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Maria José Zanini Tauil
Rio de Janeiro / RJ

 

Um derradeiro email de amor

Lorenzo, meu querido,

O meu objetivo não é implorar nada, não quero nada de você, que já me deu tanto. Você foi meu primeiro namorado, meu grande amor. A vida nos separou e a internet fez com que nos encontrássemos, quarenta e sete anos depois.Foi um caso mal acabado, uma história que ficou em aberto e necessitava de um desfecho.

Quero apenas fazer um balanço desse ano de 2014, que está prestes a terminar; da sua presença nele.

A pessoa que se diz com lista de incontáveis defeitos dados por mim, foi capaz de tirar uma mulher do fundo de deplorável depressão: não se cuidava, não mais escrevia,deixou de dirigir, entregou-se vencida à velhice que bate à sua porta, mostrando que nessa vida tudo passa, tudo acaba. Basta rever fotos, do ano passado e deste; notar as transformações que a autoestima
pode fazer num ser humano.

Perdi oito quilos. Voltei a ter prazer em comprar roupas, cuidar dos cabelos, das unhas, do corpo. Estava com o rosto flácido e fizum tratamento com laser, para retração de pele. Quem vive próximo, notou diferenças marcantes na mulher arredia, calada, que há muito esquecera que é mulher e vivia tão somente para ser avó. Ri mais, brinquei mais, cantei...só não pulei por causa do desgaste de meus joelhos. Deixei de tomar aqueles remédios que adormecem as emoções e a alma. Voltei a dirigir. Tenho ido sozinha ao shopping e ao cinema. Sou boa companhia para mim mesma.

Eu me cuidava como se fosse dormir com você, acordar com você, sair com você. Sua imagem invisível era vista por mim e me deixava feliz. Em muitas noites, ouvi sua voz no meu ouvido, sussurrando delícias minhas e suas.

Foi o melhor ano da minha vida toda! Reclamei...é verdade. É que estava tão bom que eu queria mais. Nunca menosprezei você, não me fiz entender. Devo ser um fiasco como comunicadora.

Volto à rotina de 2013. “Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar.”

Obrigada por tudo que me fez sentir nesse período. Mais momentos bons do que ruins. (os ruins, foram só quando você não queria saber de mim, por tantas cobranças, e foi muito cruel nas palavras).

Você me mostrou que eu era uma mulher normal, mas que somente o amor podia me mover. Havia uma chave para ligar esse mecanismo e ela passou a vida toda nas suas mãos, desde o mais tenro momento, aos dezoito anos, quando eu não entendia nada de sexualidade.

Vou sumir de circulação. Preciso disso,colocar ideias em ordem, deixar os cabelos embranquecerem normalmente, usar óculos de avó e... ser avó.

Obrigada por tudo.

Só não posso dizer que continuarei dormindo com você, porque precisa haver uma sintonia para tal. Seria o mesmo que dormir com o Richard Gere... e ele nem saber que existo.

Continuarei pedindo a Deus por você. Cuide-se, amor da minha vida. Eu vou amar você, enquanto lúcida estiver.

Um beijo, o último,
Carolina

 

   
Publicado no livro "Contos Ardentes" - Edição Especial - Janeiro de 2015