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Luciana Leopoldino
Arapongas / PR

 

A espingarda enferrujada

 

         

A vida ao pé da serra da Mantiqueira era muito simples, porém os moradores podiam desfrutar de certas riquezas naturais disponíveis em abundância na década de sessenta, como a caça e a pesca; Logicamente, com a única função de enriquecer as refeições da semana. Desse modo, eram comuns, aos domingos os grupos de amigos saírem para a caçada matinal.
Todo domingo logo pelas quatro da madrugada, já estavam de pé com tudo pronto para a caçada, desde cartuchos carregados, até garrafa d’água, café e pão, pois nunca saberiam que horas a caçada terminaria; Sem contar que poderiam se perder na mata; Assim, melhor garantir a comida e a água.
Naquele domingo, partiram de madrugada, quando ainda estava escuro, Joaquim e mais quatro amigos adentraram a mata ao pé da serra, na esperança de encontrar apenas alguns nhambus e perdizes, por isso, Joaquim preparou sua espingarda com cartuchos leves, pois não gostava de estragar a caça com munição pesada, assim seus cartuchos eram suficientes.
Logo, no inicio da caçada combinaram, que cada um ia para um lado da mata se encontrando num certo ponto para a volta e, para o caso de encontrarem caça grande fecharem um cerco e facilitar a captura. Assim, partiram cada um para um lado e de tempo em tempo davam um assobio para não correr o risco de atirarem um em direção ao outro.
Depois de certo tempo, Joaquim percebeu que não conseguia mais ouvir assobio nenhum, com certeza já havia se afastado demais dos companheiros. De repente, ouviu um barulho de passos que poderiam ser de nhambu, ficou animado, o dia começara, mas embaixo do mato a visão ainda era bem turva, mesmo assim, viu o que parecia uma perdiz correr por entre o mato, Joaquim abaixou seu chapéu e partiu na mesma trilha, quando estava a uma pouca distância decidiu atirar, mas antes de apertar o gatilho, percebeu que um alvoroço na mata se aproximava rapidamente, com sua distração a perdiz bateu asas e sumiu; Nisso, percebeu que um bicho grande vinha em sua direção acuado pelos cães. Como a madrugada ainda dominava, decidiu não esperar para ver de perto que bicho era e disparou em retirada, quando percebeu que o barulho se aproximava e suas pernas não eram suficientes, resolveu garantir segurança num tronco suspenso sobre o mato. Subiu, rapidamente. Assim que se firmou entre as folhagem viu que a cachorrada aparecia na mesma trilha, quando olhou ao pé do tronco, viu um rabo rajado de um bicho feroz que rugia para os cães, Joaquim sentiu um frio na barriga e as pernas tremerem pensando ser uma onça que vinha ao seu encontro, sem procurar mira arrastou o dedo no gatilho acertando o bicho de raspão, que fugiu em disparada sem dar muita importância a um tiro sem rumo de uma espingarda velha enferrujada. Joaquim desceu da árvore tremendo, mas aliviado e sentou-se no chão para esperar os amigos que vinham chegando logo atrás dos cães que reclamavam sua caça perdida.
Quando os amigos chegaram Joaquim logo perguntou:
---Vocês viram a onça enorme que passou por aqui?
Nisso os amigos riram zombando dele disseram:
---Não acredito que deixou fugir o quati que trouxemos de tão longe só pra você atirar?
E ainda perguntaram: --- E então, Joaquim, qual era o tamanho da onça? Será que não tinha o tamanho de um quati?
 Um tanto desapontado com a espingarda e envergonhado com os amigos, Joaquim se justificou dizendo:
Pois pra mim era onça! Afinal, o tamanho da caça e a bravura do caçador depende do calibre da espingarda e o medo que a carrega.
Pois, naquela semana a mistura foi farofa de cambuquira.

 

 
 
Conto publicado no "Livro de Ouro do Conto Brasileiro" - Novembro de 2016