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Ismar Carpenter Becker
Rio de Janeiro / RJ

 

Zé Urucubaca

Zé Urucubaca só atraía coisa ruim. Em sua cidade, as pessoas afastavam-se de sua convivência; era só ele chegar que a rodinha de conversa se desfazia. Quando chegava a um lugar ensolarado, logo caía um temporal com raios, granizo e o escambau. Uma vez viajou de ônibus para ver o mar na Cidade Maravilhosa e durante o trajeto o veículo enguiçou quinze vezes e furou o pneu outras cinco. Com esse atraso, várias mulheres foram fecundadas e uma jovem senhora teceu uma colcha. Zé Urucubaca, por onde passava deixava marcas. Quando foi ao supermercado estourou o encanamento e o fubá, a farinha e o açúcar mofaram. De outra vez, numa feira agropecuária, ele tocou em uma vaca leiteira e ela nunca mais produziu nada. Quando ia à padaria a fornada queimava, e por onde ele passava as lâmpadas da rua iam se apagando e estourando, uma a uma .Zé Urucubaca não parava no emprego, apesar de competente; a fábrica entrava em falência, havia crise na economia, no país aumentava o desemprego, o salário atrasava seis meses, era uma verdadeira loucura. Zé Urucubaca procurou um pai de santo, fez oferendas aos orixás, nada mudou. Procurou um padre que o abençoou e quando acabou, caiu duro no chão com um AVC. Também foi a um pastor evangélico e o teto desabou assim que ele chegou. Enfim, virou muçulmano e a mesquita que frequentava virou um cassino de caça níqueis. Agora, isolado no alto do Himalaia, a montanha começou a derreter a neve eterna. Cuidado, pois ele pode estar ao seu lado e você poderá quebrar uma perna. Sai, ziquizira!

   
Publicado no livro "Contos de Coronéis (ou) Lobisomens" - Edição Especial - Maio de 2014