Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ

 

Amor selvagem


No pequeno povoado de Pedra Lisa, localizado no interior do Rio de Janeiro, no início do século XX, vivia um jovem chamado Marcos Paulo, somente os antigos moradores o conheciam, pois ele vivia recluso na chácara dos pais desde quatorze anos de idade.
Em 1916, o país passava pela expectativa da participação na Primeira Guerra Mundial, havia uma comoção nacional devido ao afundamento de um navio brasileiro, torpedeado por um submarino alemão, apesar de a tripulação do navio ser composta por militares noruegueses. Alheios aos horrores da guerra e demais acontecimentos mundiais, Marcos Paulo partia para uma caçada na companhia do pai e de dois tios, foram para uma área de caça próximo de uma cachoeira chamada de Jaceruba, normalmente eles ficavam lá por dois dias. No primeiro dia abateram o suficiente para abastecer a família por aproximadamente quinze dias, à noite amarraram suas redes de dormir a cerca de dois metros do chão, a caça penduravam o mais alto possível, temendo o ataque de algum animal selvagem, pois o aparecimento de onças naquele lugar era comum, também fizeram duas fogueiras, uma de cada lado do acampamento. Por volta das seis da amanhã, o Sr. Joaquim acordou seus irmãos para perguntar se eles haviam visto o filho, pois o mesmo não estava no acampamento, entretanto, seus equipamentos e suas roupas estavam em sua rede. Algum tempo depois, o rapaz apareceu com alguns cortes pelo corpo e uma enorme marca de mordida no pescoço, que segundo ele, um enorme lobo o havia arrastado para dentro da mata, de tal maneira que nem gritar conseguia, apesar de profundos e sujos, estranhamente, os cortes pareciam ter sido feitos há mais tempo, as cicatrizes logo desapareceram, e ele se tornou mais agressivo e sensível aos raios solares.
Todos os meses o rapaz desaparecia por um período de oito dias, sempre na fase da lua cheia. Quando retornava, não dizia uma única palavra, além de muito magro e sujo, apresentava muitas cicatrizes também, que logo desapareciam. Assim ocorreu por alguns anos.
Em meados de 1927, uma nova família comprou a chácara ao lado, onde logo construíram uma boa casa, nessa época havia apenas dezesseis famílias em Pedra Lisa. Os novos moradores eram descendentes de alemãs e tinham três filhos, dois rapazes e uma linda moça de dezoito anos chamada Simone Helzer, seus lindos olhos azuis combinavam com os longos cabelos loiros. Era, sem dúvida, a mais bela mulher do povoado, embora as outras também fossem muito bonitas.
Aos domingos se reuniam para uma moda de viola com comes e bebes, mas nem quando se reuniam na chácara de Joaquim, o filho era visto, na verdade ele ficava escondido vendo as pessoas se divertirem. Certa vez, ouviu uma voz diferente e foi conferir, foi quando viu Simone, seu coração bateu descompensado, não conseguia parar de olhá-la, de repente ela se virou em sua direção, não o viu, mas sentiu a sua presença.
Passados dois dias, Simone fez um bolo para Dona Lourdes, a simpática esposa do Sr. Joaquim e mãe de Marcos Paulo, e pediu que sua mãe a acompanhasse a casa dos vizinhos, na verdade, ela queria tirar a limpo aquela sensação de quê havia alguém lhe olhando na última reunião, alguém que mexeu com seu coração mesmo sem vê-lo. As famílias passaram uma tarde maravilhosa, e entre um pedaço de bolo e um gole de café, a jovem corria os olhos por toda a casa, sempre sentindo mesma sensação, mas ainda não foi desta vez que ela conseguiu esclarecer tudo aquilo.
Simone fez amizade com outras jovens do povoado, foi então que ficou sabendo que aquela família tinha um filho recluso, mas que a família evitava o assunto. Isso aguçou a vontade de uma maior aproximação, queria muito desvendar o mistério que ronda aquele que tomou conta dos seus pensamentos e seu coração.
Houve uma noite em que a lua cheia clareava o povoado como se fosse dia, estranhamente, a jovem sentia seu corpo arder como num estado febril, no meio da madrugada ela se levantou e caminhou pela casa, estava completamente molhada de suor, então saiu para o quintal, ficou uns instantes numa espécie de transe, completamente paralisada olhando aquele lindo luar, de repente começou a tirar suas roupas e a banhar-se ali mesmo, houve um momento em que olhou na direção da mata, onde uma sombra encobria parcialmente algo que se movia, pode então ver um par de olhos refletirem em sua direção, não teve medo, até pensou em se aproximar, mas se deu conta de que estava totalmente nua, e ao desviar os olhos para procurar suas roupas, o vulto desapareceu.
Chegou o dia em que a moda de viola seria organizada pelos pais de Simone, para a surpresa de todos, Joaquim e Lourdes chegaram acompanhados de um rapaz alto e muito bonito, todos ficaram emocionados quando a mãe, toda orgulhosa, apresentou o filho a todos, e Simone olhava para ele emocionada e com o rosto banhado em lágrimas. Ele não olhava para mais ninguém além de Simone, e sem dizerem uma única palavra, caminharam em direção ao outro e se abraçaram longamente. Todos compreenderam que ambos haviam sidos tomados pela força de um amor que dispensava explicações. A partir deste dia não se desgrudaram mais, passaram a se encontrar escondidos durante as madrugadas, onde se amavam ardentemente. Naquele misterioso período, ele fica dentro da mata, e ela fica olhando tentando encontrá-lo na escuridão daquela mata.
Simone amava marcos Paulo de tal maneira que lhe pediu para que ele se aproximasse mesmo independente de qualquer coisa, e quando chegou o momento ele se aproximou, a mutação já havia se completado, mas ela não teve medo e foi também ao seu encontro, a medida que andava tirava as roupas, e ao chegar estava completamente nua, as únicas palavras ditas por ela foi, “Me ame para sempre”, e aquela figura meio homem e meio lobo, tomou aquela linda mulher em seus braços e a amou profundamente. Marcos Paulo amava Simone tanto no lado humano quanto no lado selvagem. Depois a natureza fez o seu papel, transformou Simone tal qual seu amado.

 

   
Publicado no livro "Os mais belos Contos de Amor" - Edição Especial - Outubro de 2014