Valdirene de Assunção
Pereira
Caçapava do Sul / RS
A (ex) analfabeta
D. Anastácia quando jovem, nunca teve oportunidade
de ir à escola, tão pouco ouviu falar sobre a escola,
morava muito distante e o trabalho desde a infância, não
a deixaram conhecer esta que faz parte de seus sonhos, mesmo quando
está acordada.
Comprava algumas revistas, ficava admirada olhando,fixava o olhar
nas figuras coloridas, demonstrando uma tristeza para cada página
que folhava, como se em cada uma delas estivesse escondido segredos,
vontades que não poderia confidenciar, nem tão pouco
realizar, porém não se conformava com sua condição.
- Só não tive a oportunidade de aprender, ainda.
- dizia ela.
Pedia às pessoas que lessem para ela, alguns faziam piadas,
liam coisas que não existiam, somente para ver sua reação.
Sempre aceitava a leitura, acreditando ser por certo a verdade,
mas tinha vontade de aprender, para poder ler sozinha.
Um belo dia, daqueles de capa de revista, daquelas mesmas revistas
que D. Anastácia apreciava as figuras sonhando com a leitura,
mudou-se para o lado de sua casa uma jovem moça, de olhos
de cor esmeralda, lábios cor de pitanga, sorriso largo,
com uma dentadura de dar inveja a qualquer porcelana.
Logo fizeram amizade, D. Anastácia como de costume, pediu
para a vizinha que lesse uma revista que havia comprado a pouco,
a moça admirou-se daquela senhora não saber ler,
nem tão pouco escrever.
Prontamente a moça, foi oferecendo-se a ensinar. D. Anastácia
ficou por alguns segundos ali parada, contemplando o convite,
mas foi respondendo tão em seguida recuperou o fôlego.
- Quero sim, quero muito aprender. - suspirou D. Anastácia.
- Vamos então iniciar brevemente. - disse à moça
que não tinha formação pedagógica,
mas tinha paciência e muito amor, para ensinar.
Começaram devagar em uma cartilha cheia de desenhos e poucas
letras.
A moça mostrava a figura, soletrava devagarzinho o nome,
pegando em sua mão pesada, para que começasse a
desenhar as letras.
Assim foi feito diariamente, por longos meses a fio.
D. Anastácia aprendeu a escrever seu nome completo, também
a escrever o nome dos sete filhos e do seu esposo. Aprendeu a
ler as revistas, a escrever a lista de compras para a feira e
a escrever cartas para seus pais que moravam distantes. Ela aprendeu
muito.
Hoje certamente D. Anastácia vai ler esta estória
e vai lembrar-se da professorinha que a ensinou a ler e escrever.
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