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Ana Carolina Viana Faria
Belo Horizonte / MG

 

E Romeu recebeu a carta

Se Romeu tivesse recebido a carta do Frei... Sempre quis saber como seria o desfecho da história.   Poderia ter sido mais ou menos assim...

Ao ver o mensageiro se aproximar, Romeu sentiu seu coração ser esmagado dentro do peito. O semblante do homem era carregado e não dava pistas evidentes se as notícias eram boas ou más. Uma carta lhe foi entregue, enviada pelo Frei Lourenço. Com o envelope em mãos, Romeu sentia seu coração bater num ritmo acelerado. Uma grande angústia começou a tomar conta de seu ser. Nunca fora covarde! Não o seria agora. Respirou fundo, rasgou o envelope, desdobrou o papel e leu com cautela. A cada fração de segundo os olhos de Romeu se arregalavam mais. As notícias eram terríveis! E ao mesmo tempo fantásticas.
- Ai da minha amada! O amor que ela tem por mim a fez escolher a morte, ainda que por um breve momento. Ainda que por efeito de ilusão. Mas mesmo assim meu coração se destrói em mil pedaços ao imaginá-la na companhia da solidão e do nada.  Espera Julieta, meu amor, já vou ao teu encontro. Irei resgatá-la dos braços da nossa maior inimiga. Basta de inimigos para tentarem impedir o nosso amor! Viveremos longe daqui nosso matrimônio de maneira excelente, tu finalmente minha, e eu, teu. Dois não mais. Agora apenas um. Porque eu já não sei mais onde começo eu e terminas tu. Já não sei mais quais são os meus sonhos e quais são os teus. Meus desejos todos são para ti. Ah, Julieta, sem ti eu poderia viver, sim! Deus o sabe. A vida é um dom precioso. Peço que o Senhor tenha misericórdia para que meu amor por ti não se torne um deus. Não é de idolatria que falo.  Tu, Julieta, não és o ar que eu respiro, não... Mas cada vez que sinto o ar entrar em meus pulmões sabendo que tu existes, oh minha amada esposa, tudo a minha volta passa a ter mais beleza, mais brilho e mais cor. Não é mulher o que quero, Julieta, quero a ti somente, unicamente, exclusivamente, até que se findem os meus dias na Terra.
E assim, apaixonado, preocupado, inspirado, tomado de coragem e de ímpeto, Romeu partiu para Verona. O tempo não era seu aliado naquele momento. Julieta precisava ser resgatada.  Ela havia depositado toda a sua esperança em Romeu. Ele não poderia falhar.
Precisou fazer um caminho alternativo, para se esquivar das autoridades. A notícia de ter sido banido de Verona ainda era assunto das primeiras páginas dos jornais. Se a polícia ou algum Capuleto o visse pelas redondezas, não deixariam barato. Levou consigo todo o dinheiro que possuía no momento, o amor que sentia por Julieta e sua arma embainhada. À medida que se aproximava do mausoléu, o gosto amargo em sua boca se tornava mais intenso. Não sabia se era das longas horas de jejum ou por causa dos nervos que estavam à flor da pele. Romeu não tinha sede de sangue. A vingança pela morte de Mercúcio já estava consumada. Era paz o que Romeu buscava, a paz que encontraria nos braços de Julieta. Mas não contava que Páris estaria lamentando a donzela justamente naquele instante.
- Que ousadia a sua aparecer aqui, assassino!
- Inocente não sou, mentiroso também não. Vim em paz e não em ira. Peço que se retire do meu caminho e esqueças que um dia colocou seus olhos sobre mim.
- És louco se pensas que vou deixar-te ir livre. Romeu, és inimigo dos Capuleto e agora meu inimigo também. Vingarei a morte de Teobaldo e também da minha não mais futura esposa. É tua a culpa deste mal e porque voltaste de Mantra tão arrogante, vais pagar com tua vida. Pegue tua arma e lute!
Páris avançou em direção a Romeu, que não teve outra escolha a não ser se defender. O jovem Páris não tinha experiência de luta. Romeu tampouco. Mas as motivações dos oponentes eram distintas. E a paixão sobrepôs-se ao ódio. Páris caiu estirado ao chão e logo estava deitava sob uma poça de sangue.
Romeu entrou depressa no mausoléu. Não demorou a ver Julieta recém-velada, cercada de flores, vestida impecavelmente, pálida, imóvel, deitada em um leito assustadoramente confortável. O jovem se aproximou, tremendo, com os olhos banhados em lágrimas. Não sabia o que dizer, não sabia o que pensar. Para todos os efeitos Julieta estava morta. E era exatamente assim que ela parecia estar.
- Meu amor, minha querida, meu anjo. Que foi que fizeram contigo? Abre os olhos, meu amor, move teus lábios, levanta tuas mãos e toca o meu rosto. Estou aqui, sou eu. Olha pra mim. Julieta!
Ela permaneceu imóvel. Romeu foi tomado por uma dor lancinante. Tocou o rosto da amada. Estava gelada. Aproximou seus dedos de suas narinas. Ela não respirava. Deitou sua cabeça sobre seu peito. O coração dela não batia. Era verdade! Julieta estava definitivamente morta! Tudo estava acabado!
Ele deitou-se ao lado dela, abraçando-a, estreitando seu corpo ao dela, o rosto banhado em lágrimas. Beijou-lhe a face, beijou-lhe os olhos cerrados, empunhou sua arma e disse:
- E com um beijo, eu morro. – beijando os lábios de Julieta.
Se os dois já não eram dois e sim um apenas, Julieta já não era mais e, portanto, Romeu também não tinha razão de ser. “Vou para onde você for”, pensou o jovem apaixonado, decidido a tirar a própria vida. Foi então que sentiu os lábios de Julieta aquecerem-se. Um pouco de movimento, os dedos finos dela deslizando sobre seu braço.  Já não era mais um beijo selado, e sim um beijo intenso, enamorado, carregado de saudade e desejo. Ambos abriram os olhos e encararam-se, sorriram um para o outro, proferiram palavras de carinho, beijaram mais, abraçaram-se. Romeu se levantou e tomou Julieta em seus braços. Levou-a embora para fazê-la feliz longe de toda aquela gente.
Em toda parte comentava-se sobre aquela história de amor. Ninguém sabia ao certo pra onde tinham ido e o que viveram desde então. O que se sabe é que nunca houve mais bela história de amor do que a de Julieta e Romeu.

 

   
Publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição Especial - Maio de 2015