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Maria Claudia
Braga de Oliveira
Cotovelo Ontem me peguei pensando no quão inútil
o cotovelo é. Se fosse substituído por um parafuso
ou algo do tipo, ninguém sentiria falta. Uma das partes
do corpo mais desobedientes e indisciplináveis! Desobediente
porque antes que se perceba já está se apoiando
em algo – normalmente onde não deveria apoiar-se
– e indisciplinável porque é impossível
puni-lo, visto que o cotovelo praticamente não sente dor
alguma! Por mais que a mão se esforce ao beliscar, ele
sempre passa ileso. As mãos também têm lá
sua incômoda independência... Quem as dá o
direito de tapar os olhos na melhor cena do filme?! Falta ao corpo
comunicação, certamente, ou o que explicaria as
palavras que a boca solta, sem perguntar aos pensamentos, sem
deixar o ar sair, sem que a memória tenha tempo de guardá-las?!
O que explicaria a dança dos pés prestigiando uma
música que o cérebro rejeita? O cérebro,
responsável por tudo o que acontece em cada centímetro
do corpo, não consegue controlar seus pupilos, mesmo usando
estratégias desleais como sonhos ruins, crises depressivas
que resultam em atitudes involuntárias... A verdade é
que o corpo só obedece a uma voz, que às vezes passa
dias, meses e até anos sem dizer uma só palavra,
mas que, quando resolve mandar, até o esquecido cotovelo
obedece sem questionar. Essa voz confunde desde o dedão
do pé até os escondidos tímpanos, faz os
olhos mudarem de opinião quanto à beleza das coisas
e a pele fingir que está frio em pleno dia de sol! Então,
quando tudo parece que vai sair do controle, a voz paralisa cada
músculo, cada pensamento e diz pro cérebro que o
nome disso é amor. E é nesse momento que cada célula
do corpo entende que a única ordem impossível de
se ignorar é a do coração. |
Publicado
no livro "Contos de Amor & Desamor" - Edição
Especial - Julho de 2014 |
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