|
Antologias:
atendimento@camarabrasileira.com Produção de livros: cbje@globo.com |
Contato
por telefone Antologias: (21) 3393 2163 |
Produção
de livros: (21) 3547 2163 (21) 3186 7547 |
Helen
de Rose
A boneca inflável
Os dias foram passando, enquanto Dejair quase furou todos os discos da sua coleção do Odair José. A sua canção preferida era "Eu vou tirar você desse lugar", porque a primeira vez que ele foi num prostíbulo chamado “Boate Azul”, conheceu Vaconilda, aquela linda loura de cabelo cacheado, tão cacheado, que parecia uma ovelha, a desgraçada. Ela era a donzela mais requerida pelos clientes, por causa da sua enorme bunda, a mesma que lhe colocou tantos enfeites de cabeça. Mas, mesmo assim, ele não conseguia esquecer a Vaconilda. O dia dos namorados já estava chegando e Dejair estava se sentindo tão solitário. Resolveu dar uma volta de bicicleta no jardim da praça, a única que havia em sua cidade com um coreto bem no centro. Ali, todos os finais de semana, os solteiros se encontravam para ficar paquerando. Do outro lado, estava a banca de revistas do ZéMané. Dejair foi até lá e ficou olhando as revistas. Numa capa da “Playboy” tinha uma loura parecida com a Vaconilda, ele gostou e comprou. Voltou um pouco mais contente para casa, desejando alimentar sua saudade. Toda vez que Dejair fazia barulho no portão, sua mãe gritava lá de dentro de casa: - Dejair? É ôcê, meu fio? - Ele logo respondia: Dejair passou semanas vendo aquela revista e até fez uma encomenda. O correio mandou um aviso para ele retirar sua encomenda. De bicicleta mesmo, ele foi até o correio e trouxe a caixa na garupa. Quando chegou, sua mãe gritou: - Dejair? É ôcê, meu fio? Interessado em abrir logo aquela caixa, foi logo fechando as
janelas e a porta de sua casa, para ninguém incomodá-lo.
Pela milionésima vez, colocou o disco de vinil na sua vitrola
vermelha, para ouvir "Eu vou tirar você desse lugar".
No interior da caixa, um manual de instruções: Vendo que ele não tinha mais forças para assoprar, fechou o bico e embrulhou sua encomenda num lençol. Amarrou tudo na garupa da bicicleta e foi até o único posto da sua cidade. Lá, encontrou com o Ricardão, o cara que enchia os pneus dos carros. Dejair não queria que o Ricardão visse sua encomenda, pediu para que ele se afastasse que ele mesmo enchia. Na verdade, Dejair não queria que outro homem colocasse mais a mão, naquilo que lhe pertencia. Isto lhe causava coceiras na testa. Mas, o inesperado aconteceu, ele encheu tanto, tanto, aquela coisa que ela escapou das suas mãos e saiu voando, soltando ar por todo o posto. Todos viram que era uma boneca inflável. O Ricardão ficou olhando assustado, como todos os que estavam no posto. Enquanto todos riam, rapidamente, Dejair segurou a boneca inflável e fechou o bico. Ela tinha 1,60 de altura e teve que ser levada na garupa, estranhamente sentada com o lençol cobrindo e amarrada para não cair. Dejair chegou ofegante em sua casa: - Dejair? É ôce, meu fio? Ele foi entrando logo no quintal, para sua mãe não ver ou perguntar o que ele trazia na garupa da sua bicicleta. Depois de descansar e beber muita água, o disco do Odair José já estava tocando "Eu vou tirar você desse lugar", quando pegou novamente o manual de instruções da sua encomenda: Primeiro....já foi O pobre rapaz apaixonado desligou o “Excita-me!...Excita-me!”, deitou na cama ao lado da sua boneca inflável e começou a contar pra ela toda sua triste história de vida. Chorou, riu e cantou as músicas do Odair José para a boneca conhecer. Até que, de repente, ouviu alguém bater na porta: - Dejair? Quem taí c'ôcê, meu fio? - ele abriu a janela e respondeu: - É ninguém, mãe! - enquanto isso o bico da boneca inflável abriu e ela saiu voando pela janela, soltando o ar. A mãe dele, assustada, gritou: - Dejair onde ôcê arrumou essa muié vuadora, meu fio? - Gaguejando ele respondeu: - Mãe, isso é coisa do Odair José, ele que
fica tirando a ‘muierada’ desse lugar...
|
Poema
publicado no livro "Contos Livres" - Edição
Especial 2014 - Setembro de 2014 |
|