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Paulo Victor da Costa Ribeiro  
Rio de Janeiro / RJ

Passos de libertação

 

Aqui estou eu,tão perplexo quanto escravo de uma enorme adrenalina. Os olhos poderiam pular das orbitas se conseguissem tirar o foco hipnotico da aventura que o destino poderia me proporcionar.
Lamentações haviam perdido o sentido diante da libertação de todas as dores e mágoas.O homem que eu fora até então, sucumbira perto da possibilidade de silenciar os uivos de uma alma perdida.
Por uma fração de segundos, consegui fechar os olhos e receber um tapa na face esquerda da rajada de vento,que surgira do nada,naquele remoto e descampado lugar. Consegui até gritar e o berro parecera tão feroz que a própria natureza  silenciara toda a orquestra de ruídos que supostamente definiam a prova de um ser divino.O olhar,antes de voltar para o símbolo de sua hipnose,chegou a mirar o céu cinzento,prenúncio de chuvas fortes. A atmosfera do dia estava perfeita para ir adiante.
Um súbito flash trouxe a imagem de mamãe orgulhosa de ver seu filho andando.Embora eu fora tão longe na minha reminescência,essa era a única lembrança saudável de mamãe.Coitada,se soubesse para que os passos serviriam algum dia não teria se empolgado tanto com a evolução do seu bebê.
Privado de um domínio preciso do que seria uma solução para aquele momento tão definitivo,fui invadido pela sensação de que tudo poderia falhar,como a minha vida falhara.Conviver com os frutos de uma imprecisão, naquele momento,poderia ser terrível. E esse temor me fez virar de costas e olhar todo o trajeto percorrido até ali,inclusive o interior.
A inutilidade banhava como sangue a minha existência.Enevoada e sem bússola,minha jornada fora um equívoco atrás do outro.Mas algumas atitudes tomadas eram irreversíveis.Uma longa pausa em minha cabeça neuroticamente pensante mudou o rumo das coisas. Larguei o olhar fixo e me voltei para o céu,que abrira totalmente num azul intenso das manhãs de atmosfera limpa. Desisti de seguir adiante e retomei  a jornada já percorrida rumo à minha casa. Deixei para trás a contemplação do fundo de um precipício e a tentativa de suicídio, mas tomado ainda pela angustiante incerteza de que tudo se revertera por conta de algo mais forte e superior que todos nós.

 

 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016