José
Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ
O
Coronelzinho e sua Iara
Em 1949, num Vilarejo chamado Caramujo, morava o
Coronel Francisco Leonel, que era um homem de princípios
rígidos, mas era muito justo também. Sua esposa
era conhecida como Dona Bilu, uma mulher muito educada e amável,
tinha acabado de dar à luz um menino, que recebeu o nome
de Jorge, santo de devoção de seu pai. O menino
seria preparado desde muito cedo pra assumir os negócios
da família no futuro. Os anos passaram e Jorge se tornou
um homem, sendo chamado por todos de Coronelzinho.
Aos dezoito anos de idade, o Coronelzinho possuía muitas
habilidades, mas nutria uma grande paixão pela pescaria;
sempre que tinha oportunidade pegava seu material de pesca, seu
cavalo preferido e se dirigia para as margens do Rio Guandu. Entre
tantas pescarias, houve uma em que Jorge não conseguiu
fisgar um único peixe, mas que marcaria muito a sua vida.
O sol já havia se posto, e sob a luz do lampião,
o Coronelzinho que estava desanimado com o resultado da pescaria,
ficou olhando para aquelas águas turvas e de forte correnteza,
como se procurasse pelos peixes. Foi quando viu uma mulher nadando,
não acreditou a princípio, esfregou os olhos, mas
lá estava ela, então gritou para ela por achar que
estivesse em perigo; gritou mais forte e acenou para que fosse
para a margem mais próxima. Ela o viu e mergulhou, desaparecendo
na escuridão, aumentando ainda mais o desespero do rapaz,
por achar que ela havia se afogado.
O Coronelzinho voltou ao rio após três dias depois
do ocorrido, chegou lá com uma mistura de medo e curiosidade
em saber o que de fato tinha acontecido. Ao chegar, teve uma imensa
surpresa, pois se deparou com uma linda mulher que aparentava
ter uns vinte anos de idade, com grandes olhos verdes, sua pele
morena era coberta apenas pelos longos cabelos negros, era a visão
mais linda que aquele boquiaberto Coronelzinho teve na vida. Seu
coração parecia que ia pular do peito, sua boca
secou e as palavras sumiram, o chão parecia se abrir e
fechar, onde ele mal conseguia manter-se de pé, queria
se aproximar e tocá-la para ver se era real, mas as pernas
não lhe obedeciam. Ela correspondeu aos olhares, e ainda
lhe ofertou um convidativo sorriso. Apesar da emoção
ele conseguiu acenar e perguntar se era ela que nadava naquela
noite, a resposta veio com mais um sorriso e um chamado pra se
aproximar. Então ele perguntou se ela era das redondezas;
a resposta foi de que era de muito longe, e que era de uma família
indígena que morava às margens do Rio Amazonas.
Depois de algum tempo juntos, ela se despediu dizendo que daria
mais um mergulho antes de ir embora. Ele ficou olhando ela entrar
na água, foi quando percebeu que ela estava completamente
nua, e mais uma vez ela desapareceu.
O Coronelzinho coversou com seu pai sobre a mulher que havia conhecido,
e devido sua empolgação, seu pai brincou dizendo
que ele estava apaixonado, e perguntou se ele sabia quem eram
os familiares da moça. O rapaz percebeu que não
sabia nada sobre ela, nem ao menos o seu nome, e muito menos se
iria vê-la novamente. Ao repetir para o pai o que havia
sido dito por ela sobre sua origem, ambos sorriram, pois não
faziam a menor ideia de onde ficava o tal Rio Amazonas. O Coronel,
altivo como sempre, disse que o rio deveria ser um afluente do
Rio Guandu, que na opinião dele era o maior rio do Brasil.
Ao final de mais um dia de trabalho, o Coronelzinho foi correndo
para o rio com a esperança de reencontrar aquela morena
que havia lhe tirado o sono, esperou por mais de duas horas e
nada da moça, caminhou um pouco margeando o rio, e ainda
nada, e ao se preparar para ir embora ouviu um belo canto vindo
de dentro do rio, com o coração disparado, viu sua
amada nadando em sua direção, quando ela saiu, ele
pode ver seu estonteante corpo nu, e sem que dissessem uma única
palavra, se beijaram longamente, e o amor se fez. Foi quando ela
lhe disse baixinho: "Iara... Esse é o meu nome."
Naquela noite deu-se início a maior história de
amor que aquele povoado tomou conhecimento, e que correria aos
quatro cantos por muitos e muitos anos.
Todos os dias eles se encontravam na choupana que o Coronelzinho
mandou construir, ficava no mesmo local onde se conheceram, mandou
pregar uma placa na entrada escrita “O Coronelzinho e a
sua Iara”. Nas noites mais quentes, eles nadavam nus e brincavam
muito, às vezes eram vistos de longe por alguns pescadores.
Passados poucos meses, Iara deu a notícia ao seu Coronelzinho
que estava grávida, ele mal cabia dentro de si de tanta
felicidade, na mesma hora ele lhe pediu em casamento e tentou
levá-la para sua casa. Ela carinhosamente lhe respondeu
que eles já se pertenciam para sempre, e lhe perguntou
se ele abriria mão de tudo por ela e o filho que gestava.
Após ouvir dele que tudo que ele precisava na vida estava
ali na sua frente. Ela o abraçou forte e o beijou ardentemente,
segurou sua mão e pediu que confiasse nela. Começaram
então a caminhar para dentro d’água e desapareceram.
Por um longo tempo o Coronel procurou por seu filho incansavelmente,
acreditava que o mesmo havia fugido com sua amada para um local
distante, quem sabe até para o tal de Amazonas, recusava-se
aceitar o comentário do povo, de que dois pescadores os
viram entrar nas águas e desaparecerem. O Coronel mandou
investigar a procedência da moça, estranhamente,
ninguém no povoado havia visto a tal moça de perto,
uns poucos pescadores diziam tê-la visto apenas de longe,
nadando com o Coronelzinho, e nada mais. Vez por outra, o Coronel
caminhava à beira do rio, olhando atentamente para o seu
interior.
Aquele povoado ficou marcado pela história de amor do Coronelzinho
e a sua Iara, há quem diga que nas noites de lua cheia,
eles são vistos nadando e brincando com uma criança,
agora com o corpo metade humano e metade peixe. Seja como for,
o Coronelzinho e a sua Iara, demonstraram que um amor verdadeiro
é capaz de vencer até o inimaginável.
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