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Ismar Carpenter Becker
Rio de Janeiro / RJ

Zé, o pescador de águas turvas

 

Lá no interior onde a vida segue ainda sem pressa é que vem esta lenda urbana.
Havia um cidadão de nome Zé que se dizia os ás da pesca; para ele não havia tempo ruim, nem chuva, nem sol, fase da lua, piracema ou defeso, todo dia era dia de pesca na sua região pois havia vários rios, lagoas e sangas. E lá ia ele relaxar depois de um dia exaustivo na lavoura. Zé pescava com isca de minhoca, ração, miolo de pão, ou a tapa quando o peixe era temperamental, arredio. Numa roda de bar entre uma pinga e outra lá vinham suas histórias de pescaria. Uma vez disse ele aos colegas: “aí joguei a isca na lagoa e a  vara de  bambu  envergou; fisguei um dourado de 20 kg  que me levou todo o fim de semana para retirá-lo da água e ainda tive que dar uma gravata nele para  poder  neutralizá-lo  de vez.” De outra vez tinha tanto peixe no rio que eles saltavam para fora da água querendo abocanhar meu sanduíche que eu segurava com uma das mãos. Assim era Zé; disse que numa viagem que fez pelos sete mares, entediado no convés do navio jogou a linha de nylon no mar sentiu a fisgada e foi dando linha, e mais linha e o peixe puxando, depois de um mês, conseguiu  puxar  para fora  da água e veio fisgado a um anzol um tubarão baleia  embolado na linha de  pesca juntamente com cabos telefônicos que cortados interromperam as comunicações entre os países atrapalhando as relações comerciais; e para retirá-lo do  mar precisou de um guindaste e uma carreta para transportar o tal peixe até um museu em Oslo onde hoje está exposto como um troféu.
Seguem suas histórias... Lá no pantanal teve que negociar com as piranhas que insistiam em comer seu peixe que ao puxar fora da água só exibia o esqueleto, já as minhocas reclamavam de ficarem resfriadas  por causa da água fria. Uma vez lá num campeonato de pesca na  África do Sul fisgou um celacanto que provocou um maremoto inundando a região jogando peixes até em cima das árvores.
E  assim ia ele contando suas histórias; em uma ocasião pescou um bagre cuja nadadeira tinha 2 metros de comprimento e causou marolas no rio Paraguai. Mas um dia a casa caiu; pescando na praia de Mangue Seco jogou o anzol e junto veio uma sereia com sua cauda rebolativa. Este seria seu maior troféu. Quando ele chegou perto viu que era um sereio com sotaque forte e um gogó protuberante. Nesse momento largou o caniço e até hoje corre pelas estradas da vida.
Agora promete ser vegetariano.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016