Primeira vez neste site? Então
[clique aqui]
para conhecer um pouco da CBJE
Antologias: atendimento@camarabrasileira.com
Produção de livros: cbje@globo.com
Contato por telefone
Antologias:
(21) 3393 2163
Produção de livros:
(21) 3547 2163
(21) 3186 7547

Renata de Oliveira Campos
Três Corações / MG

 

Olhos escandalosos

Ela não olhava; ela saltava das órbitas.
Seu fogo irradiava pelos poros, ora aos borbotões, ora em jatos fulminantes, deixando chamuscadas todas as adjacências por onde passava, mesmo que essas adjacências estivessem só no espaço das minhas lembranças.
Ela era assim. Escandalosamente bela e contagiante. Nela nada era simples, muito menos vulgar. Era o seu jeito.
Ela não andava; ela se exibia. Não que fosse por vaidade ou estrelismo, não era isso. Era, simplesmente, o seu jeito. Nascera assim.
Os homens – ah, os homens – estes não se encantavam; enloqueciam. Bastava que chegasse em qualquer lugar para que o foco de todos os olhares se concentrassem nela. Olhares, suspiros e imaginações.
Um dia ela conheceu Antenor.
Antenor era frio até demais, de uma frieza tal que, diziam, nenhum sorvete derretia em suas mãos. Calado, tosco, duro que nem pedra. Mais pra feio do que pra bonito.
Os olhos dela saltaram quando o viram pela primeira vez na praça; quase explodiram. Depois, saltaram novamente quando cruzou com ele na esquina da loja de tecidos. Ele, parecia imune; passou, sussurrou um rouco bom dia e seguiu em frente sem olhar pra trás. Ela então angustiou. E a angústia foi tanta que ela chorou, chorou, chorou, até que suas lágrimas inundaram a praça do vilarejo. Foi quando ela viu, lá longe, Antenor vindo num bote, remando em sua direção. Remando lentamente. E remada a remada ele foi remando, remando, até que chegou, pegou-a pelo braço, depois no colo, ajeitou-a na proa, tirou seu lenço branco do bolso de trás da calça marrom, saltou do bote e secou aquele lagrimal todo.
E os olhos dela nunca mais foram os mesmos.


   
Poema publicado no livro "Contos Livres" - Edição Especial 2014 - Setembro de 2014