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Rafael Henrique Xavier de Faria Pinto
Pará de Minas / MG

 

O voo da perdiz

É noite fria, austera e negra
Noturna como o semblante do pobre negro atado ao tronco
Pronto para o castigo, com o lombo desnudo e feição altiva.

Do olhar enfatuado do feitor lucila uma malícia perversa
Assim como o rebenque que pende de seu punho
Em frenesi, como mutuca a vaticinar...

O primeiro açoite não tarda, soando no ar um ligeiro estampido jactante
Somente os olhos do pobre negro inerme reage à chibata
E num frenesi embalada pelo ódio os golpes tornam­se incisivos.

Tomado pela lassidão o capataz ainda blasfema:
“– Peça clemência, negro insolente!”
O silêncio noturno reina por alguns instantes
Sendo interrompido pela volta do orquestrado coaxo dos sapos.

Numa tenacidade varonil o rebenque volta a soar na noite
Inexorável, austero e impiedoso...
O malfado permanece em silêncio, imóvel
Numa altivez progênie de terras distantes, donde seria rei...

Enfadado com a sorte agora ele sonha...
Sonha ser uma perdiz e suas asas riscam os horizontes da eternidade
Com o vento a bulir no rosto...Sensação de paz bucólica
Guinchando feliz à liberdade
Rasgando vales e canhadas...

(Homenagem a Castro Alves)


   
Poema publicado na Antologia "Canta Brasil!"- Edição Especial - Setembro de 2014