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José Antonio Silva Santos
Rio de Janeiro / RJ

 

A saga de um vampiro - 2

Victor Bourn White desembarcou em Londres em 1754, pouco depois de completar dezoito anos de idade. Escolheu a cidade de Glastonbury para fixar residência, onde se dizia ser o coração da Inglaterra e também o local do sepultamento do Rei Artur. Ele comprou uma fazenda nas proximidades das Ruínas de Abadia, não havia outros moradores num raio de cinco quilômetros, contratou uns poucos empregados para cuidar da fazenda, o qual foi estabelecido que todos deveriam deixar a fazenda antes do pôr do sol, o interior do pequeno castelo era tarefa do mordomo Alfredo Lamas, trazido por Victor do Brasil, ele era o único que conhecia o sofrimento e o grande segredo do rapaz.
Aquela carta escrita com o sangue dos seus pais e deixada pelos bruxos, não lhe saía da cabeça, sabia que não tinha como reverter, mas também não queria a eternidade como testemunha das suas possíveis maldades, muito menos dos seus sofrimentos. Começou a traçar sua estratégia para exterminar os Frouchen e toda sua descendência, pois essa era a única maneira de pôr um fim na maldição que carregava. Precisava conhecer a história dos seus antepassados e o envolvimento deles com aqueles que lhes lançaram a anátema.
Victor estrategicamente abriu mão do seu sobrenome para sua própria segurança, passando a ser chamado de Victor Nosferatu, ou simplesmente de Vlad. Ele se deslocava pelas sombrias estradas, quase sempre depois do cair da noite, usava uma carruagem negra e sem visibilidade para o seu interior, conduzida pelo Alfredo. Suas vitimas, ou o seu alimento, dependendo do ponto de vista, eram escolhidas em lugares diferentes e distantes, costumavam ser prostitutas que desapareciam sem deixar rastros e ninguém as procurava.
Vlad descobriu que ele era o único White vivo, o Conde Ferdynam III, seu avô, havia passado todas as suas riquezas para a Mary Elizabeth, por ter sido casada com seu único filho. O rapaz a procurou com a desculpa de lhe fazer uma proposta de compra da fazenda, ele era muito jovem, mas trazia consigo o poder da sedução, e não foi tanto sacrifício assim conquistá-la. Eles viveram juntos por sete anos, tempo suficiente para que ele conseguisse algumas respostas. Mary Elizabeth foi encontrada morta após cair de um precipício, havia um corte profundo em seu pescoço, por onde todo seu sangue foi drenado. Vlad herdou uma fortuna muito maior do que foi deixada por sua família.
Efetivamente começou a caçada aos Frouchen, todos os residentes na Inglaterra foram dizimados. A Escócia também abrigava alguns descendentes, assim como na Bélgica e no País de Gales, e igualmente foram aniquilados. Vlad desenvolveu seu olfato em relação aos seus oponentes, por menor que fossem os laços sanguíneos, ele os detectava mesmo a distância.
Vlad comprou um castelo no Monte Saint-Michel em Brittany, no nordeste da França, lá conheceu e casou-se com a filha de um político influente, ele viveu com Jeanne Clisson por sete anos, até que ela o deixou por ele não realizar seu sonho de ser mãe. O pai de Jeanne havia falecido e deixado uma vultosa herança para filha, que logo passou para as mãos de Vlad, pois sua esposa foi assassina poucos dias depois que o deixou, vitima de um louco que a decapitou.
Haviam passados noventa e três anos desde a chegada de Vlad a França, sua aparência não mudou mais depois que completou trinta e três anos de idade, o que lhe obrigava a mudar-se constantemente de moradia. Todos os caçados foram destruídos em quase toda Europa, restando apenas os residentes na Dinamarca, reduto dos principais feiticeiros. Vlad adquiriu um novo castelo em Kolding, localizado ao sul da Dinamarca, onde permaneceu recluso por cerca de vinte anos, saía apenas nas madrugadas para se alimentar, e quando estava no auge dos seus poderes de vampiro, retomou a caçada. Eliminou um por um, restando os três mais poderosos e seus dois aprendizes, o mais antigo e mais poderoso, era o Anders frouchen, que já passava dos quatrocentos anos de idade. Seria necessário um plano eficiente para sair vencedor nesta batalha, precisava decidir quem deveria eliminar primeiro, se o mais fraco, ou o mais poderoso. Decidiu começar por Emmelie, por ela ser o ponto de equilíbrio do grupo, era uma espécie de mãezona.
Havia um único dia do ano em que os bruxos se esvaziavam dos seus poderes para adquirirem poderes ainda mais elevados, isso acontecia no dia trinta e um de outubro. Vlad descobriu onde seria o ritual de renovação, aconteceria numa caverna nas ilhas Feroe, no Atlântico Norte entre a Escócia e a Islândia. Ele ocupou a ilha em julho e estudou cada detalhe daquela caverna, mas sem entrar nela, pois sua presença seria logo detectada, ficou então no pico daquele monte, de maneira que via sem ser visto. No dia da batalha final, antes do nascer do sol, uma sombria embarcação atracou na ilha, os bruxos desceram usando um traje com capuz, que lhes cobriam os rostos, e rapidamente entraram na caverna.
O sol se pôs, esse era o momento em que todos estavam numa espécie de transe, ou seja, desprotegidos. Vlad desceu e entrou na caverna com uma espada em punho e foi direto em Emmelie, com movimentos sincronizados foi decapitando um a um, nem o poderoso Anders conseguiu reagir, em menos de um minuto havia cinco cabeças rolando no chão. No mesmo instante, as paredes da caverna começaram a ruir, foi só o tempo de Vlad sair e tudo veio a baixo, tornando aquele lugar num túmulo gigantesco. Estranhamente, naquele momento ele voltou a sentir o coração bater novamente.
Começou a regressão de Vlad, a cada semana ele envelhecia cerca de dez anos, a maldição havia sido quebrada. Ele escolheu passar seus últimos dias no Brasil, sua antiga casa não existia mais, tinha dado lugar a um prédio chamado de Palácio Tiradentes, então foi morar numa casa simples na Ilha de Paquetá, doou todo seu dinheiro para varias instituições de caridade. Andou de pés descalços na areia, fez uma boa refeição e assistiu o pôr do sol, naquela mesma noite finalmente descansou.



   
Poema publicado no livro "Contos Livres" - Edição Especial 2014 - Setembro de 2014