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José de Sousa Magalhães
Piracuruca / PI

 

A donzela da caixinha de música

  Era Dezembro, o frio tomava de conta do ambiente sulista de Santo Ângelo, no Estado do Rio Brande do Sul. Uma das poucas regiões brasileiras onde se podia ter neve em certas épocas do ano. A família Alléncar era descendente de espanhóis e herdaram a casa de herança. Getúlio, Ananda e Havier compunham a família que moraria naquela residência a partir da li. O jovem rapaz, filho púnico, possuía vinte e dois anos de idade.
A família herdara a casa de Herrera Alléncar pai de Getúlio, o senhor de cento e dois anos de idade havia morrido há dois meses, no testamento do idoso, constava que a casa e todos os bens que nela tivessem, iriam para o senhor Getúlio.
_Vamos conhecer a casa pai!
Falava Havier bastante curioso.
_Calma filho. Teremos bastante tempo para isso.
Respondia o senhor.
O jovem Havier não demorou muito para ir investigar a casa sozinho. A casa era enorme, gostaria de saber cada detalhe que tivesse naquela casa, rapidamente subiu até o porão para olhar.
Além de muita coisa velha, Havier notou que bem ao centro do porão, iluminado apenas pela lua, pois no teto havia uma parte que expunha o céu, havia uma Caixinha de Música. Ficou encantado ao vê-la, preparava-se para coloca-la para tocar, quando sua mãe o chama.
_Havier! Venha jantar!
O jovem rapaz desiste, e desce para jantar.
_Mãe, lá no porão tem uma caixinha de música muito bonita.
_Era do seu avô, no estamento ele deixou bem claro que ninguém podia tocar nela.
_Mas por quê?
_Não sei, mas não deve ser nada demais, ele apenas estava com ciúmes dela talvez.
_Verdade. Mas depois irei vê-la novamente, me encantei por ela.
_Que loucura filho!
Disse Ananda sorridente.
No dia seguinte, um fiscal veio conferir se a casa estava realmente em condições de abrigar pessoas, sua missão era inspecionar toda a casa a fim de encontrar algum defeito, ou verificar se estava tudo em ordem.
Havier ainda estava dormindo quando houve os gritos de sua mãe. Desesperado, Havier corre em direção ao porão, de onde os gritos saíram, a cena era terrível. Sua mãe chorando quando se depara com o corpo do fiscal estendido ao chão já sem vida.
Minutos mais tarde, policiais e médicos vieram buscar o corpo.
_Mais que houve?
Indagou Getúlio ainda apreensivo.
_O homem teve um ataque fulminante. Sentimos muito por isso ter acontecido em sua casa.
Respondia um policial.
Havier ficou bastante intrigado pelo fato de o corpo do fiscal estar estendido próximo à caixinha de música. Teria isso alguma cos a ver?
_Tenho que ir até lá.
Havier apenas esperou os policiais irem embora para verificar a tão assustadora caixinha de música. Quando chegou ao porão, resolve ligar a caixinha. Nada aconteceu. A caixinha não tocou, mas uma neblina tomou conta do ambiente, e uma linda mulher pálida como a neve surge do nada.
_Quem é você?
Perguntou Havier assustado.
_Você consegue me ver?
Indagou a mulher.
_Claro! Não queria, mas consigo.
_Desde que fui amaldiçoada a ficar nesta caixinha de música, apenas duas pessoas conseguiram me ver. Ser avô e agora você.
_Amaldiçoada? Quem fez isso?
_Há muito tempo, sofri um acidente de automóvel, eu carregava esta caixinha comigo, iria dar de presente a minha filha. Estava com minha mãe no carro, ela conseguiu sobreviver, e fez uma magia negra para me aprisionar nesta caixinha, para que ela não me perdesse. Ela não tinha nenhuma ideia do que estava fazendo. Ela morreu faz muito tempo, e eu continuo aqui até hoje.
_Isso faz quanto tempo?
_Mais ou menos duzentos anos.
_Meu Deus!
Falou o jovem impressionado.
_Vai se assustar quando ouvir o restante. Quem liga esta caixinha e consegue ouvir a música, não consegue me ver, mas morre em seguida de um ataque cardíaco. Quem liga a caixinha e não ouve a música, pode me ver e não sofre nenhum ataque.
Explicava o espectro.
_Então por isso o fiscal morreu. Somente eu e meu avô não ouvimos a musica.
_Isso. Mas não podem fechar os olhos. Ou então você não passa a me ver mais, ouve a música e morre em seguida.
_Que incrível. Quando meu avô lhe encontrou?
_Isso faz muito tempo. Ele estava fazendo uma excursão pela cidade. Encontrou e fez o mesmo que você. Ficamos conversando por muito tempo, até que por acidente, sua esposa ligou a caixinha e morreu. Desde então, guardou a caixinha neste porão e não deixou ninguém entrar aqui.
_Tudo faz sentido agora.
A partir dali, todos os dias o jovem Havier ia conversar com a donzela da caixinha e música, o inverno passou rápido, depois a primavera e assim por diante. Ele se sentia bem ao estar com a mulher fantasma até que certo dia...
_Mãe! Onde está o pai, preciso muito falar com ele.
Disse Havier ao chegar da escola.
_Está no porão, acho que está procurando algo.
Respondeu sua mãe.
_No porão! A meu Deus! Disse ele gritando e correndo até lá. Era tarde demais. O corpo de seu Getúlio estava estirado no chão, havia morrido de um ataque cardíaco, ao lado, a donzela de branco chorava ao ver o corpo do senhor.
_Me desculpe. Eu não tive culpa.
Havier chora ao ver o corpo de seu pai estirado no chão. De repente, sua mãe adentra o porão, preocupada com a reação de Havier. Escuta a música da caixinha e cai no chão em seguida.
_Nãããããããaããõ! Grita o rapaz.
Seus pais haviam escutado o som da caixinha de música. Ambos estavam mortos.
_Desculpe. Você sabe que...
_Eu sei! Não se preocupe. Por ironia do destino, posso lhe ver e não sou afetado com essa maldição. Perdi meus pais, a coisa que eu mais amava neste mundo. Porém, também aprendi a amar você.
A donzela chorava ao ouvir a declamação do rapaz.
_Agora eu quero ficar com você para sempre. Dito isso o rapaz fecha os olhos e passa a ouvir o som da caixinha. Morre em seguida de um ataque cardíaco.
A partir de então, o jovem desaparece junto com a donzela da caixinha de música. A casa foi vendida pelo governo, outras pessoas passaram a frequentar a casa, porém, nunca mais voltaram ao ouvir aquela caixinha de música tocar novamente e nunca mais ninguém morreu por aquela caixinha.


   
Publicado no livro "Contos Fantásticos" - Edição Especial - Maio de 2015