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Geise de Oliveira Machulek
Campo Grande / MS

Cicatriz

Da sala de espera da terapia hiperbárica, como acompanhante de um familiar idoso, posso observar as pessoas que chegam para a sessão diária de duas horas, todas com um acompanhante como eu. Todas com um só objetivo, a cicatrização, independente do motivo: Úlceras, queimaduras, eczemas, ‘pé diabético’, membros amputados. O que todos ali esperam é ter uma bela cicatriz.

No dicionário, a palavra cicatriz quer dizer: Sinal de ferida ou de chaga curada, Lembrança dolorosa, Vestígio de estrago, destruição, etc.
Cicatriz é algo que, do ponto de vista estético, nenhum de nós principalmente mulheres, gosta de ter. Contudo, paralelamente, todo mundo que conheço tem uma, ou várias. As minhas são: Tombos de bicicleta, patins, estripulias da infância que ficaram aqui como lembranças de um tempo bem vivido. Eu diria até que são ‘troféus de guerra’, um termo utilizado por ex-combatentes, veteranos de guerra que exibiam suas marcas e dores como verdadeiras recompensas, por estarem vivos e de volta ao lar.

Existem as cicatrizes da alma, que é um daqueles tipos que a gente fica torcendo para ter quando a ‘ferida’ ainda está exposta, porque sabe que quando ela aparecer, a dor não estará mais ali (ou pelo menos a maior parte dela).
Cicatriz na alma também é sinal de experiência, maturidade, ciclos que se fecharam, dor de amor que com o tempo e muita paciência se ameniza.
Tem cicatriz que demora mas acontece; Tem ferida que não fecha nunca porque quando esta cicatrizando...abre novamente.
Lembro do pedacinho de um texto, do qual desconheço o autor:
“...Sou uma mulher cheia de cicatrizes e sou uma menina cheia de feridas abertas”.

Aterrisso. O barulhinho que parece com o de vapor, lembra que a sessão de duas horas daquele dia acabou e, da câmara hiperbárica vão saindo, com a ajuda dos enfermeiros senhores e senhoras, entre eles um quase centenário de noventa e quatro anos e um jovem aparentando menos de vinte anos.
Alguns mais entusiasmados, outros nem tanto, mas ao longo das sessões que podem durar dez, vinte, trinta ou quarenta dias, todos esperam pelo mesmo 'milagre', digamos assim, todos anseiam por uma belíssima CICATRIZ.

*Conto real, filosofando com meus botões na sala de espera no inverno de 2010.

 

   
Publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição Especial - Maio de 2015