Renata de Oliveira Campos
Três Corações / MG
Olhos escandalosos
Ela não olhava; ela saltava das órbitas.
Seu fogo irradiava pelos poros, ora aos borbotões, ora
em jatos fulminantes, deixando chamuscadas todas as adjacências
por onde passava, mesmo que essas adjacências estivessem
só no espaço das minhas lembranças.
Ela era assim. Escandalosamente bela e contagiante. Nela nada
era simples, muito menos vulgar. Era o seu jeito.
Ela não andava; ela se exibia. Não que fosse por
vaidade ou estrelismo, não era isso. Era, simplesmente,
o seu jeito. Nascera assim.
Os homens – ah, os homens – estes não se encantavam;
enloqueciam. Bastava que chegasse em qualquer lugar para que o
foco de todos os olhares se concentrassem nela. Olhares, suspiros
e imaginações.
Um dia ela conheceu Antenor.
Antenor era frio até demais, de uma frieza tal que, diziam,
nenhum sorvete derretia em suas mãos. Calado, tosco, duro
que nem pedra. Mais pra feio do que pra bonito.
Os olhos dela saltaram quando o viram pela primeira vez na praça;
quase explodiram. Depois, saltaram novamente quando cruzou com
ele na esquina da loja de tecidos. Ele, parecia imune; passou,
sussurrou um rouco bom dia e seguiu em frente sem olhar pra trás.
Ela então angustiou. E a angústia foi tanta que
ela chorou, chorou, chorou, até que suas lágrimas
inundaram a praça do vilarejo. Foi quando ela viu, lá
longe, Antenor vindo num bote, remando em sua direção.
Remando lentamente. E remada a remada ele foi remando, remando,
até que chegou, pegou-a pelo braço, depois no colo,
ajeitou-a na proa, tirou seu lenço branco do bolso de trás
da calça marrom, saltou do bote e secou aquele lagrimal
todo.
E os olhos dela nunca mais foram os mesmos.
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