Primeira vez neste site? Então
[clique aqui]
para conhecer um pouco da CBJE
Antologias: atendimento@camarabrasileira.com
Produção de livros: cbje@globo.com
Contato por telefone
Antologias:
(21) 3393 2163
Produção de livros:
(21) 3547 2163
(21) 3186 7547

Maria Rita de Miranda
São Sebastião do Paraíso / MG

 

Descuido fatal

          Durante os quinze nos de convivência Rosa e Eduardo, que viviam no interior, mantinham um relacionamento baseado no amor, confiança e companheirismo. Tinham um casal de filhos pré-adolescentes que era a alegria de suas vidas. Frutos bons, como costumava dizer Eduardo. Marina a filha mais velha, herdara a meiguice de sua mãe e Leonardo era o pai em miniatura, como todos diziam.
          Eduardo era botânico e tinha uma vida profissional segura. Amava o que fazia e juntamente com um parceiro, passava os dias a nominar plantas, descobrir novas espécies e cuidar do viveiro de mudas de árvores que eram usadas para reflorestamento. Fotografava cada planta e, muitas vezes, incluía Rosa nas fotografias, dizendo que ela se misturava ao frescor e beleza de cada espécie, sendo ambas a razão do seu viver.
          Rosa cuidava da rotina da casa. Cozinha, roupas, filhos na escola, mas sempre encontrava tempo para si e parecia tão jovial quanto na época do início do casamento. Quando Eduardo viajava a negócios, esperava afoita a sua volta, pois se sentia incompleta na sua ausência.
          Certa vez, o marido retornou da viagem com um amigo da capital que iria passar algumas semanas com ele, estudando e catalogando diversas plantas medicinais.
          Mauro, como era chamado, era uma pessoa alegre e divertida. Logo conquistou a todos da família principalmente as crianças. Contava-lhes histórias e inventava brincadeiras que elas adoravam. Algumas semanas se passaram e Mauro nem falava de ir embora. Ao contrário, parecia querer ficar para sempre. Dava desculpas dizendo que queria se familiarizar bem mais com as plantas do lugar.
          Rosa começou a ficar incomodada com a presença contínua do rapaz, pois notou que ele a olhava insistentemente e tudo era desculpas para ficar dentro da casa. O casamento de Rosa nunca fora abalado e não era agora que isto aconteceria. Mas aconteceu.
          Eduardo, por excesso de confiança, nem se deu conta de que o amigo, aos poucos, estava passando a fazer parte da família e Rosa, num ato inconsciente ou inconseqüente, passou a abrir a guarda. Conversava muito com Mauro, ria de suas brincadeiras e se deixou envolver.
          Quando Eduardo percebeu aquela intimidade, primeiro procurou afastar de si tal pensamento, sentindo-se injusto só de pensar mal da esposa. Mas a dúvida passou a perturbá-lo. Chamou a mulher para uma conversa franca e Rosa negou fracamente a acusação. Eduardo disse-lhe que faria uma viagem e que durante esta ausência ambos decidiriam suas vidas. Amava-a demais e por isto mesmo sairia de cena.
          Rosa ficou perplexa com a atitude do marido. Nunca o vira tão acomodado assim. Achou incompreensível seu comportamento. Implorou para que ele ficasse, mas Eduardo, irredutível, foi. Ela ficou só com os filhos e com aquele homem que a cercava de todo lado.
          Depois de um mês da separação, comparando Mauro com Eduardo, Rosa foi tomada de uma certeza absoluta. O envolvimento superficial que tivera com o intruso, não podia acabar com o seu casamento. Amava Eduardo e o queria perto de si. Pediu veemente a Mauro que se afastasse de sua vida, pois o que sentia pelo marido era muito forte. Ele fora apenas um redemoinho passageiro.
          Ligou para Eduardo pedindo-lhe que retornasse o mais rápido possível. Novamente ficou intrigada e surpresa com a resposta do marido.
          - Não posso voltar agora. Um redemoinho acaba de tomar conta de minha vida. Preciso me certificar se é fútil e passageiro. Até lá é precipitado tomar qualquer atitude.
          Rosa desligou o telefone, atônita. O que estava acontecendo com eles que se amavam tanto? Sabia que agora teria de ter a mesma paciência que Eduardo tivera com ela. Conseguiria?

 

   
Publicado no livro "Contos Ardentes" - Edição Especial - Janeiro de 2015