Primeira vez neste site? Então
[clique aqui]
para conhecer um pouco da CBJE
Antologias: atendimento@camarabrasileira.com
Produção de livros: cbje@globo.com
Contato por telefone
Antologias:
(21) 3393 2163
Produção de livros:
(21) 3547 2163
(21) 3186 7547

Helena Maria S. Matos Ferreira
Guapimirim / RJ

 

Preferência

 

"Não vejo muito tempo para isso."; "Não tenho tempo."; "Não acho tempo."; "Desculpe, o seu tempo acabou."; "Chegou um novo tempo, você já passou."
Ora, o tempo invade o tempo que se esvai ou que teima em não se esvair. Que coisa mais estranha, mais bizarra! O tempo encarquilha o corpo, consome a existência, mas não consegue consumir a alma. Por que será? 
Sei lá o que pensar, porém é interessante observar os olhos de uma pessoa cheia de idade e vislumbrar bem lá no fundo uma luz da infância ou da juventude. Aquele facho brilhante com certeza tem origem na alma que continua brincando, sonhando, amando, esperando e até mesmo guardando segredos.
Há alguns dias estava refletindo o sentido de algumas palavras, mais precisamente o sufixo "oso". Então: temeroso, cheio de temor; perigoso, cheio de perigo; valioso, cheio de valor; idoso, cheio de idade. A última, na linguagem popular, significa velho, velhice, sandice.
Em a nossa cultura, o "velho" é antigo, é desacreditado. Estamos em um tempo que tudo se renova rápido e constantemente. A tecnologia domina a vida de todos. Domina e manipula com seu ar de infinita sabedoria. Aí, coitado de quem já viveu mais tempo. Está realmente "enrascado". Para se fazer respeitado, quase sempre deverá passar grandes provações. Ninguém quer perder tempo a não ser que haja uma recompensa para tal. Escutar conselhos de um sexagenário?
Assisti há poucos dias a um filme "Caminhos do Coração ". Confesso que o início pareceu-me um pouco monótono. Um senhor, muito rico, já doente, deixou uma grande empresa para seu filho que pensa em modernizar a herança e investir em máquinas que substituiriam muitos funcionários, que, obviamente, seriam dispensados. Sofreriam muito e suas famílias também. O pai tenta convencê-lo a não agir daquela maneira e o filme gira em torno desse enredo.
Não pretendo contar aqui o que aconteceu, porém garanto que valeu a pena. Mas o que me prendeu a atenção e me fez assistir inteiramente ao filme, foi uma frase que me soou poderosa. E, para não esquecê -la, anotei-a em um livro que lerei todos os dias de 2016, "O Evangelho comentado cada dia do ano". Eis a frase: "O tempo não custa nada, mas é o dom mais precioso que se pode dar". Em outras palavras, foi o que Exupery documentou em "O Pequeno Príncipe". 
O tempo é precioso e quando "perdemos tempo" com alguém deverá ser para aprender, para valorizar e, quem sabe, crescer e fazer também com que o outro cresça.
Escutar é diferente de ouvir; observar é diferente de ver; falar é diferente de tagarelar.
O tempo é precioso demais e cada um tem o seu. É preciso tirar proveito de cada segundo que o sopro da vida nos dá e agradecer a Deus por ele."Tempo é questão de preferência ". 


 
 
Conto publicado no livro "Contos Livres" - Abril de 2016