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Renata Emily Fonseca Rodrigues
Paraty / RJ

A menina da lanterna azul

Reza a lenda que na BR 101, no trecho entre Angra dos Reis e Paraty perambula uma menina de uns doze anos, cabelos pretos e olhos castanhos claros, com uma lanterna de farol azul na mão, que pede auxílio aos motoristas que transitam nesta rodovia.

Um sobrevivente ao anjo demoníaco do asfalto nos contou com detalhes sua macabra experiência de sobrevivência a essa estranha menina.
Então a partir daí fizemos esse conto para alertar os futuros condutores solidários e desprevenidos, porque aquele ditado faz efeito e deve ser aplicado se você quiser se livrar damorte: “Quem vê cara não vê coração"

Tenho acompanhado nos jornais, notícias de mortes misteriosas de motoristas, e às vezes famílias inteiras no trecho descrito, e suponho que nossa personagem principal tenha sessenta por cento de culpa no cartório quanto a essas tragédias.Sei que está curioso(a) para saber o que o aposentado Sr. Benedito , nos relatou, portanto vou narrar:

- Peguei a estrada numa terça-feira às quatro da manhã, pois havia sido avisado  por telefone que o meu neto mais velho sofrera um acidente de moto, na rodovia BR 101 ao sair da casa danamorada, que reside no Perequê. Preocupado não pensei muito tomei um banho, troquei a roupa, passei a mão na carteira e fui rumo à Paraty saber notícias do meu neto.

Duas horas depois, ao chegar num local chamado Sertão do Taquari, avistei uma menina se arrastando de dentro de um matagal, e parei o carro no acostamento para ajudar. Mal sabia que a minha agonia ali seria espantosa e iria começar.

Ao levantar a menina vestida com uma roupa branca, de cabelos um pouco desgrenhados, com o canto da boca sangrando, e que chorava bastante a levei ao carro para  ajudar, tirá-la dali, e fui perguntando o  que ocorreu.

Bastante trêmula ela me relatara que pegou uma carona no dia anterior às vinte e uma horas, com um colega de curso ao sair do Shopping Piratas em Angra dos Reis, e o rapaz mal intencionado levara-a para o mato, abusando dela sexualmente e fisicamente, além de levar seu celular, dinheiro e documentos.
Achei um pouco inusitada a permanência de uma menina de doze  anos desacompanhada dos pais, num shopping em plena quinta-feira, à noite,e num local tão distante. Já que me revelou que residia em Paraty, mas como sou humano e gosto de ajudar as pessoas, não relutei.

Muito penalizado entrei no carro, e decidi levá-la ao hospital de Paraty já que ia visitar o meu neto, depois ligaria para os seu pais, e a encaminharia a delegacia, porém a menina teve uma reação estranha tirou do bolso uma lanterna e apontou em minha direção, deste objeto saiu uma luz azul intensa, que foi me deixando fraco.

Nesse momento os olhos da garota foram virando, a íris sumiu, e surgiu daqueles globos oculares apenas a parte branca. Eu estremeci ,fiz o sinal da cruz , chamei em pensamento todos as proteções que conhecia para que intercedessem por mim.

Os dentes dela se transformaram em presas como as de um vampiro, as unhas ficaram grandes e aquele demônio veio em minha direção para atacar-me.... Pensei :

- Meu Deus o que vou fazer?

Me sentindo fraco e  aflito com a nova situação quase perdi a direção do carro, que atravessou a pista de mão única, e que  por essa razão me eram acionadas buzinas e lançados faróis de parcos carros que vinham na direção contrária.

Naquele momento estava claro para mim que a garota não tinha boas intenções, então lembrei que tinha uma corrente embaixo do banco do motorista, era do Jim, meu cachorro. Rapidamente peguei-a  passando pelo pescoço dacriatura mais horripilante que eu conheci em sessenta e cinco anos de vida.

Com essa ação tive um dos braços perfurados pelas unhas da garota tenebrosa, a blusa rasgada,e várias escoriações.Numa luta quase que mortal abri a porta e lancei-a numa curva em direção ao mar. 

Meu carro bateu num poste mais à frente, logo após a curva, e  com a cabeça sangrando ia perdendo os sentidos quando apareceram 3 pessoas e me colocaram num palio. Por sorte, destino ou sei lá o que me levaram ao Hospital D. Pedro - o mesmo em que o meu neto e o meu filho estavam, e assim pela graça de Deus me livrei da filha do demônio em pessoa.


   
Publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição Especial - Maio de 2015