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Teresa Cristina Cerqueira de Sousa
Piracuruca / PI

 

Fanta Uva

Sempre às sextas-feiras. Sim. Depois do horário escolar, nas sextas-feiras à noite íamos encontrar os colegas para aquele papo de professor – conversas sobre o fim de ano e as notas escolares eram as mais frequentes.
Eu tinha ido com uma saia leve e uma blusinha de alças devido ao calor de novembro. O se tornou interessante para o sexo masculino foi que o vento das margens do rio chegou até as barracas onde estávamos e começou a levantar minha roupa. Iniciei um processo de segurar a saia com as mãos, mas não foi o suficiente para que um homem de uma mesa ao lado soltasse um assobio. O fato não me deixou zangada. Ao contrário, senti-me galanteada. E para completar o cortejo, ele sorriu (ah, foi tão natural!) e me disse “Oi”. Resolvi responder sorrindo também, o que para meus amigos foi uma surpresa já que sou sempre avessa a cumprimentar pessoas estranhas.
Eu quis ser apenas agradável, pois considerei ousadia minha ter ido com aquele traje para a prainha. Quando, num encontro de olhares, descobri que meu coração pulsava mais rápido. Que fazer se o corpo sente uma química alucinada em alguns momentos? Meu Deus, o que era mesmo que estabeleci para mim acerca de não ficar com estranhos?
Olhei meus amigos. Anita, uma professora de vinte e sete anos, solteira, repartindo os fins de semana em casa de parentes, gostava de usar o pretexto de adorar bolos e salgados em festas de aniversários como motivo para estar em todos os eventos. Mas sempre só ou com os poucos amigos. As apresentações eram quase as mesmas para os dois homens, a exceção de que eles iam ao clube da cidade para assistir a jogos. No mais, um casal sem filhos com seus estímulos dos sobrinhos em curiosidades por saber de histórias dos adultos. Valia estar com eles e não ter que selecionar lugares – éramos bons de papo em qualquer ocasião.
Lílian inquiriu por eu me levantar e olhar em direção à mesa ao lado.
- Alice, você olha o que você vai fazer. - Disse-me com cuidado na voz, quem sabe por ter a história de vida e idade semelhantes à minha. Quase. Eu não era fã de salgadinhos, porém era fanática por Fanta Uva. Se pudesse, usaria em ocasiões das mais diversas e não seria exagero.
Ousei me sentar ao lado dele. Carlos. Trinta anos. Dentista. Detive-me em saber e falar se ele gostava de passeios, de que tipo de filmes e como consequência soube que ele era uma pessoa empenhada em sentir emoção a dois. Gostei, pois ele me olhou profundamente quando sussurrou que adorava música romântica. Teve o tom de uma cumplicidade, de um segredo.
Na hora seguinte, aliás, munida de risos e das mãos dele nas minhas, eu era já uma mulher cheia de atenção para cada palavra que ele pronunciava. Meu coração também era completamente dele, o que eu me sentia como se estivesse bem comigo mesma.
Com o coração, assim, a pulsar louco, recebi dele o convite para irmos conversar um pouco afastados dos outros. A tênue chama de minha razão serviu para eu olhar em direção a meus amigos, porém, em meio ao que eu estava experimentando no corpo, não dei muita atenção às expressões indagadoras deles.
As mãos, trêmulas, devido à emoção, quase me denunciaram quando ele tomou as minhas nas dele. E fiquei prestes a ter o pulso me denunciando quando ele me acariciou no braço. Acelerou, então, a emoção, mas no temor de ser descoberta, não pude evitar e dizer:
_ Vamos tomar uma Fanta Uva? Estou com muita sede.
Ele sorriu largo. E não inventou. Mas ele soube que eu estava com medo. De mim. De minhas emoções.
A partir, pois, desse episódio era mister que esse refrigerante em nossa noite primeira noite de amor fizesse parte do cardápio. Prova dessa aventura é que hoje ainda recordo de Carlos quando saboreio gotas de Fanta Uva nos lábios. Atenciosamente.

 

   
Publicado no livro "Contos Ardentes" - Edição Especial - Janeiro de 2015