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Neri França Fornari Bocchese
Pato Branco / PR

A Mãe Terra, suas águas

 

    Pela mãe Terra, um rio vai sulcando o solo, criando a natureza deslumbrante. Esbanjando belezas, para encher os olhos.   O rio fascina. É o arquétipo humano, voltando as suas raízes. Retornar ao ninho faz bem, trás a Paz. A água, origem da vida sempre relembrada, mesmo sem que se tenha a consciência real dos fatos.
Os olhos inquietos de admiração, de preocupação de quem enxergam, de quem vê na beleza de suas águas a modulação da própria natureza.
Mas, também a preocupação ao enxergar a degradação, provocada pelo progresso, pela própria ação do viver humano. A poluição não é só descaso do homem, é também conseqüência de todos os seres vivos. Eles transformam, criam energias, fazem trocas harmoniosas com a Vida, recriando, assim novos elementos. Viver  e conviver é uma aventura, tanto para o homem, como para a natureza. 
A angústia de alguns homens ao perceberem o exagero do desenvolvimento, não conseguirem dizer, mostrar aos outros viventes, para não jogarem desde um papel de caramelo, uma lata de cerveja nas água sou em qualquer outro lugar.
O rio sempre corre para o plano mais baixo, ele a essência da vida por isso recebe, acolhe tudo o que circunda o seu entorno. Como primaz maior devolve ao Planeta Azul, a água, a qual evapora sempre limpa, até sem os sais, sem nenhuma sujeira, uma  lição para ser aprendida.
As águas essência para purificar a vida. Banhar-se antes das cerimônias religiosas, para apresentarem-se limpos, puros diante do Criador.
Pobres águas servem para sublimar. Acolhem a vida, em troca, recebe como recompensa a porcaria, a imundície humana, o resto de quem não sabem a onde por, a onde esconder.
Um rio, um riacho por ser acolhedor, desde sempre acolheu a própria vida. Criou condições dela evoluir e, de maneira muito sublime a compartilhou com todos os continentes. Hoje recebe de volta destes mesmos continentes, das ilhas, dos rochedos, o lixo, o resto da própria existência.
O rio determinou a fixação do homem nas suas margens, hoje ele não sabe como livrar-se desse mesmo ser, muitas vezes é encaixotado é desviado do seu percurso. Ele, homo sapiens, não vai mais apenas banhar-se nas suas águas, buscar com um balde o preciosos líquido, para abastecer suas casas. Mas vai procurá-lo como solução, para livrar-se dos seus entulhos.
As lavadeiras de outrora deixando limpa a roupa da família nas águas puras, permitiam os filhos vestirem roupas cheirosas naturalmente, enquanto as crianças brincavam dentro da água, sem perigo de contaminação. Se tivessem sede era só fazer uma concha com as mãos e, beber água límpida.
O rio, um ser fraterno, feliz fez o progresso, moveu os monjolos, triturou o milho, moeu o trigo, descascou o arroz. O monjolo, a bica d´água, uma das primeiras engenhocas da humanidade, comum a qualquer povo, de qualquer parte dessa imensa Terra.
Mais tarde, com as rodas de água moveu as serrarias, produziu a luz elétrica. Hoje as grandes usinas trazem o conforto diário à humanidade. Nem precisa escurecer, a lâmpada,  companheira para clarear a escuridão. Livra assim de qualquer  medo, provocado pela ausência da claridade.
Produz, garante a geração de energia para todas as lidas das quais a humanidade precisa. O manancial está cada dia mais sobrecarregado.
Pobre rio, tão importante que nem se percebe mais a sua utilidade. Cada dia mais ameaçado, pois novos restos a ele se incorporam.  Tranqüilamente vai seguindo o seu rumo enquanto as suas águas ainda conseguem rolar, ser água, não um caldo, parece  ser esse o seu destino, desaparecer.
O rio vai caminhando, segue sempre, a mesma direção. Passa ali, tão perto. Não reclama de imediato. É um convite benfazejo, o cantarolar de suas águas, uma tentação. É só jogar, ele leva a sujeira, assim as mazelas humanas vão engrossando as suas águas e, diminuindo o seu potencial.
O rio encanta a criança, atrai para um banho refrescante, não consegue hoje, nem lavar muitas vezes o rosto dos meninos ribeirinhos. Crianças desde cedo jogadas no trabalho, sem tempo de usufruir do próprio riacho que passa ali bem pertinho da sua morada. Não conseguindo criar um vínculo afetivo. Dificultando ainda mais o namoro do homem com a natureza. Quando adulto, com certeza, verá no rio apenas um estorvo ou um canal para sanear tudo o que não quer mais. O menino já é trabalhador, gera riquezas, mas não consegue fazer da sua vida rica e prodigiosa, uma harmonia plena com o próprio manancial.
Os cidadãos instalam usinas, garantem o progresso, mas não são capazes de prever uma sobrevivência com dignidade para todos os lindeiros.
O rio seria um pouco de cada um, passa junto ao  habitat, faz parte do seu existir, deixa de ser de todos quando garante o progresso só para alguns seres gananciosos. Uma contradição econômica entre os homens e o rio.
O homem da cidade, talvez cidadão consciente, estudado, civilizado conhecedor das ciências, mas não amante da vida, não consegue se harmonizar com a natureza e enxerga no, apenas um canal que transporta, que conduz, por isso pode também levar aquilo que ele  produziu. É lógico, é tão fácil, só jogar, a água generosa vai carreando, até onde as corredeiras alcançarem, se for para o mar, como é esse o destino das águas, ao mar, cabe receber tudo o que vêem do continente.
Mas este mesmo ser vivente, ao se encontrar com uma queda de água, ao escutar a voz da cachoeira, com a magnitude da mata ciliar, proporciona um sonho aconchegante. Mas não consegue entender, que o que eles jogaram lá na cidade, se desfizeram, dos entulhos está estragando, contaminando a bela paisagem. E, não são só as águas, mas todo o ciclo da vida. O rio tem o destino de nascer lá no alto em uma montanha, mas como é um ser acolhedor busca o vale, vai recebendo como uma benção todas as outras águas, por onde passa vai gerando vida, Ao percorrer os vales, cortar as cidades, ajunta tudo o que foi produzido, desde o chiqueiro estrategicamente posto bem na barranca com a esterqueira, os restos domésticos, é só lançar nas águas, elas levam e lavam tudo. 
É, o rio a serviço dos homens. Lá nos confins com muito menos altitude, num remanso, deposita não mais as águas límpidas de suas nascentes, mas o caldo da sujeira da própria humanidade. Se essa não tomar consciência, vai se afogar nas águas sujas com a sua própria imundice, ele mesmo a poluiu, porém será por ela contaminado.
A grande importância de um rio está na continuidade da vida, no equilíbrio do clima. É impressionante como as ações determinantes da existência, apresentando beleza ímpar, a qual se reflete em seu conjunto, passam despercebidas.
A água, fonte natural da Criação, de expansão das diferentes formas de vida, quer a , animal, presente também na mineral faz do rio, o âmago do ecossistema. É como se nas suas margens transbordasse o viver, expandindo-se para a Mãe Natureza, para a mesma crescer, embelezar não só o seu leito, as suas margens, o próprio percurso.
Oh! Doce rio, fator de progresso, se não conseguires acordar esta humanidade logo, muito próximo serás também fator de destruição da civilização vigente.
O rio, a essência da vida, com a essência não se brinca.
O homem precisa acordar enquanto ainda há tempo de se ter decisões, e com carinho cuidarem da Mãe Terra.

 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016